Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

 

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres”. (Lc 4, 18).

 

Na Quinta-Feira Santa pela manhã, acontece a Missa do Crisma, quando são abençoados os óleos do Batismo e da Unção dos Enfermos, e consagrado o óleo do Crisma, que serão usados durante todo o ano, até a Quarta-Feira Santa do ano seguinte. Nessa Missa, também, os padres renovam suas promessas sacerdotais. No Sábado Santo, todo o povo renovará as promessas batismais. Em algumas dioceses esse dia é mudado devido a razões de distâncias, demoras nos deslocamento ou por questões pastorais.

A Quinta-Feira Santa é o dia da instituição da Eucaristia, e à noite acontece a Missa da Ceia do Senhor, com o rito do Lava Pés. A partir dessa Missa, inicia-se o Tríduo Pascal. A Quinta-feira Santa é um dia de alegria e de festa para todos os padres, pois nesse dia renovam o sim que deram a Deus em sua ordenação. O Dia do Padre é celebrado em 04 de agosto, dia de São João Maria Vianney, mas na Quinta-Feira Santa celebram a instituição do seu ministério.

O padre é aquele que leva a Eucaristia até o povo de Deus, se não fosse o padre não teríamos a Eucaristia. Por isso, reze por seu padre e que em sua paróquia nunca falte o sacerdote. O padre tem que ser respeitado e amado por todos os paroquianos e devemos cuidar dos padres.

Os padres são pessoas que muitas vezes vivem sozinhas e precisam ser respeitados por todos os paroquianos, temos que rezar por nossos padres, para que na solidão possam servir a Deus e ao povo. O padre é tirado do meio povo e, após a sua ordenação, volta para o meio do povo para servir. O sacerdote tem a missão de ensinar e educar o povo de Deus na fé. Nesse dia, sejamos gratos por todos os padres e pelo que eles representam em nossa vida. Rezemos pelos padres que estão entre nós e por aqueles que já partiram para a eternidade.

Há dois anos, convivemos com a pandemia da Covid-19. Muitos padres se desdobraram para atender ao povo de Deus nesse período, celebraram missas, ministraram sacramentos, celebraram exéquias e não deixaram o povo sem atendimento. Alguns padres, infelizmente, faleceram. Rezemos por esses padres, para que intercedam por nós do céu. Rezemos de igual modo por muitos fiéis leigos que faleceram nesse período e que os padres que aqui ficaram sejam um consolo para essas famílias.

Peçamos, ainda, nessa Eucaristia, pela paz, tão necessária e urgente nos dias de hoje, que cessem as guerras e que o coração do homem se converta para Deus. Que a paz possa vir em nossa cidade e que menos vidas sejam ceifadas precocemente. Peçamos a Deus que nós como Igreja sejamos instrumentos de paz e que através da Eucaristia que consagramos, tudo se faça novo a partir da ação do Espírito Santo.

A primeira leitura dessa missa é de Isaías (Is 61, 1-3a. 6a. 8b-9). O profeta diz que o Espírito Santo está sobre ele e que, através desse mesmo Espírito, ele pode anunciar a Palavra de Deus. O profeta pode proclamar o ano da graça do Senhor, todo ano que vivemos é por graça de Deus, somente Ele sabe a hora de partirmos desse mundo. Aproveitemos cada instante para amar e servir aos nossos irmãos. O profeta profere uma palavra de ânimo e encorajamento aos sacerdotes e ainda que através da ordenação sacerdotal fizeram um pacto de aliança com Deus. Os sacerdotes têm as mãos ungidas e devem abençoar o povo em nome de Deus.

O salmo responsorial é o 88 (89). O refrão do salmo nos diz: “Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor”. O salmo diz que o Senhor escolheu a Davi e o ungiu com o óleo, para que a força do Senhor estivesse com ele. O mesmo acontece com os sacerdotes, pois são ungidos com o óleo no dia de sua ordenação para que recebam de Deus a força necessária para realizarem a sua missão.

A segunda leitura dessa missa é do livro do Apocalipse de São João (Ap 1, 5-8). Jesus nos libertou do pecado, a partir do seu sangue derramando na cruz, ele morreu, ressuscitou e vive eternamente no meio de nós, através do Espírito Santo. Ele voltará um dia e julgará cada um de acordo com as suas atitudes. Jesus é o Alfa e o Ômega e existe desde sempre e para sempre.

No Evangelho desta missa (Lc 4, 16-21), Jesus volta à cidade de Nazaré onde se tinha criado, conforme o costume, entra na sinagoga em dia de Sábado e levanta-se para fazer a leitura do livro. Jesus lê a passagem do livro do profeta Isaías que ouvimos na primeira leitura da missa de hoje. Podemos dizer que essa passagem que Jesus lê é o seu programa de vida e que naquele dia, como Ele mesmo diz, se cumpria aquela profecia.

Essa passagem que Jesus lê é tudo aquilo que Ele fazia. Libertava os cativos, curava os doentes, anunciava o Reino e proclamava o ano da graça do Senhor. Ele vai na contramão daquilo que a sociedade da época pregava. Jesus acolhia a todos e curava a todos que vinha procurá-lo.

A vida do padre também deve ser assim, tem que colocar em prática o que está na Palavra de Deus e, ainda, realizar aquilo que prega. Jesus ensinava com autoridade porque fazia aquilo que ensinava, e assim deve ser o sacerdote. O sacerdote deve ser um espelho para a comunidade, onde as pessoas vejam refletida a imagem do Senhor. O padre não deve colocar fardos para as pessoas carregarem, mas caminhar junto com o povo, sofrer e se alegrar junto com o povo.

Que possamos colocar em prática na nossa vida a Palavra de Deus e que essa passagem da Escritura se faça verdade em nossa vida. Aos queridos sacerdotes, que continuem caminhando sempre tendo à frente a luz do Espírito Santo, para guiá-los nos momentos de dificuldade.

 

Tags:

leia também