Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André

Muitos quando se fala da preocupação com os pobres, veem neste discurso certo resquício de paternalismo ou sentimentalismo que nada produz. No entanto, a pobreza é um desafio político para século XXI. Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento da humanidade alcança níveis altíssimos, com o avanço da tecnologia, multiplica-se o número dos que passam a viver na pobreza. Ela atinge um terço dos países do sul do Equador que tentam sobreviver, migrando da miséria para os países ricos do norte.

Os mais pobres continuam sendo vítimas da miséria com seu rosto de falta de educação, moradia, trabalho, comida… Está evidente que o mercado não reduzirá a pobreza, pelo contrário, aguçam as desigualdades, ele não consegue assegurar justiça nem dignidade para todos, porque sua preocupação não é a pessoa, mas o lucro. O mercado hoje induz os países ricos a recusar solidariedade às maiorias pobres. O pobre hoje é muito mais o desempregado urbano do que o camponês. Eles serão cada vez mais as principais vítimas da degradação dos recursos naturais em curso.

A erradicação da pobreza significa permitir que cada homem dispusesse de meios de vida, superiores a um limiar de dignidade internacionalmente definido. Somente a solidariedade poderá ajudar a mitigar o problema da pobreza, pois as nações pobres não poderão resolver sozinhas o problema dos pobres e excluídos. Infelizmente a globalização do mercado não é acompanhada da globalização da solidariedade e distribuição dos recursos.

O Papa João XXIII constatou que o problema social assumiu proporções mundiais, o Papa Paulo VI profetiza que o mundo está doente, acometido de um egoísmo crônico, do qual somente ficará curado quando a fraternidade e a solidariedade se instalarem entre os pessoas e os povos. Na América Latina a Igreja fez sua evangélica opção pelos pobres e hoje o Papa Francisco se tornou referência mundial como advogado dos Pobres, projetando uma Igreja dos pobres para os pobres.

Olhando o panorama sócio político econômico podemos sentir a voz de Jesus Cristo que acusa: olvidais o que é mais grave: a justiça e o amor (Mt 23,33). A consequência é o aumento dos pobres e miseráveis, dos excluídos e descartáveis. E quando se fala do pobre e da pobreza ou da situação do pobre segundo o Evangelho, não se está referindo somente à conduta do cristão e da Igreja, senão que concernem ao mistério íntimo e pessoal de Jesus Cristo. Além de normas éticas de compaixão com os miseráveis ou expressão de filantropia generosa, a pobreza é parte da revelação de Jesus sobre ele mesmo: em Cristo Deus aparece solidário com os pobres, fazendo-se um deles (cf. 2 Cor 8,9).

É a partir de tudo isto que o Papa Francisco instituiu para ser celebrado, o “Dia Mundial dos Pobres”. É um grito proferido em direção às consciências, para que não se esqueçam dos pobres, esquecer deles é esquecer-se de Jesus que se coloca no lugar deles. Neste dia as Igrejas devem promover atividades de acolhida e cuidado para com os pobres procurando valorizá-los e chamar a atenção para a gravidade da situação de miséria, mais que pobreza na qual vivem milhões de pessoas.

A Igreja assume a causa dos pobres e se faz companheira de caminho deles procurando advogar sua causa. A luta e o empenho da Igreja em favor dos mais pobres têm causado perseguição e inclusive a morte de cristãos que são considerados testemunhas da fé. A Igreja é Igreja de todos, mas especialmente deve ser Igreja dos Pobres que reparte com eles e doa de sua pobreza. A Igreja aprende de Jesus que “veio para anunciar a boa nova aos pobres (cf. Lc 4,18-19).

“O Dia Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o gênero e de todo o lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra no vazio. Provavelmente, é como uma gota de água no deserto da pobreza. Contudo pode ser um sinal de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem a presença ativa dum irmão ou duma irmã. Os pobres precisam, do envolvimento pessoal de quantos escutam o seu brado. A solicitude dos crentes não pode limitar-se a uma forma de assistência – embora necessária e providencial num primeiro momento, mas requer aquela “atenção amiga” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Pobre –  2018).

Durante todo o domingo, dia 18 próximo, haverá na Praça do Carmo, em Santo André, a acolhida aos pobres que serão assistidos em uma grande confraternização. Venha participar!

 

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