Dom Angélico: “Bispo emérito é uma bênção para a Igreja”

Em entrevista exclusiva à assessoria de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo emérito de Blumenau (SC) e presidente da Subcomissão para os Bispos Eméritos, dom Angélico Sândalo Bernardino, destacou a atuação do bispo emérito na Igreja no Brasil. Simpático, o bispo se diz entusiasmado com a missão que assumiu em fevereiro de 2009, quando se tornou emérito.

“O bispo emérito é uma bênção na Igreja”, diz logo no início da entrevista e adverte: “Alguns bispos eméritos estão trabalhando muito mais do que antes, inclusive, sem ter aquelas tarefas do governo diocesano”.

Na entrevista, dom Angélico também fala da Subcomissão para os Bispos Eméritos, cujo papel é “zelar pela vida e pelo ministério do bispo emérito, aprofundar os aspectos jurídicos e os aspectos de comunhão” e “propor a continuação dos bispos eméritos como membros da CNBB”, que é um espaço de “colegialidade dos bispos do Brasil”. Questionado sobre quais atividades o bispo emérito deve desempenhar, ele sugere: “é importante que nas dioceses o bispo emérito tenha um trabalho determinado”. Na sua opinião, esse trabalho deve ser expedido pela própria diocese.

Confira abaixo, a íntegra da entrevista.

AI – Atualmente a Igreja no Brasil conta com 149 bispos eméritos. Qual o papel desempenhado pelo bispo emérito?

Dom Angélico – O bispo emérito é uma bênção na Igreja. A medida do Vaticano II, para que o bispo emérito entregue aos 75 anos o governo da diocese nas mãos do Santo Padre é das mais salutares. Nós, como bispos eméritos, temos no coração a nossa diocese da qual fomos bispos diocesanos; temos todo o Regional, toda a Igreja no Brasil e toda a humanidade pela qual nós somos convidados a interceder a Deus. Isso porque tem muita coisa bonita acontecendo na Igreja, mas tem também dores, sofrimentos. Estamos na condição de Nazaré, com Jesus na carpintaria com Maria e com José, orantes nessas intenções. Depois é bom que se diga: não é aposentadoria sermos bispos eméritos e nem velhice é sinônimo de invalidez. Enquanto Deus nos dá saúde, precisamos dar o melhor de nós pela construção do Reino de Deus. Alguns bispos eméritos estão trabalhando muito mais do que antes, inclusive, sem ter aquelas tarefas do governo diocesano.

AI – Quando nasceu a figura do bispo emérito e quais as ações da Subcomissão que o senhor preside?

Dom Angélico – Somos novos relativamente na Igreja. Apesar de estarmos na terceira idade, começamos com o Vaticano II que se encerrou em 1965. Além dos trabalhos que eu já citei, nós também estamos fazendo um esforço muito bonito, para um aprofundamento teológico do bispo emérito. Então o aprofundamento teológico é um ponto muito importante. Além disso, também estamos trabalhando para que em cada Regional [da CNBB] tenha um bispo referencial no acompanhamento ao bispo emérito. Já fizemos um encontro nacional e já estamos organizando outros, para que a vida e o ministério do bispo emérito dentro da Igreja possam ser reconhecidos e valorizados.

AI – Qual o objetivo fundamental da Subcomissão para os Bispos Eméritos?

Dom Angélico – Zelar pela vida e pelo ministério do bispo emérito. É papel dessa comissão também aprofundar os aspectos jurídicos e os aspectos de comunhão, lembrando sempre que os aspectos jurídicos da Igreja devem servir à comunhão e não o contrário. Lembrar sempre daquilo que disse Jesus: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”. Um outro papel importante é trabalhar incessantemente pela comunhão entre o bispo diocesano e o emérito, entre o bispo emérito e os padres daquela determinada diocese, com os leigos, religiosos. Essa integração é um bem de Deus na Igreja. Eu sou um bispo emérito entusiasmado e acredito que vale a pena realmente sermos eméritos, porque podemos continuar a anunciar o Evangelho de Jesus.

AI – O senhor poderia enumerar alguns pontos que diferem o bispo diocesano do emérito?

Dom Angélico – O bispo diocesano é responsável pelo governo da diocese. O emérito deixa de ter esse governo. Ele não é mais responsável pelo governo da diocese. Mesmo que ele continue morando na diocese, ele não pode interferir em nada no governo da diocese. Mas ele continua sendo missionário de Deus: anunciador da Palavra, por exemplo, para levar a todos que Deus é maravilhoso, que Deus nos ama e que ele envia o seu Filho Bendito em salvação. O bispo emérito continua como o grande orante pela diocese e pela Igreja no Brasil, pelo mundo e por toda a humanidade. Nós, pelo fato de sermos bispos eméritos, deixamos de pertencer à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); continuamos, sim, pelo sacramento da ordem que recebemos a fazer parte do colégio universal dos bispos, mas deixamos de fazer parte da Conferência. Nós estamos propondo que continuemos a fazer parte da CNBB, que é um instrumento de comunhão dos bispos do Brasil com atribuições, evidentemente limitadas, dentro da nossa Conferência.

AI – O que significa o bispo emérito não pertencer à CNBB?

Dom Angélico – A CNBB é um instrumento de colegialidade, de comunhão dos bispos do Brasil. Há uma medida jurídica, que não me parece feliz que exclui o bispo emérito de pertencer a essa Conferência. O ideal, e por isso nós estamos caminhando e estudando, é que o bispo emérito continue a pertencer à Conferência, com atribuições evidentemente limitadas.

48agdomangelicoAI – O que a Igreja deve fazer para o bispo emérito desempenhar um papel maior?

Dom Angélico – É importante que nas dioceses o bispo emérito tenha um trabalho determinado. Algum trabalho que lhe seja oferecido. Há bispos que têm maior facilidade para isso. Outros são mais conhecidos e são convidados para palestras e outras atividades de formação, mas é importante que se ofereça algum trabalho determinado na diocese. Se ele estiver em condições e quiser aceitar aquele trabalho, que o faça, pois esse gesto me parece muito benéfico para ele e para a diocese da qual foi bispo diocesano. Afinal de contas, em todas as civilizações avançadas, a velhice foi considerada também sinônimo de sabedoria acumulada, e nós não podemos descartar a valiosa colaboração que bispos eméritos fisicamente ainda válidos possam dar à construção do Reino de Deus.

AI – Que dificuldades os bispos eméritos enfrentam para continuar sua missão na Igreja?

Dom Angélico – A maior dificuldade é a própria saúde. Velhice não é sinônimo de enfermidade, mas normalmente estamos na fase do ai, ‘dói aqui, dói acolá’, mas realmente essa é uma grande dificuldade que pode aparecer. Acontece também a dificuldade quando o bispo diocesano não se prepara para ser bispo emérito. Psicologicamente, isso vale para todo trabalhador. Se não se preparar para a aposentadoria, se bem que não somos aposentados, podemos cair numa frustração psicológica. É preciso preparação para essa fase. Uma outra questão é a preocupação com o bispo emérito. Nessa Conferência, inclusive, nosso presidente dom Geraldo Lyrio Rocha, fez um apelo para que esses aspectos sejam também zelados. Dificuldades existem, eu tenho até um colega bispo emérito que diz o seguinte, isso vale para o bispo diocesano e qualquer cidadão: resolveu um problema, alegre-se. Resolveu uma dificuldade, fique contente. Mas que fique advertido que dois novos problemas irão aparecer de tal forma que devemos sempre “ser alegres na esperança, firmes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12, 12)”.

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Fotos: Pe. Altevir, CSSp

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