Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV
Bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM)
Acompanhando hoje as Redes Sociais ligadas à nossa Igreja Católica, li e vi várias postagens de Dioceses e Arquidioceses onde o Grito dos Excluídos foi realizado.
Por um lado, rezei agradecendo a Deus por estes meus irmãos no episcopado que puderam ter apoio e fazer acontecer o Grito; rezei e agradeci a Deus por todos meus irmãos e minhas irmãs na fé cristã católica que em suas paróquias, dioceses ou arquidioceses ajudaram a organizar e a realizar o 27º Grito dos Excluídos.
Por outro lado, confesso, não posso negar, para ser sincero, senti uma santa inveja destes meus irmãos no episcopado que conseguiram o apoio em suas dioceses e arquidioceses e puderam realizar o Grito.
Casa de ferreiro, espeto de pau
Sou membro da Comissão Episcopal Sociotransformadora da CNBB, que acompanha as Pastorais Sociais e ajuda na organização do Grito dos Excluídos e na Prelazia onde sou bispo, o Grito não acontece…
Sou membro da Direção da CPT – Comissão Pastoral da Terra, que ajuda a organizar e a realizar o Grito dos Excluídos e na Prelazia onde sou bispo, o Grito não acontece…
Mas quero continuar acreditando que irá chegar o dia em que a Prelazia de Itacoatiara voltará a fazer comunhão com a proposta da CNBB e vamos realizar, também, no dia 7 de setembro o nosso Grito.
Tentativa desde 2017
Como Religioso Vocacionista e Padre, sempre participei da organização e da realização do Grito dos Excluídos, desde o primeiro em 1985 até 2016, o último ano antes de vir para ser bispo na Prelazia de Itacoatiara.
Em 2017, ano que comecei meu serviço como bispo na Prelazia de Itacoatiara, na primeira reunião do Clero, em 1º de agosto, coloquei na pauta a realização do Grito e não consegui apoio. Disseram que a Prelazia não realizava o Grito dos Excluídos nos últimos anos. Fiquei sem entender, mas aceitei a desculpa. Disse que em 2018 iríamos realizar.
Em 2018, coloquei o Grito dos Excluídos na pauta das nossas reuniões do Clero. Mas tive dificuldade de aceitação. A maioria do Clero manifestou-se pouco motivado para abraçar a organização e a realização do Grito. Sem o apoio do Clero não teria como conseguir, sozinho, como bispo, realizar o Grito. O argumento principal era que na cidade de Itacoatiara se realizava todos os anos de 05 a 07 de setembro um evento cultural, um festival de canções que toda a cidade se voltava totalmente para este festival. Mas e as outras Paróquias fora de Itacoatiara?
Definimos, então, que faríamos o Grito no Dia Mundial dos Pobres em novembro. Assim aconteceu em 2018 e 2019 em Itacoatiara, sede da Prelazia. 2020 por causa da pandemia não realizamos.
Este ano, confesso, que nem tentei. Senti que não teria apoio da base. E Grito sem povo não é grito.
Segundo turno do Grito
Se Deus quiser, com o apoio de parte do Clero e dos Leigos e das Leigas que já compreendem que a nossa fé cristã tem uma dimensão social, vamos realizar na véspera do Dia Mundial dos Pobres, dia 13 de novembro, dentro da programação de nosso Seminário das Pastorais Sociais e Organismos, o nosso Grito dos Excluídos, uma espécie de “segundo turno” do Grito, porque a vida deve estar sempre em primeiro lugar, na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!
“O compromisso social tem sua raiz na própria fé; deve ser manifestado por toda a comunidade cristã, e não apenas por algum grupo ou pastoral social; uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para vencer as injustiças celebra indignamente a liturgia” (CNBB nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010 no nº 178). As Diretrizes são de 2008 a 2010, mas o ensinamento permanece válido, sempre!
Jesus ouviu o Grito dos excluídos
Vejamos o episódio narrado por Marcos: “Um mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. Ouvindo que era Jesus, o nazareno, começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. Muitos o repreendiam para que se calasse, mas ele gritava mais alto ainda. Jesus parou e disse: chamai-o. Este lhe perguntou: Que queres que eu te faça. O cego respondeu: Rabuni, que eu veja. Jesus disse: Vai, tua fé te salvou” (10, 46-52).
Lucas registra em seu evangelho que alguns fariseus foram reclamar de Jesus, dizendo: “Mestre, repreende teus discípulos! Ele, porém, respondeu: Eu vos digo: se eles se calarem as pedras clamarão” (19, 39).
A orientação do Papa Francisco
Na Laudato Si’ o Papa Francisco nos convida a “ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres” (nº 49).
Na Querida Amazônia o Papa Francisco diz: “Impõe-se um grito profético e o árduo empenho em prol dos mais pobres” (nº 8).
Diz, também, que “faz-nos mal permitir que nos anestesiem a consciência social, enquanto um ‘rastro de dilapidação, inclusive de morte por toda a nossa região, coloca em perigo a vida de milhões de pessoas’” (nº 15).