Ao lado do Dia das Mães, do mês das flores, das aparições de Fátima e da abolição da escravatura no Brasil celebramos em Roma o jubileu de 75 anos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro. Os países da América Latina já tinham em Roma seu centro de acolhimento para seminaristas e sacerdotes escolhidos para uma formação especial. O episcopado do Brasil quis um colégio para os jovens e padres brasileiros. Assim, em 1934, com o apoio do papa Pio XI abriram-se as portas para os estudantes eclesiásticos do Brasil, entre os quais o primeiro bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul, Dom Alberto Frederico Etges.

O Pio Brasileiro é um pedaço do Brasil em Roma. Aliás, nas várias universidades de Roma, há cerca de 15 mil estudantes, entre seminaristas e padres, procedentes de mais de 100 países. Fazem parte do ambiente pluri-cultural da Cidade Eterna.

O Pio, como o Colégio é chamado carinhosamente por nós, já acolheu mais de 1.900 alunos, dos quais 134 são bispos, cinco são cardeais e muitos lecionam nos institutos de filosofia e teologia ou são formadores nos seminários brasileiros.

Durante os 10 anos que morei no Pio Brasileiro e freqüentei a Universidade Gregoriana (1955-1964), a língua que se falava em aula era o latim. Por sinal, para nós que estudamos latim no seminário, era fácil entender, escrever e falar a língua de Cícero.

A adaptação à cultura local reservava surpresas. Lembro de dois fatos pitorescos: Surgiu o boato no Pio de que o Irmão Zandoná, coordenador da cozinha, servia carne de cavalo (fiambre). Isto não era costume no Brasil. A turma decidiu não comer, enquanto não se esclarecesse a questão. Como eu era amigo do irmão jesuíta, avisei-o da situação. Prontamente ele entrou no refeitório e falou aos 120 grevistas: “Filioli (filhinhos), eu sou brasileiro do Rio Grande do Sul. No meu Estado, o cavalo goza de grande estima. Acima dele, só a família. Então, vocês acham que eu, brasileiro e gaúcho, serviria a vocês carne de cavalo”? Todos bateram palmas e comeram com apetite os frios. Na cozinha, o Irmão disse: “O que eu iria dizer, não é”?

O Pio Brasileiro fica na Via Aurélia, o caminho da Universidade e passa ao lado do vaticano. Certo dia, um colega do Mato Grosso se entusiasmou numa audiência com o papa Pio XII e começou a gritar: “Santo Padre, Mato Grosso; Santo Padre, Mato Grosso”! Foi preso pela Guarda Suíça e solto mais tarde. Ele não sabia que “matto”, em italiano é “louco” e que “mato grosso” significa “louco varrido”! Explicamos aos guardas que ele era brasileiro.

Ao celebrarmos o jubileu do nosso colégio em Roma, peço a Deus que abençoe os que hoje moram no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, para que se preparem bem para o ministério no Brasil.

Dom Aloísio Sinésio Bohn

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