Desafio à nossa sociedade

Estão vindo a público dramas humanos de meninas que engravidam após uma história de abusos por parte de padrastos e pais.

A ferida aberta em nossa sociedade que deve ser compreendida em suas causas, implicações e respostas operativas para reduzir esses casos que constituem uma fonte de sofrimentos, humilhações e traumas tremendos.

O drama vivido por essas meninas e suas famílias nos provoca e questiona.

O primeiro passo quando se enfrentam essas situações, encaminhando-as para o que parece a melhor solução do ponto de vista dos atores sociais, é compartilhar a dor das pessoas envolvidas, acolhendo-as, ouvindo suas histórias de sofrimentos, procurando compreender quais circunstâncias tornaram possíveis esses abusos.

Resulta desumano reduzir esses fatos a material para defender bandeiras, para marcar pontos nas batalhas ideológicas.

Também, a imposição de solução por parte de alguns adultos que não têm nenhum compromisso maior com as pessoas envolvidas a não ser a emissão do parecer supostamente técnico e valorativamente neutro pode agravar ainda mais o sofrimento dessas pessoas, tratadas como objeto, primeiro por familiares que delas abusaram e agora por estranhos, com o sistema de saúde interferindo com o propósito de promover o aborto  a fim de “resolver” o problema, até contra a vontade das próprias meninas mães.

Vale a pena perguntar-se porque acontecem abusos e violências em muitas famílias nos dias de hoje. Que valores movem uma pessoa que abusa de uma criança indefesa e vulnerável ferindo-a no mais profundo de sua alma? Onde terá assimilado esses valores? Que escolas eles terão freqüentado, que programas de rádio e de televisão eles terão acompanhado, que igrejas eles terão seguido?

Tenho certeza que uma família cujos membros rezam juntos em casa ao começar o dia e de noite, preparando-se para dormir, que lêem o Evangelho, que procuram aprender a vida seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo, que freqüentam uma comunidade cristã ficaria livre desses problemas. Por isso a Igreja Católica está preocupada com a evangelização missionária em todo o Brasil, aliás, em todo o Continente latino-americano.

Por outro lado, a figura do pai foi tão desvalorizada e desprestigiada que pouco sobra hoje da nobreza de sua tarefa educativa. Se uma criança, um adolescente, um jovem, crescem entendendo que ser pai não significa nada além de fornecer os gametas para a reprodução acontecer, se não associam mais à sua condição de pai uma tarefa de fundamental importância, uma responsabilidade sagrada para introduzir a criança que geraram à compreensão da realidade e da vida, conduzindo-a e acompanhando-a até a maturidade, então tudo pode acontecer. Faltando a compreensão da própria paternidade, a relação pode decair e ser vivida como qualquer outra, não mais orientada pelo ideal da paternidade, mas movida pela busca de alguma vantagem ou de algum prazer.

Crianças gravemente abusadas pelas pessoas que mais delas deveriam cuidar questionam a nossa maneira de construir a sociedade moderna, a obsessão com a qual nos dedicamos a desconstruir tudo o que nos foi legado pela tradição ou possa relembrar o horizonte religioso da vida. Pelo contrário, parece-me extremamente saudável olhar para a paternidade de Deus, o Criador, o amor com o qual acompanha a cada um, Ele que sabe até o número dos cabelos que estão em nossa cabeça. Ele pese o nosso coração segundo à ternura e à compaixão com a qual pede o nosso coração, muitas vezes ferido pelo ódio e pelo desamor, para curá-lo. Mas, aqui se abre o misterioso espaço da liberdade de cada pessoa, para responder ao Seu apelo ou recusá-lo. Jesus no livro do Apocalipse diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo” (AP 3, 20). Será verdade que para ser “moderno” é necessário recusar essa companhia potente e misericordiosa? Não será mais sábio quem nele confia e constrói sua vida sobre essa Rocha?

Neste quarto domingo da Quaresma, ouvimos o evangelho de João 12, 20-33: “Havia alguns gregos que vieram à Jerusalém e aproximaram-se de Filipe e pediram: gostaríamos de ver Jesus” para ouvi-lo e quem sabe segui-lo. E nós?

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