Uma missa celebrada na manhã do sábado, 20 de março, na Capela Nossa Senhora Aparecida, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília-DF, marcou o início de uma nova fase para o projeto missionário intercongregacional Nazaré mantido pela CNBB, Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e Cáritas brasileira no Haiti desde setembro de 2010.
A presença destas organizações no Haiti se materializou como uma resposta solidária da Igreja no Brasil no ano em que o país foi devastado por um terremoto de 7 pontos na escala Richter, que fez vítimas fatais cerca de 500 mil pessoas. O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, presidiu a missa, concelebrada pelos padres assessores das comissões da entidade.
Agora, na nova fase, a gestão será feita por uma Comissão Intercongregacional constituída por 5 religiosas de diferentes congregações. Elas vão contar com o apoio da Rede Missionária Intercongregacional Ad Gentes, constituída inicialmente com a adesão de cerca de 90 congregações religiosas, após a aprovação na 25ª Assembleia Eletiva da CRB Nacional realizada em Brasília (DF), de 10 a 14 de julho de 2019.
No início da celebração, a presidente da CRB, irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, uma entusiasta do projeto, manifestou gratidão a todo serviço e empenho realizado em Porto Príncipe, a capital do país, ao longo dos últimos 10 anos e meio. “Inúmeras entidades, congregações e pessoas contribuíram e contribuem com esta missão”, disse. No ofertório, junto ao símbolo de flores e frutas, as 19 congregações que mantiveram o projeto ao longo do tempo foram homenageadas.
Em sua homilia, o secretário-geral da CNBB afirmou ser a missão uma das características da caridade. De acordo com ele, a solidariedade, resistente e resiliente, é capaz de levantar a todos dos escombros da vida e acender uma luz onde só havia escuridão.
“A solidariedade, resistente e resiliente, é capaz de levantar a todos dos escombros da vida e acender uma luz onde só havia escuridão”, dom Joel
Ao final da celebração, foram abençoados e enviados os nomes da religiosas da Comissão que ficarão à frente do projeto. A irmã Maria Imaculada Resende, superiora geral das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, que será a diretora presidente; a irmã Eulália Wanderley de Lima, superiora geral das Religiosas da Instrução Cristã, que assume como diretora vice-presidente; a irmã Maria Câmara Vieira, conselheira geral das Irmãs Servas da Santíssima Trindade, que será a diretora secretária; a irmã Maria Goretti Avanzi, conselheira geral das Irmãs de São Francisco da Providência, que assume como diretora tesoureira; e a irmã Maria Goreth Ribeiro dos Santos, da Congregação da Companhia de Santa Tereza, que será diretora vice-tesoureira.
Frutos da presença missionária no Haiti
Por meio de um convênio firmado com a arquidiocese de Porto Príncipe, cujo prazo de duração estabelecido foi de 2010 a 2020, a CNBB, a CRB e a Cáritas Brasileira mantiveram uma presença missionária e amorosa da Igreja no Brasil no Haiti.
As primeiras missionárias brasileiras partiram para o Haiti em 20 de setembro do mesmo ano do terremoto com a missão de atuar em duas vertentes, mediadas pela ação evangelizadora e ação social. As primeiras irmãs batizaram a experiência de Comunidade Intercongregacional Nazaré.
Seis religiosas desenvolveram, no início, atividades a partir eixos de geração de renda e economia solidária, formação e saúde. Em cada eixo havia os projetos específicos. O eixo de Geração de renda e economia solidária, por exemplo, chegou a beneficiar cerca de 500 pessoas com os projetos das cozinhas comunitárias, fabricação de doces e salgados, horta comunitária, cursos de corte, costura e bordado e artesanato.
O eixo de formação compreendeu o trabalho na mudança de mentalidade das pessoas em relação aos traumas e conflitos que surgiram após a tragédia de 2010. Neste caso, foi dada atenção psicológica e psicopedagógica aos participantes dos projetos. Ainda no âmbito da formação, foi oferecido pelas irmãs aprendizado em arte e música. Um livro memória sobre a presença missionária da Igreja no Brasil está sendo escrito a partir das memórias das pessoas que vivenciaram a experiência.
O projeto foi assumido ao longo dos últimos 10 anos e meio por 19 congregações femininas que cederam irmãs de suas famílias religiosas para compor a comunidade Nazaré e atuar na missão.
Tempo fecundo de compaixão

Segundo a irmã Maria de Fátima Kapp, assessora executiva da CRB, os 10 anos e meio desta primeira fase constituíram um período intenso de labuta missionária, um caminho fecundo de atividades vivas e expressões de compaixão com o povo haitiano.
Ela lembra que, num primeiro momento, as irmãs se colocaram em uma atitude de escuta e acolhida. “O grupo de religiosas sempre contou com uma religiosa psicóloga para prestar um atendimento humanitário capaz de ajudar as pessoas a superarem os traumas”, disse.
O trabalho também aos poucos organizou grupos de mães, jovens, adolescentes e crianças em torno à iniciativas para combater a fome como a organização de uma horta comunitária e familiar, a criação de frangos, coelhos e organização de cozinhas comunitárias.

As irmãs conseguiram, por meio de inúmeras parcerias, construir um Centro Social de Evangelização no bairro Coral Cesselesse, onde concentram-se a maior parte das famílias atingidas pelo terremoto.
Neste local, passou a desenvolver atividades educativas e de formação cristã e espiritual. Também são realizadas no local oficinas de arte (música e teatro) e artesanato como alternativa de geração de renda.
Desde 2019, está em processo a construção, com o apoio da Missão Belém, de um Centro de Nutrição para atendimento adequado às mães, crianças e bebês. Além da Missão Belém, outras organizações também estão apoiando a iniciativa.
Atualmente, a comunidade está constituída por quatro religiosas de distintas congregações: irmã Maria Goreth Ribeiro, da Companhia de Santa Tereza, irmã Iedeneide do Rêgo, Carmelita da Divina Providência, irmã Maria Lusitânia de Souza, Carmelita da Caridade de Vedruna e irmã Maria Dalvani de Sousa, Catequista Franciscana.
Ações para organizar a gestão na nova fase
Em função da proximidade do vencimento do convênio, nos dias 18 e 19 de novembro de 2019, foi realizado um encontro em Brasília (DF), entre os parceiros para discutir os caminhos para continuidade do projeto. Deste encontro, nasceu a ideia da criação de uma Rede Missionária Intercongregacional Ad Gentes e a instituição de uma comissão para administrar o Projeto Missionário no Haiti a partir de outubro de 2020.
A Comissão instituída se reuniu três vezes em 2019 mas, em razão da pandemia, não conseguiu implementar os passos previstos de transição da coordenação do Projeto Missionário no Haiti para o outro formato de gestão.
Só agora, neste ano, consegue-se solidariamente dar o passo para o novo momento desta presença missionária junto aos haitianos com a instituição da Comissão que vai coordenar a ação apoiada pela Rede Missionária Intercongregacional Ad Gentes.