Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Agora já não se trata apenas de um desejo da Igreja do Brasil, nem só de uma possibilidade. A Santa Sé confirma, pelas palavras do Cardeal Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, que Anchieta será canonizado pelo Papa Francisco no inicio de abril deste ano.
Será uma canonização “por decreto” do papa Francisco, sem a solenidade na Praça de São Pedro, como foi feito no caso recente de São Pedro Favre, primeiro sacerdote da Companhia de Jesus. Com Anchieta, serão canonizados também dois missionários: Dom Francisco de Laval, primeiro bispo do Canadá e de toda América do Norte, e Irmã Maria da Encarnação, uma missionária ursulina, também do Canadá.
Certo é que haverá varias solenidades após a beatificação; já se prevê uma solene ação de graças em Roma, possivelmente com a participação do papa Francisco, em data ser ainda fixada. E, no Brasil, não faltarão celebrações e manifestações de jubilo e ação de graças por este momento, tão longamente esperado. De fato a causa da canonização teve inicio já no século XVIII, sendo interrompida e longamente paralisada por várias circunstancias históricas por causa da injusta expulsão dos Jesuítas do Brasil e da posterior supressão da Ordem.
Anchieta é “o apostolo do Brasil”, assim já proclamado no seu funeral em 1597. Mas algumas cidades e Regiões do Brasil foram especialmente marcadas por sua ação missionária, como: Salvador, São Paulo, Santos e todo litoral paulista, Rio de Janeiro, Vitoria e Espirito Santo inteiro, Porto Seguro e o Sul da Bahia…
Sem esquecer, nem desmerecer o imenso trabalho missionário realizado no Brasil já no século XVI, também pelos outros missionários, também outras Ordens religiosas, podemos afirmas, sem medo, que a Igreja no Brasil e o próprio país devem muito a Anchieta; além de animador de missões já existentes, foi fundador de muitas iniciativas missionárias, educativas e sociais. Foi um homem de Deus que, apesar de sua saúde frágil, desempenhou uma atividade dinâmica e eficaz, percorrendo distâncias enormes para um doente, ou para visitar as comunidades e as missões; entre os índios no litoral paulista era conhecido como o “homem que voa”, por causa da agilidade com que se deslocava e se fazia presente em lugares diferentes em pouco tempo. No coração de Anchieta ardia o desejo, de levar a luz do Evangelho a todos, consciente de que é o bom caminho para cada homem.
È providencial que recebamos a noticia da canonização do Padre José de Anchieta neste tempo em que iniciamos a quaresma. “Converte-vos e crede no Evangelho” – este apelo, ouvido na quarta feira de cinzas, nos recorda que o Evangelho, ou seja, o próprio Cristo, centro do evangelho, é a referencia, a luz, o caminho, a norma para nossa vida humana e religiosa. Por outro lado, a santidade é o chamado que Deus faz a todos: “sede santos, porque eu, vosso Deus, sou Santo”. A santidade de vida consiste na comunhão e sintonia com Deus e, como consequência, a vida digna deste mundo e o amor vivido a exemplo de cristo.
“São” José de Anchieta viveu assim. E a Igreja o reconhece oficialmente e propõe a todos que façamos como ele fez. Do nosso jeito, é claro.