Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Com o dia dos pais, no Brasil comemorado no segundo domingo de agosto, a Igreja Católica celebra a Semana Nacional da Família, que rememorando os 25 anos da Campanha da Fraternidade de 1994, tem como tema: “A Família, como vai?”

“A família, como vai?” indica a necessidade de a família vivenciar uma profunda experiência de Jesus e da sua Palavra para conseguir vencer os desafios e dificuldades que encontra em seu caminho, e assim compreender seu papel evangelizador na Igreja e na sociedade. Rememorando a Campanha da Fraternidade de 1994 e ver o quanto a Pastoral Familiar já cresceu, percebe-se que a família busca e precisa aprofundar cada vez mais a sua missão na Igreja e na sociedade para conquistar um papel decisivo e central. Esse desejo de estar no centro das ações eclesiais deve ser levado em conta nesta Semana Nacional da Família ligando-o à Iniciação à Vida Cristã, às Políticas Públicas, ao envolvimento com as questões contemporâneas da vida urbana e à missão em meio a outras famílias.

Não podemos deixar de refletir nesta semana temas fundamentais sobre o papel fundamental da Família na Igreja e no mundo como: vocação e juventude; Família e Políticas Públicas; Família, defensora da vida; Matrimônio e Família no plano de Deus, e o tema central: A família, como vai?

Depois de um Sínodo sobre a Família que discutiu os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, é urgente encontrar meios eficazes para acompanhar os casais e as famílias afastadas da comunidade eclesial, como também manter viva a fé e o compromisso dos que já vivenciam a vida comunitária.

Sobre a importância da família vale a pena relembrar as sábias palavras do Papa Francisco: “Vós, queridas famílias, sois a grande maioria do povo de Deus. Que fisionomia teria a Igreja sem vós? Foi para nos ajudar a reconhecer a beleza e a importância da família, com as suas luzes e sombras, que escrevi a Exortação Amoris laetitia sobre a alegria do amor, e quis que o tema deste Encontro Mundial das Famílias fosse «O Evangelho da família, alegria para o mundo». Deus quer que cada família seja um farol que irradia a alegria do seu amor pelo mundo. Que significa isto? Significa que nós, depois de ter encontrado o amor de Deus que salva, procuramos, com palavras ou sem elas, manifestá-lo através de pequenos gestos de bondade na vida rotineira de cada dia e nos momentos mais simples da jornada. Isto quer dizer santidade. Gosto de falar dos santos «ao pé da porta», de todas aquelas pessoas comuns que refletem a presença de Deus na vida e na história do mundo (cf. exortação apostólica Gaudete et exsultate, 6-7). A vocação ao amor e à santidade não é algo reservado para poucos privilegiados. Mesmo agora, se tivermos olhos para ver, podemos vislumbrá-la ao nosso redor. Está silenciosamente presente no coração de todas as famílias que oferecem amor, perdão e misericórdia, quando veem que há necessidade, e fazem-no tranquilamente, sem tocar a tromba. O Evangelho da família é, verdadeiramente, alegria para o mundo, visto que lá, nas nossas famílias, sempre se pode encontrar Jesus; lá habita, em simplicidade e pobreza, como fez na casa da Sagrada Família de Nazaré”.

(https://noticias.cancaonova.com/encontro-mundial-das-familias/encontro-mundial-das-familias-2018/discurso-papa-francisco-na-festa-das-familias-em-dublin/, último acesso em 05 de agosto de 2019.)

