Via de regra, em cada país, existe um sentimento especial no coração do povo, ao comemorar-se sua data nacional. No Brasil, a cada ano, entre os eventos cívicos, com maior destaque no calendário nacional, está a Semana da Pátria, com programação preparatória da comemoração do Dia da Independência. As pessoas mais antigas conservam na memória as reminiscências de sua participação, na vila do interior, na sede do Município, na cidade vizinha ou na capital de seu Estado, antes como colegiais desfilando pelas ruas e, posteriormente, como espectadoras atentas e vibrantes. Há sempre um quê de encantamento nos desfiles do Dia da Independência, no olhar de crianças, na participação dos jovens, na leitura dos adultos e na visão dos idosos. A rigor, a maior parte da população se identifica com a comemoração do Dia da Pátria, sobretudo, devido às raízes de sua formação cívica e ao cultivo de valores que estão contidos nos símbolos nacionais.

A face da história está muito presente, através de personagens portuguesas e brasileiras e de relatos de sua intervenção na costura dos acontecimentos que culminaram com a proclamação da Independência do Brasil. É importante que as gerações de hoje conheçam as pessoas e o contexto que contribuíram para a afirmação da soberania nacional. Um povo sem a memória de feitos que foram escritos com heroísmo, no passado, por homens e mulheres conscientes de sua participação na conquista da cidadania, pode tornar-se frio diante dos desafios e apelos da pátria, no presente, e, por isso, comportar-se com indiferença, ante sua responsabilidade perante o amanhã de sua nação.

Embora a expressão afetiva seja uma das facetas mais marcantes da participação popular nas comemorações da Independência, não pode ser a única, tampouco deve inibir outras formas de manifestação da cidadania; antes, deve suscitar linguagens conscientizadoras de participação cidadã. Nesse sentido, há dezesseis anos, realiza-se o “Grito dos Excluídos” que, embora seja melhor trabalhado por Movimentos Sociais e Pastorais Sociais, tem também um alcance popular, pelo processo educativo, de que se reveste, sempre à luz de um tema específico, como o deste ano – “Vida em primeiro lugar! Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas construir um projeto popular”. O Grito dos Excluídos consiste num “conjunto de manifestações no dia da Pátria, sete de setembro, com o objetivo de atrair a atenção da sociedade para a crescente exclusão social.”

O conhecimento da realidade brasileira, nos seus diversos aspectos, é um elemento essencial para uma participação da população na construção da cidadania; o censo demográfico, que está sendo efetuado, nesses dias, atualizará dados que são extremamente importantes para a definição das políticas públicas e da contribuição da sociedade civil e de seus diversos segmentos, na direção de seu desenvolvimento. A população deve conhecer o seu retrato real que, apesar de séculos de Independência, continua muito marcado pelos traços da dependência e da desigualdade, em matéria de pobreza, moradia, direito à educação, à saúde, ao mercado de trabalho e a outros bens essenciais da cidadania. O censo, coincidentemente, se realiza durante o período eleitoral; os eleitos, dentre os atuais candidatos a cargos executivos e a funções legislativas, deverão utilizar os seus dados na formulação de políticas que respondam às reais necessidades da população, em suas respectivas áreas de atuação.

Portanto, a comemoração da Independência do Brasil interessa a todos os brasileiros, uma vez que, da conquista histórica de 1822, se registram em 2010 muitas aspirações da população ainda não realizadas e tantos direitos não alcançados!

Dom Genival Saraiva

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