Paulo escreveu com certeza cinco cartas aos coríntios. A primeira, mencionada em 1Co 5,9, é chamada de “pré-canônica” e se perdeu. Vem depois a Primeira Carta aos Coríntios, como está na Bíblia. Uma outra, chamada de “dolorosa” também se perdeu e é mencionada em 2Co 2,4. Temos ainda a Segunda Carta aos Coríntios, que está na Bíblia, e é a junção de duas cartas, 2Co 1-9 e 2Co 10-13.
A Segunda aos Coríntios 1-9 se divide em duas partes: a carta (1-7) e um pós-escrito sobre a coleta para Jerusalém (8-9). A carta é escrita por Paulo e Timóteo e dirigida aos cristãos de Corinto e a todos os outros que vivem na província da Acaia. Depois do endereço e da saudação Paulo faz a costumeira ação de graças e fala da consolação que Deus nos dá e que nos ajuda a enfrentar os sofrimentos, referindo-se às grandes dificuldades tidas em suas prisões em Éfeso. Pede as orações dos coríntios, fala de uma visita programada e que não aconteceu e de uma carta em meio a muitas lágrimas, que é a que chamamos de “dolorosa”, e que se perdeu. Entre todos os assuntos tratados, destaca-se o da coleta para os fiéis de Jerusalém.
Na primeira carta aos Coríntios (16,1-4), Paulo já tinha dado normas precisas para a coleta em favor da Igreja de Jerusalém. Eram as mesmas já seguidas pelas Igrejas da Galácia. No domingo, quando a comunidade se reunia, cada um devia apresentar o que tinha economizado na semana, sem esperar a chegada de Paulo para fazer a coleta. É evidente que tal método favorecia uma coleta maior. Ela seria levada em tempo oportuno a Jerusalém por emissários credenciados, juntamente com Paulo, se fosse necessário. Assim faziam os gálatas, assim deviam fazer também os coríntios.
Tito ficara encarregado de organizar a coleta em Corinto. Paulo pensava encontrá-lo em Trôade, o que não aconteceu. Mais tarde, na Macedônia, Tito aparece com boas notícias, sobretudo da reconciliação dos coríntios com Paulo, cujas relações andavam estremecidas. Tito é o grande colaborador de Paulo em diversos lugares e em diversas circunstâncias, de modo particular na organização da coleta em Corinto. Mais tarde será o bispo da Igreja em Creta.
Os irmãos da Macedônia também quiseram colaborar com a coleta. Eram mais pobres do que os coríntios, mas foram muito generosos, contribuindo mais do que se podia esperar. Como sempre, Paulo não impõe ordem alguma, não manda que façam a coleta. Ele comunica o exemplo de outros e estimula a imitação da generosidade para com os necessitados. O que Paulo propõe é a igualdade de condições entre os cristãos. “Quando existe boa vontade, somos bem aceitos com os recursos que temos”, escreve o Apóstolo. E ainda: “Não desejamos que o alívio dos outros seja para vocês causa de aflição, mas que haja igualdade”. O que agora sobra para os coríntios deve suprir o que falta em Jerusalém, e assim também um dia, se for necessário, Jerusalém possa vir em socorro de Corinto. Paulo cita Ex 16,18 para reforçar a importância da igualdade entre os cristãos: “Quem recolheu muito não teve excesso; quem recolheu pouco não sofreu penúria”.
O resultado da coleta foi grande e vários irmãos foram designados para levá-la a Jerusalém. Podemos imaginar as dificuldades da época, a viagem de navio, o perigo de roubo. Parece que o dinheiro foi reduzido a pequenas moedas de ouro que podiam ser transportadas em bolsos costurados nos mantos do portador. É claro que houve críticas, oposições, más interpretações. Paulo as suportou e se defendeu.
Paulo não tinha muita preocupação com organizações resultantes de preceitos e de costumes. A capacidade de discernimento e a criatividade no Espírito eram para ele sinais da maturidade cristã. Ele não fala em dízimo organizado, mas pensa no socorro mútuo para que entre nós não haja necessitados. É assim que ele conclui a sua exortação, dizendo que “quem semeia pouco, colhe pouco, quem semeia com largueza, colhe com largueza”. Não é pressionado por um preceito que cada um deve dar e sim como dispôs livremente em seu coração, “sem pena nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria”.
Referindo-se à coleta, Paulo conclui dizendo que “o serviço dessa liturgia não deve apenas satisfazer às necessidades dos santos, mas há de ser ocasião de efusivas graças a Deus”.