Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

 

Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 

Sementes de Esperança 

 

No dia 1º de setembro de 2025, celebramos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, uma ocasião singular em que a Igreja nos convida a refletir profundamente sobre a responsabilidade que temos com a preservação da nossa casa comum. Este ano, o tema é “Sementes de Esperança”, uma metáfora que nos lembra que mesmo diante das crises ambientais, sociais e humanas, sempre podemos plantar gestos de vida, paz e futuro. Nesse dia começa o tempo da criação que, em algumas tradições orientais, é o início do ano e também recorda a criação. 

Vivemos um tempo especial na história da Igreja, marcado pelo Jubileu “Peregrinos de Esperança”, proclamado pelo Papa Francisco e levado adiante pelo amado Papa Leão XIV. Este Ano Santo nos convida a uma renovação espiritual e à prática concreta do amor, da justiça e da misericórdia. Não se trata apenas de um tempo simbólico, mas de um chamado à conversão profunda do coração, à mudança de atitudes e à responsabilidade pessoal e comunitária. Cuidar da criação é, ao mesmo tempo, um ato de fé e um gesto de amor pelo próximo, pois a Terra não é apenas um recurso, mas o dom que Deus confiou à humanidade. 

O Papa Leão XIV, em sua mensagem para este Dia Mundial de Oração pela criação, nos recorda que cada ação de cuidado com o meio ambiente, ainda que aparentemente pequena, é uma semente de esperança. Tal como a semente que precisa ser semeada, regada e protegida para germinar e frutificar, nossas atitudes de respeito à criação têm um efeito que transcende o tempo e o espaço. Cada gesto de preservação, cada iniciativa em favor da vida, da água, do ar limpo e da biodiversidade é um testemunho concreto da fé que professamos. 

Como Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, testemunho diariamente os desafios que nos cercam: a degradação ambiental, a violência urbana, a desigualdade social, a pobreza e o descuido com a vida humana e com o planeta. Não podemos cuidar da criação enquanto fechamos os olhos para aqueles que sofrem. A verdadeira fé se manifesta quando conjugamos amor a Deus, cuidado com a criação e serviço ao próximo. Não há cristianismo autêntico que ignore a responsabilidade social e ambiental. Teremos vários atividades em nossa arquidiocese por essa ocasião, assim como já tivemos eventos ligados à COP 30. 

Durante este Jubileu, convido todos os fiéis a refletirem: quais sementes estamos plantando? Quais frutos nossas ações estão produzindo? Não podemos limitar-nos a boas intenções; é necessário agir de forma concreta. Devemos rever nossos hábitos de consumo, valorizar a simplicidade, reduzir desperdícios, proteger rios e florestas, promover políticas públicas sustentáveis, incentivar a educação ecológica e formar nossos jovens para uma consciência de cuidado integral da criação. 

A metáfora da semente nos lembra ainda que os resultados nem sempre são imediatos. Muitas vezes, nosso esforço parece pequeno diante da magnitude dos problemas. Mas, como nos ensina a fé, Deus faz germinar aquilo que é bom e justo, mesmo quando não vemos imediatamente os frutos. A esperança cristã não decepciona; confiar no Senhor significa acreditar que nossas ações, por menores que pareçam, podem transformar realidades e inspirar outros a agir. 

É importante compreender que o cuidado da criação é uma dimensão de nossa conversão pessoal e comunitária. Orar e agir devem caminhar juntos. O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação não deve ser apenas simbólico. Nossas comunidades, famílias e cada fiel são chamados a incorporar essa consciência no cotidiano, tornando o respeito ao planeta parte do estilo de vida cristão. Devemos ensinar às crianças a valorizar a criação, animar os jovens a engajar-se em práticas sustentáveis e incentivar os adultos a assumir responsabilidades concretas. 

O Jubileu “Peregrinos de Esperança” nos lembra que não caminhamos sozinhos. Somos parte de uma comunidade universal, unidos na fé e guiados pelo Papa Leão XIV. Suas palavras nos desafiam a assumir responsabilidades, plantando sementes de vida, de amor e de justiça. Cada gesto, por menor que seja, é um testemunho de fé e esperança, capaz de gerar transformação. 

Convido todos a refletirem sobre os desafios ambientais e sociais do nosso tempo e a adotarem uma postura ativa e consciente. Que nossas ações sejam coerentes com a fé que professamos. Que o cuidado da criação seja sempre uma expressão concreta do Evangelho, irradiando justiça, compaixão e solidariedade. Que nossas sementes de amor e responsabilidade cresçam, floresçam e deem frutos que beneficiem a vida de todos, especialmente das futuras gerações. 

Em meio às crises, às injustiças e aos desafios, sejamos perseverantes. Semear esperança é confiar na providência divina, acreditar que o Senhor, rico em misericórdia, fará frutificar todo gesto de amor e cuidado. Que este Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação nos desperte para a conversão ecológica e nos leve a viver a responsabilidade com o planeta como um compromisso sagrado e diário. 

Que cada gesto, cada iniciativa e cada oração se transformem em sementes de vida, paz e esperança para o mundo.  

 

 

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