“Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais divulgada hoje, 24 de janeiro, pelo Vaticano, no dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales – patrono dos escritores e jornalistas. O Dia Mundial das Comunicações Sociais, este ano, será celebrado em 12 de maio.
Na mensagem, o Papa reflete sobre a evolução dos sistemas de inteligência artificial, que vão modificando “de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil” e reafirma que é a partir do coração humano que as pessoas precisam conseguir fazer um olhar espiritual, recuperando o dom da sabedoria do coração. Somente assim, diz o pontífice, “é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”.
Inteligência Artificial a serviço da vida
Em artigo enviado para o Portal da CNBB, o bispo O bispo de Campo Limpo (SP), dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, fez alguns destaques à mensagem:
“Como o Santo Padre já havia afirmado na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, do dia 1º de janeiro, que teve como tema ‘Inteligência Artificial e Paz’, estamos todos cientes de que os progressos da informática e o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, começaram já a produzir profundas transformações na sociedade global e nas suas dinâmicas. Os novos instrumentos digitais, especialmente com a chamada ‘inteligência artificial’, estão mudando a fisionomia das comunicações, da administração pública, da educação, do consumo, das relações interpessoais e de inúmeros outros aspetos da vida diária”, destacou o bispo no artigo.
De acordo com presidente da Comissão de Comunicação da CNBB, dentre as inúmeras perguntas propostas na mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, referente a esse contexto sociocultural, está uma questão fundamental: “como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?”
Dom Valdir reforça que a mensagem não tem em vista colocar-se contra a técnica, mas em advertir sobre o risco do nosso tempo ser rico em técnica e pobre em humanidade. “Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”.
Para o bispo, as tecnologias da comunicação, em si mesmas, não são boas nem más, depende da finalidade pela qual são usadas. “Infelizmente esses recursos estão sendo utilizados também para espalhar desinformação. Faz parte da evangelização levar o ‘estilo cristão’ ao ambiente digital, de modo a contribuir para uma comunicação honesta e aberta, responsável e respeitadora do outro. É a sabedoria do coração humano, com a mediação das tecnologias, que vai produzir a comunicação a serviço da vida”, reforçou.
Veja, aqui, o artigo “A Inteligência Artificial a Serviço da Vida” na íntegra.
“Discernimento, ética e criatividade”
“Discernimento, ética e criatividade”, assim o membro da coordenação nacional da Pascom Brasil, Marcus Tulius, resumiu a mensagem do Papa em três palavras.
De acordo com ele, a reflexão que o Papa Francisco propõe aos comunicadores é muito pertinente com o tempo que estamos vivendo. “Muitas vezes esperamos respostas prontas e o texto não traz respostas. Ao contrário, levanta uma série de perguntas e chama-nos ao discernimento, que só o ser humano possui para se servir das tecnologias”, disse.
O coordenador nacional da Pascom Brasil enfatiza que quando o “Papa nos chama a partir do coração, em sintonia com as mensagens dos anos anteriores, reforça uma característica primordial do seu estilo comunicativo que é o de humanizar a comunicação.
“Há um ditado que diz ‘não podemos jogar fora a água do banho com a criança dentro’, talvez ele expresse bem o que o Papa traz ao tratar a inteligência artificial. Não devemos ser ingênuos ao utilizar, não podemos ignorar a indústria do lucro e os interesses corporativos que está por trás, não devemos usá-la para a guerra e para a promoção de mentira e jamais anular as pessoas em detrimento de algo que não pensa, não sente e não toca a realidade”, conclui.