“Cartas Pastorais” de São Paulo

Neste ano paulino, várias das costumeiras catequeses do Papa Bento XVI nas quartas-feiras tratam das cartas de São Paulo Apóstolo. Numa destas audiências de janeiro passado, o Santo Padre refletiu sobre as “Cartas Pastorais” do citado Apóstolo. São elas as duas dirigidas a Timóteo e uma a Tito, ambos colaboradores de Paulo. Uma rápida notícia sobre estas três cartas para quem por elas possa interessar-se.

Na carta aos Filipenses (2, 20), o Apóstolo fala de Timóteo: “A nenhum outro tenho tão unido a mim, que com sincero afeto se interessa por vós”. E na 2ª carta aos Coríntios (8, 16ss) agradece a Deus “que colocou no coração de Tito a mesma solicitude por vós”. Paulo chega a chamá-lo de “dileto filho” (Tt 1, 4). Estes são os dois Apóstolos aos quais São Paulo escreve.

A preocupação que transparece do coração de Paulo nestas cartas aos dois colaboradores é pela ortodoxia do ensino, pois começavam a aparecer nas comunidades algumas esquisitices, como proibir o matrimônio, abster-se de certos alimentos, e outras, pois são pessoas de “consciência cauterizada”, que ensinavam o erro (1º Tim 4, 1-3).

Nas citadas cartas de Paulo aos dois companheiros, sobressaem duas oportunas recomendações, ainda válidas nos dias de hoje. A primeira é que a leitura bíblica não pode perder de vistas que se trata de texto inspirado e proveniente do Espírito Santo. A segunda é que quem lê a palavra divina tenha como critério a lembrança de que há um “depósito” da tradição – “parathéke” em grego – que se conserva com a sublime ajuda divina. Esta é a chave da compreensão do texto bíblico. Não há pois interpretação livre e pessoal.

Nestas cartas pastorais aos dois colaboradores de Paulo, encontramos já as três estruturas da Igreja: “o epíscopo” (sempre no singular e com artigo definido) e a seu lado, os presbíteros e os diáconos. Transparece pois o que a teologia chama hoje de “sucessão apostólica”, como também o caráter sacramental do ministério. Dúvida – se houvesse – se dissolveria com a palavra de São Paulo a Timóteo: “o dom espiritual que recebeste te foi concedido por intervenção profética e pela imposição das mãos dos presbíteros”. Eis aí o rito da ordenação episcopal e presbiteral (1ª Tim 4,14).

O Apóstolo Paulo, nas epístolas aos dois colaboradores, não se esquece das qualidades, que devem exornar a pessoa do que é escolhido para o governo da Igreja: irrepreensível, hospitaleiro, paternal, sóbrio, prudente e com capacidade de ensinar (1ª Tim 3, 2-7).

Neste ano dedicado ao estudo sobre São Paulo, por certo seria útil conhecer melhor estas três lindas mensagens do Apóstolo dos Gentios que são as “Cartas Pastorais”.

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira

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