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Por ocasião do jubileu do ano 2000, o então Papa João Paulo II, num gesto de muito realismo e de sinceridade, pediu perdão ao mundo, por inúmeras atitudes reprováveis cometidas pelos filhos da Igreja. Ele se referia aos vinte séculos de cristianismo. Tal pedido de perdão abrangia a infeliz iniciativa da Inquisição, o acirramento de ódios das Cruzadas, o julgamento de Galileu, entre outros pontos de permanente fricção com a mentalidade moderna. O máximo que se pode fazer nestes acontecimentos históricos, é contar com a benevolência pública, disposta ao perdão,  e evitar que esses fatos se repitam para o futuro. O pedido de perdão se baseou em dois pressupostos. O primeiro é que a mentalidade daquela época era outra. Havia outros contextos históricos, outra filosofia de vida, outro horizonte de julgamento. Os atores daqueles tempos agiam de maneira errada, pensando que estavam acertando em cheio. O segundo pressuposto é este: o cristianismo e o poder civil da época ainda não haviam assimilado o alcance do mandamento da caridade, ensinado por Jesus. O que importa agora é crescer no entendimento desse mandato e praticá-lo melhor. “Senhor, perdoaste a culpa do teu povo” (Sl 85, 3).

Depois desse gesto de João Paulo II houve alguns momentos de silêncio, em todo o mundo. Parecia que o solene pedido do sucessor de Pedro, tinha se aninhado nos corações. Por um curto período as acusações ficaram suspensas. Mas atualmente tudo recomeçou. Parece até que a modernidade se esqueceu que tem pés de barro. Joga, com extrema autoridade, culpas na Igreja, inexistentes. Há poucos dias certo professor universitário – sabendo que havia católicos praticantes na sala de aula – acusou a Igreja Católica de ter feito “o maior derramamento de sangue da história”. Referia-se ao número incerto de vítimas da Inquisição. Não lembrou o caro mestre que só o nazismo (filosofia atéia), sacrificou mais de 60 milhões de pessoas na segunda guerra mundial. E a mais perversa de todas as filosofias, o comunismo (ateísmo crasso), imolou à ideologia mais de 50 milhões na Rússia, e outros tantos na China. Por favor, vamos trazer para o meio os assuntos de hoje, e não os de outrora, fora de nossa responsabilidade. Todos aguardamos a generosidade do perdão.

Dom Aloísio Roque Oppermann

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