Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
“Na esperança somos salvos” (Rm 8,24). Esta é a formulação central da esperança cristã. A perícope toda fala do que nos espera e do que nós esperamos, com mãos estendidas. Diz Paulo, “toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8, 22). Vivemos uma realidade transitória, portanto menos importante, diante do que aguardamos, o que nos espera. Esta certeza é determinante no nosso caminhar. “O presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceito, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (Bento XVI, Spe Salvi, 1). E o qualificativo do nosso caminhar é a fé em Jesus Cristo, que morto e ressuscitado, está junto de Deus. O seguimento de Jesus Cristo é a construção de uma vida com ele e com a esperança nele. É a fé que temos que nos confere a certeza do futuro. “A fé confere à vida uma nova base, um novo fundamento, sobre o qual o homem se pode apoiar, e consequentemente, o fundamento habitual, ou seja a confiança na riqueza material, relativiza-se” (Bento XVI, Spe Salvi, 8). Este modo de viver se contrapõe ao materialismo que compreende a vida que se limita a este mundo, ao que podemos conseguir de felicidade aqui e agora.
Quem caminha na vida voltado para fora de si, tendo o horizonte da vida em Cristo e nos irmãos, terá mais facilidade de ver a continuidade da sua vida em Deus. A vida eterna é a vida de Cristo, que voltando ao Pai, após sua ressurreição nos indica o caminho. Nele somos enxertados, qual ramo ao tronco, para vivermos dele toda a vida. “Se já morremos com ele, com ele viveremos” (2Tm 2,11). Com nossa morte, a vida não termina, mas continua em Deus. Só temos uma vida, recebida sempre como dom de Deus, imortal, que não se conclui com a morte, mas se abre para uma nova realidade. “O cristão que une a sua própria morte à de Jesus, vê a morte como um caminhar ao seu encontro e uma entrada na Vida Eterna” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1020). O específico da morte cristã é que caminhamos para Deus, que nos aguarda sempre, para estar com Ele.
A vida eterna é o nome que damos a esta realidade de nossa única vida que continua em Deus. Significa que nunca mais retornaremos a viver a vida humana, na terra. Não teremos outra oportunidade, na terra, para fazer o bem aos nossos irmãos e irmãs. E, mais, o grande critério para vivermos a vida eterna em Deus, o “vinde a mim” que Jesus pronuncia (cf. Mt 25), é a vivência da caridade, a misericórdia. De fato, a fé, que nos salva, se torna concreta e operosa nas suas obras, no bem que faz. Não são somente ideias que fazem a vida ter sentido para um dia estar com Deus, mas o cotidiano, suas ações. Embora Deus queira salvar a todos, no entanto, precisa do sim dos homens, de maneira pessoal, para que tenham a acolhida nele. A Igreja, ao rezar pelos falecidos e suplicar a intercessão dos santos, reconhece que todos os que já estão junto de Deus formam conosco uma grande família. Os que vieram antes e já estão junto de Deus são a única Igreja de Cristo no mundo e na eternidade.
A segurança da vida que se torna plena em Deus, faz com que relativizemos o tempo presente, sobretudo quando olhamos que cada dia nos prepara para o “grande encontro” para a vida eterna. Não deixemos de viver a caridade com os mais pobres, que nem sempre são os mais santos. As mãos estendidas são o “passaporte” para a vida eterna em Deus. Não é uma quimera ou uma alienação a vida de fé. Ela faz com que a olhemos, com os irmãos e o mundo como parte de nós, tendo Deus como Pai. O céu, o inferno e o purgatório são pontos centrais de nossa fé. Nos ajudam a manter o olhar e os corações ao alto.