Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
A Palavra de Deus, deste domingo, de Mateus 21,28-32, inicia com perguntas e solicitações. “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro ele disse: ‘Filho vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. O Pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?” (…) responderam: “O primeiro”.
A mensagem é bem clara: Não são as palavras que contam, mas o agir, o modo de viver, os atos de conversão e de fé. O filho que disse sim criou uma expectativa de que o trabalho acontecesse imediatamente, pois o pedido do pai foi para ‘hoje’ e quando não se concretizou veio a decepção. O outro filho ao dizer não fechou a questão e o assunto estava resolvido. Ao mudar de ideia para fazer o trabalho solicitado gerou uma mudança para melhor nas relações.
A parábola também revela a instabilidade e a fragilidade do ser humano que se manifesta nas grandes opções de vida, por exemplo, no matrimônio, nos votos da vida religiosa ou no sacramento da ordem. A mesma instabilidade se visibiliza também nas pequenas opções do cotidiano. Quanto ‘sim’ é dito de modo solene, mas depois progressivamente vai se transformando em ‘não’, com todas as suas consequências. Outros, com medo de dizer ‘sim’, preferem dar uma resposta que soa ao mesmo tempo sim e não.
O texto do profeta Ezequiel 18,25-28 resume assim a mudança do sim para o não e vice-versa: “Quando um justo se desvia da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do mal praticado que morre. Quando o ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a vida. Arrependendo-se (…) com certeza viverá”. Portanto, não se trata de um sim que segue um não, mas um sim que destrói o não, deste modo somente o sim subsiste.
A liturgia apresenta um terceiro filho e que é o modelo “O Filho de Deus (…) nunca foi “sim e não”, mas somente “sim”, afirma São Paulo em 2 Coríntios 1,19. Na segunda leitura aos Filipenses 2,1-11, São Paulo ressalta que Cristo existindo em condição divina, não se apegou a esta condição, mas se esvaziou a si mesmo para se fazer escravo dos homens. Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte.
Duas atitudes são fundamentais para conservar o sim, sempre sim: obediência e humildade. Todo sim é uma resposta dada a alguém e a partir daquele momento deve-se obediência. Deixemos a Sagrada Escritura falar: “Se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no amor mútuo (…) se existe ternura e compaixão (…) vivei em harmonia, procurando a unidade. Nada façais por competição ou vanglória, mas com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro” (Fl 2,1-4).
A vida cristã é um sim para: um viver para Deus e para os outros, um compromisso humilde em favor do próximo e do bem comum. A humildade não é uma virtude que goze de grande estima, mas ela torna possível o diálogo, a colaboração e a cria a unidade. A palavra humildade tem sua origem em húmus, isto é ligado à terra, à realidade. As pessoas humildes vivem com os pés na terra, escutam a Palavra de Deus, se esforçam para serem obedientes e fiéis ao sim dado.