Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
A ressurreição do Crucificado, que celebramos na liturgia da Páscoa, é a absoluta novidade do cristianismo. Aquele que foi injustamente condenado, morto como um maldito no madeiro, “desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos” (Is 53,3), Deus Pai o ressuscitou e Ele vive para sempre. “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At, 2,36). Vale dizer que não somente sua ressurreição é a grande novidade, mas exatamente porque foi aquele que fora crucificado, de tal modo que é apropriado olhar sempre para o Crucificado-Ressuscitado, inseparavelmente. No Mistério Pascal, Ele recapitula em si tudo o que existe, reconcilia a humanidade e o cosmos, pois nele Deus quis “reconciliar consigo todas as coisas” (Cl 1,20).
Qual nossa melhor atitude diante desta novidade absoluta? Alegria e gratidão diante de tão grande dom. Nós somos beneficiados por esta imensa graça e somos filhos de Deus pelo nosso batismo, acolhidos e perdoados. Somos ungidos para vivermos nele e portadores desta alegria da ressurreição como o sentido último de nossas vidas e de tudo o que fazemos. Às vezes, sentimos dificuldades de perceber e vivenciar sua presença constante no cotidiano, em meio a tantos sinais de morte e convites à indiferença. Não estamos órfãos e entregues à própria sorte. Alguém é por nós. E isto faz toda diferença. E mais, o Ressuscitado está no cotidiano: vai onde estão os apóstolos, acompanha seus desânimos e sua missão. Esta presença do Ressuscitado dá qualidade humana e evangélica a tudo o que fazemos, promete vida plena. Uma vida sem Deus é como uma árvore envelhecida, que aparentemente está bela e frondosa, mas sua seiva vai definhando e corroendo seu interior, comprometendo seus frutos. O Ressuscitado se contrapõe à “noite”, é “luz”.
A consequência principal na espiritualidade do nosso cotidiano é a certeza que somos suas testemunhas como Jesus pediu: “recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas” (At 1,8). O fim último de todo o viver é a vida plena em Deus. A vida não termina aqui, mas continua em Deus, pois como Cristo ressuscitou, nós também haveremos de ressuscitar. Jesus Cristo ressuscitou como “primícias dos que adormeceram” (1Cor 15,20). A ressurreição do Crucificado nos ensina a manter nossos “corações ao alto”. Este anúncio é deveras essencial e fundamental hoje, na sociedade cada vez mais secularizada.
Enfim, a espiritualidade pascal não é sinônimo de euforia, mas remete nosso olhar para a cruz e, junto com ela, o sofrimento de tantos irmãos. Sabemos que o sofrimento está na vida humana, mas para quem crê, no Crucificado temos um sinal de esperança. Ao ressuscitar o Filho, Deus Pai confirma toda a vida e ação de Jesus. Sua humanidade é modelo para nossa vida sempre. Ao ressuscitar o Filho, Deus confirma sua vida, suas palavras, sua misericórdia. A ressurreição deu um atestado de credibilidade, que o evangelho vivido e anunciado pelo Nazareno é verdadeiro. Mesmo que, muitas vezes, suas palavras foram duras (cf. Jo 6,61), elas são fonte de vida. Nele se tornou visível a nós o caminho de uma humanidade feliz pela proximidade com cada pessoa, sobretudo com os sofredores. Por isso, a Páscoa não é somente um tempo isolado do ano, mas um modo de viver com Cristo, com sua presença, com sua esperança, todos os dias de nossa vida. A Páscoa anuncia o Cristo vivo sempre. Somos portadores desta vida nova, da luz da esperança aos sofredores de hoje.