O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) iniciou na manhã desta quarta-feira, 20, a sua reunião ordinária deste mês de outubro. Participam a Presidência da CNBB, os bispos presidentes das Comissões Episcopais Pastorais, representantes dos Conselhos Episcopais Regionais e de pastorais e organismos. O encontro é realizado virtualmente, por meio da plataforma Zoom.
Núncio apostólico
No início da reunião, o núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro, anunciou que, a partir do final do mês, deseja começar a visitar as arquidioceses para entregar o palio aos novos arcebispos, “se a redução da pandemia for confirmada”. Para isso, ele já começou a estabelecer os primeiros contatos nas arquidioceses. “Depois de quase dois anos, tanto na Índia, como no Brasil, não foi possível encontra-me presencialmente com tantos queridos irmãos. E, por isso, será para mim um momento de alegria a retomada de um serviço habitual tão querido para mim”, disse dom Diquattro.
O núncio também quis oferecer aos participantes do Conselho Permanente alguns pontos da breve reflexão do Papa Francisco no início da “exigente jornada sinodal”. Dom Giambattista recordou: “ser guiados pelo Espírito Santo de Jesus Cristo; viver a graça de Caminhar juntos; ouvir uns aos outros; discernir a presença do logos no presente tempo; em solidariedade ao mundo contemporâneo”. Nesse sentido, quis parafrasear o Papa Francisco: “Se não há o Espírito Santo, não há Conselho Permanente. A oração que juntos elevamos a Jesus Cristo Nosso Senhor no início desse compromisso nos lembra que o Espírito de oração deve permear esses dois dias”. Nesses dois dias o núncio ouvirá “com alegria” as partilhas e preocupações dos bispos do Brasil. Ele agradece “porque serão dois dias de enriquecimento interior e exercício espiritual para o ministério que me foi confiado”.
Pauta
Uma extensa pauta foi aprovada no início da reunião, com 27 temas para debates, aprofundamentos e deliberações por parte dos membros do conselho. São alguns dos temas que serão abordados pelos bispos nesses dois dias – alguns já iniciados nesta manhã: 59ª Assembleia Geral da CNBB, análises de conjuntura, Congresso Eucarístico Nacional, Eleições de 2022, encontros da Presidência com as macrorregiões, informes, Jornadas da Juventude e dos Pobres, Mês Missionário, ministério de catequistas, Sínodo 2023 e questões de Liturgia.
Alesp
O primeiro tema abordado foi o ataque sofrido pela CNBB, pelo arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, e pelo Papa Francisco no pronunciamento de um deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no dia 14 de outubro. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNNB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, recordou o fato destacando a solidariedade recebida pela entidade, por dom Orlando e pelo Papa. Dom Walmor informou ainda que serão consultados técnicos na área jurídica para verificar as próximas ações que serão realizadas de modo a ajudar o Brasil “a se reorientar na perspectiva do respeito e do compromisso cidadão”.
Dom Walmor também agradeceu ao bispo de Mogi das Cruzes (SP) e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, dom Pedro Luiz Stringhini, que entregou a carta na casa legislativa. Dom Stringhini disse que ele e o assessor político da CNBB, padre Paulo Renato, foram bem recebidos na Alesp e apontou duas observações sobre a fala do deputado Frederico D’Avila após a entrega da carta ao presidente do parlamento paulista: o primeiro ponto é o pedido sincero de desculpas por conta do excesso; e o segundo é arrependimento somente em relação à forma de expressão, mas não do conteúdo da fala.
“Na própria retratação, disse que admira a Igreja Católica, não obstante ter dito que o Papa tenha sido permissivo em relação a bispos que utilizam do púlpito para pregação ideológica, como se tivesse alguma coisa ideológica na pregação de dom Orlando”, ponderou dom Pedro Stringhini, que também informou que o Conselho de Ética da Alesp está em atuação para apuração e devida punição no caso.
Análises de conjuntura
Crises
Na manhã desta quarta-feira, foram apresentadas as análises de conjuntura social e eclesial. A primeira foi a social, conduzida pelo bispo de Carolina (MA), dom Francisco Lima, e com o título “A complexidade do quadro político e seus desdobramentos”.
O grupo de análise sociopolítica fez a opção de retomar as grandes linhas da análise anterior, debruçada sobre as múltiplas crises que o país enfrenta e todas “mutuamente dependentes”. Junto com a crise política, o Brasil passa pelas crises econômica, hídrica, ambiental e de diretos humanos, segundo a análise.
