Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

 

No dia 7 de setembro comemoramos o dia da Independência do Brasil. Um dia cívico que marca a história do nosso país. Em todos os países o dia da independência é comemorado com toda solenidade e responsabilidade. Afinal é muito bom saber que no rol das nações livres nós podemos nos colocar. Porém com liberdade que supõe responsabilidade. Responsabilidade com os habitantes destas terras, responsabilidade no progresso do diálogo entre as nações, responsabilidade pelos valores éticos que devem reinar nos relacionamentos. Este é também um dia de Ação de Graças por termos conseguido a nossa liberdade e o reconhecimento de nossa soberania como Nação independente. Respeito pela Pátria e convicção de sermos responsáveis pelo desenvolvimento da sociedade brasileira são necessários para que esta independência de fato seja uma realidade concreta. A independência política deve nos levar a muitas outras para sermos um povo livre e corresponsável que caminha respeitando a dignidade humana e dando possiblidade aos habitantes desta nação. Independência econômica e ideológica são supostas nessa missão. Pátria é muito mais que um governo, situação política e ideológica que muitas vezes querem apagar de nossa memória.

Neste dia, terça-feira da 23ª semana do tempo comum, temos na liturgia da missa o Evangelho (Lc 6,12-19) que nos relata a escolha dos discípulos por Jesus. Antes de grandes momentos e decisões Jesus vai a montanha para rezar. Para nós cristão, cidadãos com plenos direitos que habitamos neste torrão somos convidados também a nos colocar em oração pela nossa pátria. Em meio a tantas disputas e polarizações, quando dúvidas ocorrem por todos os lados, esse texto nos ensina a rezar. E é essa a nossa proposta hoje.

Nós, cristãos, membros da Igreja Católica, somos convidados a rezar neste dia para que haja no nosso País igualdade, justiça, fraternidade, e um progresso que nunca deixe de respeitar a dignidade humana e seu desenvolvimento natural. Toda vida é importante. Diante dos grandes desafios que se apresentam à nossa sociedade, queremos fazer um ato de fé e de esperança para que nunca desanimemos, mas sempre sejamos animados pela força da presença do Espírito Santo nas nossas vidas, força esta que nos impulsiona a buscar um mundo novo, a pôr o fermento da luta pela justiça, pelo bem comum e pelo respeito à dignidade humana e à liberdade de cada um. Por isso, nestes dias, todos nós devemos realizar uma prece especial pela nossa Nação.

Nunca deixemos de rezar pelo nosso país, principalmente durante a exposição e Bênção com o Santíssimo Sacramento, um ato de adoração que ainda acontece em nossas comunidades, e que nunca deve ser abandonado. Ao rezarmos o terço ou nossas devoções e, principalmente, na oração da comunidade durante as missas, quando, seguindo modelo da sexta-feira santa, supõe a oração por aqueles que nos governam, ou seja, pelo país onde vivemos. Mas, devemos redobrar nossa súplica ao Senhor do universo, ao Criador do céu e da terra, ao Bom Jesus que de braços abertos nos acolhe como Redentor e Salvador, Ele que manifesta para todos os homens e todas as mulheres a ternura divina, o amor que o une ao Pai pelo Espírito Santo, e que nos fez partícipes desta mesma comunhão divina, para que a nossa Nação viva dias melhores e se desenvolva não só como Nação independente, mas como instrumento de paz, de solidariedade e de justiça.

Nossa oração é um apelo de todos os cristãos do Brasil. Paz, renovação política, moralização, transformação de uma mentalidade que eleja o bem comum como o que é mais sagrado e indispensável para respeitar e cuidar. Buscar convergência para um país onde todos possam viver com dignidade é básico para os cristãos. Junto com nossas responsabilidades civis e procurando ser éticos em nossas atividades, rezemos por nossa pátria:

Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil! Vivemos um momento triste, marcado por injustiças e violência. Para construirmos a justiça e a paz, em nosso país, necessitamos muito do vosso amor misericordioso, que nunca se cansa de perdoar e que nos ensine a viver o perdão.

Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil! Estamos indignados, diante de tanta corrupção e violência que espalham morte e insegurança. Pedimos perdão e conversão. Nós cremos no vosso amor misericordioso que nos ajuda a vencer as causas dos graves problemas do País: injustiça e desigualdade, ambição de poder e ganância, exploração e desprezo pela vida humana.

Pai amado e protetor nosso, nós vos pedimos pelo Brasil! Ajudai-nos a construir um país justo e fraterno. Que todos estejamos atentos às necessidades das pessoas mais fragilizadas e indefesas! Que o diálogo e o respeito vençam o ódio e os conflitos! Que as barreiras sejam superadas por meio do encontro e da reconciliação! Que a política esteja, de fato, a serviço da pessoa e da sociedade e não simplesmente dos interesses pessoais, partidários e de grupos.

Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil! Vosso Filho, Jesus, nos ensinou: “Pedi e recebereis”. Por isso, nós vos pedimos confiantes: fazei que nós, brasileiros, sejamos agentes da paz, iluminados pela Palavra e alimentados pela Eucaristia. Que a Paz reine em nossas fronteiras. Deus habita em nossas cidades.

Pai santo, nós vos pedimos pelo Brasil! Vosso filho Jesus está no meio de nós, trazendo-nos esperança e força para caminhar. A comunhão Eucarística seja fonte de comunhão fraterna e de paz, em nossas comunidades, nas famílias e nas ruas.

Pai do céu, nós vos pedimos pelo Brasil! Neste ano em que tantas vidas foram ceifadas pela pandemia, queremos seguir o exemplo de Maria, permanecendo unidos a Jesus Cristo, que convosco vive, na unidade do Espírito Santo. Vinde, Senhor, em nosso auxílio!

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira desse amado Brasil, Mãe do povo brasileiro, a quem invocamos com filial afeto, rogai por nós que recorremos a vós.

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