A Cartilha de Orientação política em vista das eleições 2018

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

Dentro do calendário eleitoral 2018, estamos no período das convenções para escolha dos candidatos que se estenderá até o dia 05 de agosto. Os partidos definem os seus candidatos. É importante o conhecimento dos candidatos, dos partidos, os seus programas que defenderão junto à sociedade. A Igreja tem a sua palavra, a sua posição que é importante conhecê-la sempre mais.

Produzida pelo Regional Sul 2, Paraná, temos uma cartilha de orientação política que está entre nós de modo que é fundamental a leitura e o debate nas famílias, nas comunidades e na sociedade, bem como nas pastorais, movimentos, serviços, meios de comunicação social. Ela tem presente a palavra de Deus dada por São Paulo aos Romanos: “Alegres por causa da esperança” (Rm 12,12). Inicialmente, ela coloca a palavra do Papa Francisco que diz que necessitamos de ter bons políticos que possam antepor o bem comum aos seus interesses privados, discurso feito do aos políticos latino-americanos, em dezembro de 2017. A premissa do documento é a evangelização, missão da Igreja, pelo fato da Igreja não se identificar com nenhuma ideologia ou partido político, de modo que a cartilha é um subsídio destinado a eleitores e candidatos, grupos, comunidades e os meios de comunicação social. Quando a Igreja fala de política, compreende-a no sentido amplo do termo, pois a política tem a ver com os valores da paz, da justiça, do amor, no cuidado das pessoas seja da cidade, seja do campo, sobretudo dos pobres e da humanidade. Nós sabemos que a Igreja é orientada pelo evangelho de Jesus Cristo, enviado do Pai que movido pelo Espírito Santo evangelizou os pobres, curou os doentes, ressuscitou os mortos, expulsou os demônios e anunciou o Reino de Deus a todas as pessoas.

Na primeira parte colocam-se preocupações como a crise ética onde se tem presentes a necessidade das pessoas serem justas, honestas, respeitosas com os seus semelhantes. No Brasil são diversos os relatos de crise ética porque ouvimos quase que diariamente, pelos noticiários regionais e nacionais, relatos de corrupção, sobretudo no mundo político e empresarial. O interesse pessoal e corporativista tem prevalecido sobre o bem da coletividade. O artigo 37 da Constituição coloca como dever do servidor publico, a obediência aos princípios da legalidade, moralidade, eficiência. Se não houver o bem comum sobre o pessoal, tudo se torna uma ameaça à democracia, porque práticas ilícitas por parte de governantes seja no Legislativo, seja no Executivo constituem uma ameaça à democracia. Quando isso ocorre, o servidor publico não é mais representante do povo, do bem comum, forjando leis para o seu beneficio próprio ou de seu grupo, partido. Deste modo os recursos públicos que deveriam ser usados para o bem comum, como educação, saúde, estradas, casas, etc. são destinados para privilegiar alguns, sejam pessoas, sejam instituições. Neste sentido a compra de votos à uma ameaça à democracia. Os candidatos oferecem benefícios que não lhes pertencem. Por isso a eleição que está se aproximando deve-se discernir bem para que não se vendam os votos e as pessoas não compram os votos. A Igreja insiste muito neste ponto para que seja limpa, democrática, sem compra ou venda de votos. A corrupção não é o caminho da democracia, pois faz as pessoas comprar votos, e essa pessoa continuará praticando a corrupção para a recuperação dos gastos feitos. Assim o eleitor não pode vender o seu voto ou trocar por algo que o beneficia, sendo assim um eleitor corrupto. Por isso vamos ser defensores da democracia. Para isso é necessário que o candidato que concorrerá seja pesquisado se é a favor da democracia, tem ficha limpa no passado, não seja alguém que esteja sendo julgado em segunda instancia colegiada. A CNBB insiste muitos nesses pontos, para que tenhamos uma eleição conforme os princípios éticos e democráticos, do bem público, do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

A cartilha insiste também que o roubo e o desvio de verbas, que são recursos públicos levou o pais, que é o Brasil à uma crise ética, econômica e social. Por isso faltam recursos para a educação, saúde, segurança, moradia e alimentação. Quem é mais sofre nesta situação? Não são os ricos, mas os pobres, os necessitados dos serviços públicos. Se no geral, há descrédito na política e nos políticos, encontramos também pessoas boas na política e políticos bons. Se a gente olhasse os depoimentos das pessoas que falam do Brasil que se quer para o futuro, que na realidade deveria ser já no presente, todas elas falam praticamente de políticos novos, de superação do descrédito da política e dos políticos, da atenção das autoridades para com os pobres, aqueles que querem trabalhar a terra para ganhar o sustento de cada dia. Todos buscamos pessoas novas, vida nova pela política. Por isso a CNBB não deixa de colocar que há um divórcio entre o mundo político e a sociedade brasileira que é grave (Nota da CNBB, 26 de outubro de 2017). Muitos políticos vivem longe do povo, não conhecem a historia das pessoas, dos pobres, do povo da cidade e do campo, como ultimamente em nossa região um candidato à presidência da república defendeu a opressão militar que eliminou 19 agricultores sem terra e foi aplaudido por muitas pessoas. Esses políticos necessitam de uma real conversão e também os eleitores precisam discernir os candidatos que vão trabalhar pelo povo pobre, simples, operário e operária, homem e mulher do campo, da periferia e dos centros urbanos, indígenas, ribeirinhos.

Alegres por causa da esperança (Rm 12,12) sendo o titulo da cartilha coloca a importância da esperança cristã que faz acreditar num futuro com mais ética, justiça social, amor de verdade à causa do Reino. A população está ansiosa e quer mudanças constantes. Quem sabe será a oportunidade de uma nova geração de parlamentares, de governantes, de pessoas que serão bem eleitas pelo povo e governarão bem a nação, dando atenção às prioridades nacionais, superando a corrupção e interesses pessoais. Sabemos da importância da Ficha Limpa, que torna inelegível a pessoa por oito anos por causa da corrupção, é efetiva, barra um grande numero de candidatos não idôneos aos cargos públicos e federais. É claro que o grande protagonista das mudanças desejadas no Brasil é o povo, somos nós nos quais devemos trabalhar para que a política seja o bem comum para todos nos quais o Senhor Deus criou-a para que haja a superação da morte, isto é a vida, dom de Deus e missão de toda a humanidade.

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