Por meio de notas, foi manifestada gratidão pelo testemunho de fidelidade ao Evangelho do cardeal
Após a notícia do falecimento do arcebispo emérito de São Paulo (SP), cardeal Paulo Evaristo Arns, ocorrido na última quarta-feira, dia 14 de dezembro, toda a Igreja no Brasil solidarizou-se com a perda e manifestou gratidão pelo testemunho de vida do cardeal da esperança. Sua atuação em favor dos mais pobres e na defesa dos direitos humanos e da democracia ganharam destaque nas diversas manifestações publicadas por arquidioceses, Pastorais e organismos vinculados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Em Minas Gerais, as arquidioceses de Belo Horizonte e Mariana destacaram o compromisso e a proximidade com os excluídos da sociedade. “Sua fidelidade ao Evangelho e seu amor à Igreja manifestaram-se de maneira exemplar no seu compromisso com os pobres”, afirmou o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha. O arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira Azevedo, sustentou que dom Paulo mostrou a coragem dos autênticos discípulos de Jesus, permanentemente a serviço do povo. “Assim, testemunhou a fé não somente a partir de palavras, mas com ações dedicadas à promoção e à proteção da vida”. O legado deixado pelo cardeal, segundo dom Walmor, é “o compromisso de firmarmos sempre os passos na fidelidade do que nos pede Cristo – a vivência da fraternidade e do amoroso serviço aos pequeninos da sociedade”.
O arcebispo de Aracaju (SE), dom José Palmeira Lessa, caracterizou dom Paulo como “um pastor zeloso, dedicado ao seu rebanho, que mostrou o rosto misericordioso de Deus”. Dom José também ressaltou “o testemunho de um homem que lutou incansavelmente para a construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária onde os direitos dos mais pobres pudessem ser assegurados”.
O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, chamou dom Paulo Evaristo Arns de “profeta da esperança”, por sua defesa dos mais pobres e necessitados e denuncia das injustiças, usando o evangelho como caminho de diálogo e de superação. Para dom Orani, o cardeal Arns “encarnou o evangelho da vida fazendo-se frade menor no meio dos menores e sempre foi uma presença luminosa nas periferias existentes em São Paulo. Combateu o bom combate, e permanecerá como exemplo de justiça e de misericórdia para a Igreja e para todo o Brasil”.
Motivador das Pastorais
A Pastoral da Criança, fundada pela irmã de dom Paulo Evaristo, a médica sanitarista Zilda Arns Neumann – falecida em 2010, no Haiti -, fez memória da influência do cardeal em sua criação. “Dom Paulo Evaristo Arns foi o grande responsável por semear a criação da Pastoral da Criança. Esta semente brotou em 1982, na Suíça, do encontro de dom Paulo com James Grant, diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), durante uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU)”, escreveu a Pastoral em nota.
“Além de toda a sua contribuição para a história da Pastoral da Criança, a vida de dom Paulo foi marcada por uma série de ações voltadas às populações mais pobres e necessitadas. Durante toda a trajetória na Igreja, foi um exemplo de que os ensinamentos cristãos se concretizam no contato com o povo, pelo viés da solidariedade, buscando a transformação das injustiças sociais”, lê-se no texto da Pastoral da Criança.
A Pastoral Carcerária também divulgou nota lamentando a morte de dom Paulo. No texto, o cardeal é chamado de “amigo dos pobres, amigo dos presos, profeta da Esperança!”. Recordando a renúncia ao governo arquidiocesano, há 20 anos, a Pastoral Carcerária reafirmou o compromisso de homenageá-lo com a imitação e continuação da vivência do seu amor para com todos os povos e todas as pessoas. “Que sigamos o seu exemplo de preocupação serena com a Igreja, com o país, com os pobres, com os que estão sendo excluídos cada vez mais por esta sociedade neoliberal”, deseja. (Foto: Pastoral Carcerária)
Considerando sua atuação com os encarcerados, a Pastoral afirmou que dom Paulo foi e é referência da caminhada pastoral e de tantos agentes, mulheres e homens “que, de esperança em esperança, caminham junto ao povo edificando o advento de uma vida e uma sociedade novas”. O agradecimento ao cardeal deve se manifestar por meio de “um trabalho pastoral profético, libertador e transformador das estruturas sociais; é ser amigo das pessoas pobres e presas. E nunca deixar que a história de busca pelo Reino e pela Vida seja esquecida”.
Dom Paulo e a democracia
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB (CBJP) ressaltaram os esforços pela democracia liderados por dom Arns. “Dom Paulo foi um baluarte na luta pela democracia, no combate à Ditadura Militar, denunciando os desmandos praticados contra lideranças e militantes de movimentos, presos e submetidos a horrorosas sessões de tortura”, escreveu a CPT. Para a Comissão, a palavra e a postura de dom Paulo “dando guarida a perseguidos, denunciando as atrocidades e brandindo a espada da justiça é um exemplo que marca até hoje a história de nosso país”.
No texto, a CPT recorda a atuação forte do cardeal junto às periferias, sobretudo de São Paulo. “Dom Paulo sentia também as contradições vividas no campo, as lutas dos sem-terra por um pedaço de chão, o esforço dos que buscavam formas de sobreviver dignamente do trabalho na terra”, salienta.
A CBJP considera que dom Paulo “deixa um precioso legado de ter colocado na agenda pública nacional a inviolabilidade da vida humana e a noção de direitos humanos”. O organismo vinculado à CNBB afirma que ele “ficará no panteão dos heróis da pátria e no coração do povo brasileiro, gratos entre muitas obras, o seu empenho no livro ‘Brasil: Nunca Mais’, que desvelou os mecanismos de tortura existentes durante a ditadura cívico-militar”. No texto, assinado pelo secretário executivo, Carlos Alves Moura, também foram citadas a sua valorização do laicato e a proximidade do pastor junto às ovelhas, como pede o papa Francisco na atualidade.
Vida religiosa
O ministro provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, frei Fidêncio Vanboemmel, assinou uma nota em nome da ordem da qual dom Paulo fazia parte. “O seu testemunho iluminou e encorajou não só a nós, seus confrades, mas a vida religiosa e a vida dos cristãos, especialmente na América Latina, onde foi uma liderança ímpar, principalmente nas assembleias de Puebla e Medellín, da Conferência Episcopal Latino-americana”, afirmou o frade.
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