O Papa Francisco dá a receita para o sucesso da família: “O matrimônio é algo tão lindo, tão formoso, que temos que cuidá-lo porque é para sempre e as três palavras para isso são: com licença, obrigado e perdão. 1. Com licença: Sempre perguntar ao cônjuge, a mulher ao marido e o marido à mulher: O que você acha, parece-lhe bem que façamos isto? Com licença… nunca atropelar….2. Segunda palavra: ser agradecidos. Quantas vezes o marido tem que dizer à mulher, obrigado; e quantas vezes a esposa têm que dizer ao marido, obrigado. Agradecer-se mutuamente porque o sacramento do matrimônio confere os esposos um ao outro. E esta relação sacramental se mantém com este sentimento de gratidão…Obrigado…3. A terceira palavra é perdão: É uma palavra muito difícil de pronunciar. No matrimônio sempre, ou o marido ou a mulher sempre têm algum erro. Saber reconhecê-lo e pedir desculpas, pedir perdão, faz muito bem. Há jovens famílias, recém-casados, muitos que já estão casados, outros estão por casar-se. Recordem estas três palavras que ajudarão tanto à vida matrimonial: Com licença, obrigado, perdão. Repitamos juntos: Com licença, obrigado, perdão. Mais forte, todos: Com licença, obrigado, perdão. Bom, tudo isto é muito lindo, é muito lindo dizê-lo na vida matrimonial, mas sempre há na vida matrimonial problemas ou discussões. É habitual e acontece que o marido e a esposa discutem, elevem a voz, briguem. E que às vezes voem os pratos (risadas), mas não se assustem quando acontece isto, dou-lhes um conselho, nunca terminem o dia sem fazer as pazes E sabem por que? Porque a guerra fria ao dia seguinte é muito perigosa. ‘E como tenho que fazer Padre, para fazer a paz?’ Pode perguntar algum de vocês. Não precisa um discurso, basta um gesto (O Papa se toca a cara duas vezes e o repete), e se acabou, já parece a paz. Quando há amor um gesto ajeita tudo.” https://cleofas.com.br/em-cracovia-o-papa-francisco-oferece-3-conselhos-para-um-matrimonio-feliz/, último acesso em 05 de agosto de 2019.

Vamos, nesta Semana Nacional da Família, alicerçados pela Palavra de Deus e pela vivência dos sacramentos, com a devida transmissão da fé aos filhos e netos, testemunhar a alegria do Evangelho professando um amor que tudo acolhe, perdoa e santifica o matrimônio cristão. Participemos em nossas Paróquias e comunidades das atividades programadas e vamos refletir sobre a importância da família. Num mundo cada vez mais secularizado a valorização do sinal sacramental da família é alento e esperança para a continuidade da humanidade.

Além da missão da Pastoral Familiar ter sua finalidade ao interno de nossas comunidades, assim como os vários movimentos familiares ou de casais procurarem formar a família ou o casal, esta semana é um desafio para que a Igreja, unida, pastoral e movimentos, reproponha ao mundo a beleza e a unidade da família da qual depende o futuro da humanidade para lembrar a famosa frase de São João Paulo II. Ao fazer memória da Campanha da Fraternidade sobre a família somos chamados também a fazer um “balanço” sobre o que sucedeu nestes 25 anos. Se os verdadeiros valores da família progrediram e ajudaram a construir um mundo mais fraterno ou solidário. Infelizmente a cultura dos tempos atuais tem sido bem contrário à vida familiar cristã.

A família sempre se renova na oração, na vida eclesial, na santificação do lar e no testemunho edificante de pais que santificam seus filhos pela palavra de Deus e pelo exemplo de vida. Pautemos a nossa vida pelos valores do Evangelho que santifica e vivifica a vida matrimonial.

Cumprimento a cada pai e mãe pelo seu sim, pela sua vocação matrimonial, grande tesouro da Igreja e da humanidade. Um matrimônio aberto aos filhos e que se santifica no dia a dia pela partilha da Palavra de Deus, pela oração em família, pelo agradecimento da alimentação diária, pelas alegrias e tristezas que a vida matrimonial apresenta como desafios. Mas a Sagrada Família é o modelo para a vivência matrimonial e para a educação dos seus filhos. Peçamos para que Jesus, Maria e José abençoe a todas as nossas famílias e que as famílias continuem sendo santuário da vida e da esperança. Deus abençoe a todas as famílias.

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