Durante o mês de março e o início deste mês, a Comissão Episcopal para a Amazônia realizou importantes visitas em sua região de atuação. O presidente da comissão, cardeal dom Cláudio Hummes, esteve em São Gabriel da Cachoeira (AM) onde participou no dia 24 de março, da inauguração de uma unidade da Fazenda Esperança na diocese. A visita realizou-se a convite do bispo local, dom Edson Damian.
Dom Cláudio visitou ainda a prelazia de Coari (AM) e algumas comunidades da diocese de Roraima. Em Boa Vista (RR), ele pregou um retiro para o clero e religiosos da diocese, encontrou-se com os missionários e concelebrou a missa dos Santos Óleos no dia 03.
Em uma outra frente, a assessora da comissão, irmã Irene dos Santos, realizou uma visita missionária com outros dois assessores da CNBB. Pela Comissão para a Missão Continental, o padre Sidnei Dornellas, que procurou tratar das questões de fronteira; e pelo Setor Universidades a irmã Maria Eugênia Lloris Aguado. Eles estiveram na diocese de Alto Solimões (AM) e na diocese de Roraima, chegando até a reserva Raposa Serra do Sol.
“Nós temos projetos em conjunto: a educação católica na Amazônia e o projeto de levar missionários para lá, especialmente jovens universitários que podem colaborar com sua formação naquela região”, explica Eugênia. Ela conta que esteve reunida com diretores de três instituições públicas de ensino superior, que demonstraram interesse em firmar parceria com a Igreja em diversas ações.
Irmã Eugênia avalia os principais desafios que encontrou na região. Em primeiro lugar, o fato de o governo ter facilitado o acesso dos alunos de baixa renda ao ensino superior nas universidades públicas, mas sem oferecer as possibilidades de manutenção, como moradia e alimentação. Essa questão agrava o segundo problema: a droga. “Em Tabatinga (AM), vimos até crianças vítimas do tráfico e do vício”, relata.
Mas há também experiências interessantes, como a da Escola Técnica Surumu, que é totalmente adaptada para as áreas indígenas. “Os alunos passam dois meses na escola e dois meses na comunidade. Assim, tem a oportunidade de praticar o que aprenderam na comunidade onde vivem, especialmente no campo da piscicultura, agricultura e veterinária”, explica Eugênia. “É um bom caminho para fomentar essa troca de saberes”, diz Irene, que lembra que a participação dos alunos nessas escolas são indicadas pelas próprias comunidades.
A iniciativa de levar os assessores para a região é da Comissão para a Amazônia, e já foi realizada com outras comissões. “O convite sempre tem em vista a realização de projetos comuns. É uma forma de mostrar as necessidades da região, e como cada um pode colaborar em sua especificidade”, conclui irmã Irene.
Animação Missionária
O padre Sidnei Dornelas também participou da visita missionária à região Amazônica. Ele foi representando a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Missionária e Cooperação Intereclesial, da CNBB.
Segundo o padre Sidnei, a sua ida a região teve um trabalho de diagnóstico da realidade local “para ver como é feito o trabalho da Missão Continental, os desafios vividos pelas dioceses de fronteiras para estudar a melhor forma de como a Conferência dos Bispos do Brasil pode dialogar melhor com as outras Conferências para atuar de forma mais concreta nas vidas dos povos de fronteira, formados, por sua grande maioria, por populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas”.
Em relação aos haitianos que tentam entrar no Brasil pela fronteira com o Peru, o padre Sidnei contou que a situação de 300 haitianos é desesperadora, pois, esperam a resposta do Governo brasileiro para liberação de entrada e não há perspectivas de ação concreta. “Os haitianos que agora chegam à fronteira com o Brasil vivem em uma zona de limbo, pois não há perspectivas em curto prazo do Governo. Se não fosse a atuação brilhante da Pastoral da Mobilidade Humana, buscando recursos, os haitianos estariam ao relento e passando todo tipo de necessidade”, frisou o padre Sidnei Dornelas.
O padre também citou os problemas sociais vividos em regiões de fronteiras, como Tabatinga (AM) e Roraima (RR). “Nestes locais existem precariedades de todos os tipos, como o tráfico de drogas, o tráfico de seres humanos, a falta de segurança pública, doenças, como a hepatite que avança sobre os povos indígenas e o alcoolismo”, ressaltou.