Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
A profissão de fé dos cristãos afirma que Jesus “ressuscitou ao terceiro dia”. Os textos bíblicos da liturgia, desde a Vigília Pascal, na oitava de Páscoa e de todo Tempo Pascal retomam, aprofundam e iluminam a inteligência para levar à fé de que Jesus “ressuscitou ao terceiro dia”. Este é o fato central ao redor do qual se desenvolve toda a vida cristã. Dois temas conexos se desdobram neste período: a) a existência e a fé das primeiras comunidades cristãs; b) as comunidades são sustentadas a partir dos vários e surpreendentes encontros com o Cristo ressuscitado. A união destes dois temas formam a Igreja, uma comunidade viva formada a partir da fé no Cristo vivo, ressuscitado.
O terceiro domingo do tempo da Páscoa relata o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús (Lucas 24, 13-35); o ensinamento de Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2,14.22-33) e a 1ª Carta de São Pedro (1,17-21) se direciona os recém-batizados sobre a fé e a esperança cristã. A fé é um caminho progressivo que nunca está pronto e nem é feito de forma isolada e está inserido na história. A sagrada Escritura recorre várias vezes à imagem do caminho como acontece nos textos deste domingo. Os discípulos de Emaús estão fazendo um percurso geográfico de Jerusalém a Emaús; psicologicamente estão tristes porque seus planos humanos foram frustrados com a morte de Jesus na cruz; quando reconhecem Jesus ressuscitado que caminha com eles passam da tristeza e decepção e seus corações se aquecem e voltam a Jerusalém. O ensinamento de São Pedro recorda os fatos da história vividos pelo povo de Israel até chegar em Jesus Cristo. A carta de São Pedro lembra que os batizados devem viver “respeitando a Deus durante o tempo de vossa migração neste mundo”. Todo caminhar é sustentado pela fé na presença viva de Cristo ressuscitado.
A narração de São Lucas do encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús é repleta de sabedoria e ensinamentos. Apenas um deles é identificado e o outro é anônimo. Isto faz com que o leitor sinta-se convidado a entrar na cena e acrescentar-se aos dois ou mesmo ser o discípulo anônimo. O fato acontece na tarde do primeiro dia da semana quando já corriam notícias que o túmulo estava vazio e o corpo de Jesus estava desaparecido e anjos tinham dito que Jesus estava vivo. Havia muitas perguntas sem resposta. Afinal, quem não tem dúvidas de fé?
Os discípulos de Emaús estavam não somente tristes, mas desesperados. Dizem que “nós esperávamos que ele fosse libertar Israel”. A perda da esperança se constitui a situação existencial mais dramática para o ser humano. Tudo cai por terra e o sentido da vida se esvai. Jesus os provoca a se expressarem. A resposta mostra que tinham grande admiração por Jesus que tinha fama de profeta, fez milagres, era estimado. Se tudo isto é verdade a respeito de Jesus, o problema está em que alimentaram uma esperança para uma situação política local. Criam uma esperança humana que os humanos podem realizar. Queriam que Jesus fosse o herói libertador do domínio império romano. As esperanças humanas sempre são limitadas e finitas.
Jesus ajuda os discípulos de Emaús a compreenderem os fatos que tanto os tinham decepcionado. “Será que Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória”. Os ensinamentos de Jesus conduzem os discípulos a amar o próximo. Os ensinamentos de Jesus respondem a uma pergunta que está muito além da capacidade humana que é a vida eterna, a ressurreição. São Pedro ensina que os batizados foram resgatados pelo ‘sangue de Cristo” e que “Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus”. É a grande esperança e ela não decepciona (Rm 5,1-6).