Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul
Caros diocesanos e Irmãos Luteranos. A história celebra neste mês de outubro (31/10/2017) os 500 anos do início da Reforma de Lutero. Nossa mensagem se baseia no livro “Do Conflito à Comunhão”, escrito para a comemoração conjunta católico-luterana da Reforma em 2017 (Do Conflito à Comunhão, Ed. Sinodal e CNBB, 2015). Se um documento ecumênico de nível internacional, escrito ao redor da mesma mesa, objetiva converter cinco séculos de conflito em sincera busca de maior comunhão, podemos elevar juntos, luteranos e católicos, nossas mãos ao céu para louvar e bendizer o mesmo Deus que deseja e abençoa o caminho da unidade e da comunhão de seus filhos e filhas. Ao colocarmos o evangelho como luz para orientar as celebrações dos 500 anos, sentir-nos-emos, católicos e luteranos, convidados à busca da unidade pelo próprio Cristo que diz: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 21). Que o novo espírito ecumênico, de busca conjunta da comunhão, seja o remédio para a purificação e a cura das memórias dos tempos em que jogamos pedras uns contra os outros, em vez de ajuntá-las e com elas construirmos uma casa comum. Neste sentido, animam-nos as palavras do Papa João XXIII: “O que nos une é maior do que aquilo que nos divide” (Op. cit., prefácio). Pelas semelhanças, o diálogo é possível e as diferenças o exigem. Alegram-nos o crescimento da compreensão, da cooperação e do respeito mútuo que anima luteranos e católicos. Que nossos encontros e celebrações ecumênicas dos 500 anos da reforma, igualmente, sejam quais novas pedras para construirmos sempre mais a unidade plena e visível da Igreja.
Esse espírito da busca de unidade certamente é bem maior do que interpretações teológicas diferentes, com suas respectivas consequências. Afirma o documento comum, acima citado: “Diálogos ecumênicos e pesquisas acadêmicas analisaram essas controvérsias e tentaram superá-las pela identificação das diferentes terminologias, diferentes estruturas de pensamento e diferentes preocupações que não necessariamente se excluem mutuamente” (Op. cit., n. 91). Portanto, é necessário que o diálogo ecumênico e a busca da compreensão recíproca continuem entre teólogos e historiadores, sobretudo sobre temas como a justificação, a eucaristia, o ministério, a Escritura e a tradição. Mas é necessário também que nosso olhar recíproco seja sempre mais ecumênico e nos confirme como irmãos e irmãs, sobretudo, a partir do mesmo batismo que recebemos na Igreja que, juntos, reconhecemos como corpo de Cristo. Se luteranos e católicos estão unidos no mesmo corpo de Cristo, juntos também desejam celebrar os 500 anos da reforma. Pertencendo ao mesmo corpo de Cristo, as igrejas luteranas não nasceram da reforma, mas tem sua origem em Pentecostes e na pregação dos Apóstolos, recebendo uma forma particular pela doutrina e os esforços dos reformadores. Como afirma o texto comum: “Os reformadores não desejavam fundar uma nova igreja, e de acordo com sua compreensão, não o fizeram. Eles queriam reformar a igreja e eles o conseguiram no âmbito de sua influência, embora com erros e equívocos”. (Op. cit., n. 222). Enquanto aguardamos nossa próxima mensagem, rezemos pela unidade dos cristãos e vivamos o espírito da unidade.