A Violência e a Campanha

Ao nos aproximarmos um pouco mais do início da Campanha da Fraternidade deste ano, alguns aspectos que a mesma levanta já fazem parte do cotidiano de nossos noticiários.

Uma das questões colocada sobre a violência em nossa região metropolitana é a idade jovem dos que cometem crimes e que estão presos. Não é necessária uma estatística oficial de contagem dos mesmos, pois basta uma visita geral em nossos presídios para constatarmos onde está grande parte da juventude. )

Supondo que nem todos estão detidos, pois uma grande parte continua cometendo crimes e estão foragidos, e, sabendo que a média de idade é entre 18 a 29 anos, podemos aumentar ainda mais nossa estatística.

Outros dados que são importantes é também o número de crianças e adolescentes privados de liberdade atualmente e a outra parte que continuam cometendo atos infracionários e estão em liberdade.

Uma parte dos detidos é provisória por não ter sido julgada (vamos ver como as coisas ficam depois das decisões do Supremo Tribunal) e, infelizmente, nosso sistema carcerário dispõe de poucas possibilidades de trabalho para ocupar o tempo dessas pessoas.

Outro dado é que, além das novas unidades prisionais que estão sendo feitas, o presídio feminino aumentou, ocupando o local vizinho antes destinado a uma experiência de outro tipo de prisão, demonstrando que também o índice aumenta entre as mulheres.

Conviver com a criminalidade não é apenas privilégio dos bairros mais carentes e periféricos – a criminalidade está em todos os cantos e pelas ruas, casas, condomínios e prédios tanto aqui como pelo Brasil afora. Não podemos nos esquecer de que a violência é também enfocada pelas notícias que vêm do exterior, de países tidos como socialmente justos e com população controlada e orientada.

Atrás de cada ato de um desses homens ou mulheres estão também muitos outros grupos, famílias, pessoas que se sentem machucadas por aquilo que sofreram em certo momento de suas vidas, algumas vezes destruindo suas famílias e matando entes queridos. Atrás fica um grande grupo de pessoas marcado pelos crimes e às vezes com lesões físicas e psicológicas irreparáveis.

Cria-se um clima de medo e um instinto de defesa na vida de cada pessoa que se sente agredida pelo meio em que vive. Os ataques e acusações e respectivas respostas entre grupos, governo, pessoas se sucedem pela mídia e por cartas e declarações. Ninguém quer ser o culpado do que ocorre. Todos têm alegações que estão fazendo o máximo que podem e que a legislação permite para resolver a questão. E, muitas vezes, temos que concordar que realmente estão.

A violência levou a considerar a morte de pessoas como algo comum e normal a cada dia, com estatísticas alarmantes de nossa “verdadeira guerra civil” não declarada, que leva a dizimar mais pessoas que a maioria das guerras dos nossos atuais noticiários.

Estamos olhando a questão apenas por um dos prismas. Durante o tempo da Quaresma que se aproxima teremos ocasião de aprofundar a questão da família, do crime organizado, a questão social, da terra, da prostituição infantil, do trabalho escravo, dos meios de comunicação de massa, e tantos outros ambientes. Mas essa janela já é por demais alarmante para nós e supõe alguns passos concretos, como sempre tenho dito, a curto, médio e longo prazo.

Mas eu deixaria aqui uma pergunta que insiste em não sair do pensamento: qual a causa de tudo isso? Como pessoas inteligentes nós sabemos que não basta combater e tentar resolver as conseqüências (embora tenhamos também que fazer isso), mas teremos que enfrentar com sinceridade a questão do “por quê?” disso tudo.

É uma pergunta incômoda, pois aí não poderemos apenas apontar o dedo para outros, mas teremos que nos incluir também, e pior: teremos que reconhecer nossa culpa na direção que o mundo tomou. Sim, fomos longe nessa direção! Será que será possível uma mudança? O atual “salvador do mundo econômico” já sinalizou com o aumento do apoio para matar as crianças por nasce, e aqui no Brasil os deputados que trabalham pela vida estão sendo processados e expulsos pelo partido. Não temos valores para dar sentido à dor e à doença e é melhor matar de fome as pessoas sem aparente solução de doença e, em geral, essas idéias são simpáticas à mídia que, com isso, influenciam a mentalidade e cultura de hoje. Qual seria o papel da mídia com relação a isso e, principalmente com relação à violência hoje? Eis outro pergunta incômoda.

Temos também a solução de não deixar nascer mais pessoas para diminuir as necessidades como solução que os países ricos impõem aos países pobres ou em desenvolvimento, e assim também não terão mais pobres “batendo às suas portas”. Será esta a solução? Se assim fosse, os países de baixa densidade e com a maioria das questões sociais resolvidas já teriam zerado o problema da violência.

Existem outras necessidades profundas no coração do homem e que mesmo a busca verdadeira de Deus que nos criou e salvou podem resolver. Mas mesmo aí os fanatismos e fundamentalismos tentam desmentir esse caminho com seus exageros e caminhos errados que percorrem e que na disputa por prosélitos e na falta de respeito pelo outro credo acabam desencadeamento ódios, rancores e violências.

Está em nossas mãos uma busca de encaminhamento para o direcionamento para a biosfera desse nosso planeta. Está difícil concordarmos de maneira unânime sobre as causas e soluções. É o momento dos verdadeiros cristãos testemunharem pela vida e pelas palavras os encaminhamentos que, respeitando a diversidade de crenças, demonstrem que é possível viver num mundo mais justo e mais humano.

Espero que esta Campanha da Fraternidade que estamos por iniciar não conclua apenas com um belo gesto concreto em nossas comunidades, mas que leve a uma verdadeira conversão para que, como dissemos, a curto, médio e longo prazos, tenhamos um projeto de vida e sociedade em que todos possam se empenhar e assim construirmos o presente e o futuro de nossa nação.

Dom Orani João Tempesta

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