Confira a análise na íntegra:
Animação Bíblica da Pastoral
Sobre a Análise de conjuntura eclesial, a equipe do Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (Inapaz) deu continuidade ao tema da Animação Bíblica da Pastoral. O grupo apresentou a terceira parte da análise, que trata da prospecção a respeito da temática objeto de pesquisa com apresentações dos resultados nas últimas reuniões do Conselho Episcopal Pastoral e também do próprio Conselho Permanente.
O secretário do Inapaz, padre Danilo Pinto dos Santos, recordou que a primeira fase da pesquisa foi a memória e o diagnóstico, por meio da ‘análise Swot’. A segunda fase foi a análise dos dados. Agora, na terceira fase, foi feita uma prospecção a partir do cruzamento dos dados, por meio da metodologia TOWS.
“A metodologia TOWS apresentará nove prospecções da Animação Bíblica da Pastoral nos cenários eclesiais internos: crescimento, enfrentamento, sobrevivência e desenvolvimento”, adiantou padre Danilo.
Para chegar aos resultados, o grupo definiu algumas perguntas norteadoras:
- Quais forças positivas podem favorecer a Animação Bíblica da Pastoral diante das oportunidades do cenário eclesial externo?
- Quais forças positivas podem defender a Animação Bíblica da Pastoral das ameaças do cenário eclesial externo?
- Quais fraquezas do cenário eclesial interno podem potencializar ameaças externas à Animação Bíblica da Pastoral?
- Quais fraquezas do cenário eclesial interno podem prejudicar as oportunidades da Animação Bíblica da Pastoral?
Para o crescimento a partir das forças positivas, os assessores destacaram que as iniciativas de formação bíblica que já existem podem ser aproveitadas a partir da familiarização das novas mídias e da tecnologia durante a pandemia. “Se utilizarmos dessas novas tecnologias, tendo em vista o trabalho da animação bíblica da pastoral, podemos vislumbrar conquistas ainda maiores”, disse padre Waldecir Gonzaga.
Para enfrentar as ameaças do cenário externo, de modo a mitigar os desafios enfrentados”, surgem indicações como a ampliação da troca de experiências realizadas em cada uma das regiões e de uma cultura missionária da palavra, potencializada por programas de rádio, mas também por parte das redes sociais, pensando, sobretudo, nos jovens.
A formação apropriada de catequistas pode ser “remédio eficaz inclusive para romper a ameaça do crescimento do tradicionalismo, que tem criado dificuldades em todos os campos”, segundo padre Waldecir.
Outra prospecção é em relação ao desenvolvimento. “Prospectamos que se os pontos negativos da Animação Bíblica da Pastoral forem desenvolvidos, numa perspectiva de melhoria e superação, haverá um melhor aproveitamento das oportunidades do cenário eclesial externo”. Nesse sentido, apareceram indicações como potencializar ministros da palavra e reconfigurar os círculos bíblicos, além de aproveitar os impulsos missionários que devem advir da Assembleia Eclesial da América Latina e da caminhada sinodal.
Combate à fome
Foi apresentada aos bispos do Conselho Permanente uma proposta para que a CNBB solicite a inclusão como amicus curiae na ADPF 885 no STF. A ação, que trata de Arguição de descumprimento de preceito fundamental, foi proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e tem como assunto central o combate à fome.
O advogado Paulo Freire, do Escritório Cezar Britto, detalhou que o Conselho Federal da OAB buscou a Suprema Corte diante do cenário de agravamento da fome do Brasil, com 20 milhões de famintos e mais de metade dos domicílios em insegurança alimentar. Freire também destacou a omissão por parte do Governo Federal diante do cenário e a redução das políticas públicas de combate à fome. Na petição, a OAB destacou o valor baixo do auxílio emergencial, e as reduções do Programa de Alimentação Escolar e do Programa de Aquisição de Alimentos.
O pedido é que, diante da ausência ou insuficiência de políticas de combate à fome, sejam cumpridos os preceitos fundamentais da Constituição, principalmente o direito à alimentação.
Os bispos aprovaram e avaliaram positivamente a atuação da CNBB no tema.
Ainda durante a sessão matutina da reunião do Conselho Permanente, foi lembrada a realização do I Encontro com Parlamentares Católicos a serviço do Povo Brasileiro, em setembro; houve a apresentação do informe econômico e comunicações de Comissões e organismos.