A violência nasce da desesperança, dos caminhos fechados, da falta de oportunidades para crescer e construir uma vida digna a partir do estudo, do aprendizado, de uma
profissão, da disciplina e do sacrifício para conseguir uma família, ter casa para abrigá-la, gerar filhos, educá-los.
Assistimos a um crescer sem fim da violência em nossas cidades, inclusive em Salvador, trazendo luto, desespero, desilusão, desconfiança, insegurança, medo. A violência, no fundo, é reação a problemas não imediatamente percebidos.
A raiz da violência, a mais difícil de ser reconhecida, está no modo de tratar o outro a partir do próprio interesse, sem considerá-lo na sua realidade pessoal, sem respeitá-lo na sua dignidade própria. Não se preocupa com o destino do outro, não se interessa pelo seu bem, dá sempre a precedência ao próprio interesse, conveniência e vantagem.
Na origem da violência há, portanto, histórias de desrespeitos, de frustrações, de humilhações, de negativas que fecham os caminhos para a realização de projeto de vida pessoal e familiar positivo, construtivo para a pessoa e para a sociedade. Desse modo acumulam-se tensões que poderão explodir quando menos se espera.
Dificilmente podemos avaliar o poder “educativo” dos debates no Congresso Nacional, nos meios de comunicação e, muitas vezes, nas escolas para defender o aborto, o uso de células tronco, a legitimidade da eutanásia. Forma-se, especialmente nas gerações mais jovens, a consciência de que se pode eliminar a vida humana quando se torna peso, quando atrapalha o próprio sonho de felicidade. Matar pai e mãe, jogar pela janela a própria filha, abandonar recém-nascidos em depósito de lixo, nas portas de edifícios torna-se possível. Recentemente, uma mãe jogou a filhinha pela janela no Paraná e, ao ser presa, disse ao repórter: “queria livrar-me desse pacote”.
O noticiário de jornal e televisão nacional, cada dia, mostra figuras das mais altas esferas dos poderes públicos que cometem falcatruas, que se enriquecem com o dinheiro público e que continuam sorridentes, livres, impunes, vitoriosos, com seu poder e prestígio como se nada disso fosse anormal. É evidente o extraordinário poder que tais fatos têm para desestimular no cidadão comum, especialmente nos mais jovens, atitudes de honestidade e de sacrifício para conduzir com dignidade sua vida apertada.
Há políticas públicas que incentivam visão banal da vida, como um jogo que não exige responsabilidade. Será que a oferta de camisinhas nas escolas públicas vai melhorar os níveis de aprendizado dos nossos adolescentes, que já foram avaliados entre os mais baixos do continente? Certamente não estimulam a elaboração de projeto de vida que exija disciplina e sacrifício. Certas práticas estimulam e fazem crescer a percepção do encontro com outra pessoa como momento de lazer, instrumento da própria satisfação. Não é boa base para enfrentar de maneira positiva e sábia os desafios da idade adulta.
O mundo das drogas oferece ganhos fáceis, o poder de usar armas a quem sempre se viu humilhado, é caminho rápido para conseguir tudo que parecia inatingível. Oferece também balas a bom preço, para matar e para morrer, um jogo a mais nesse horizonte sem ideal de vida e sem objetivos para construir, na dignidade e na paz, a própria existência, a própria família e a sociedade.
Os governos devem se interessar pela educação dos menores, dos jovens e do povo em geral, não pelas facilidades deformadoras da vida, mas pelo estímulo a fim de que todos tenham motivos para elaborar um projeto de vida digna e de crescimento no bem e na paz para si e para a sociedade.
É imprescindível propor os princípios e os valores que possam sustentar uma sociedade digna do homem. Entre os princípios, o da solidariedade em certa medida compreende todos os demais. Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa é necessário revalorizar o amor na vida social – no plano político, econômico, cultural -, fazendo dele a norma constante e suprema do agir.
Nós cristãos cremos que o amor de Cristo que infunde em nossos corações, que procuram o seu seguimento, nos fará reanimar a cidade aterrorizada, dar-lhe alma de fé e coração que comunica a paz.