Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A busca da alegria é a meta essencial que rege o mais recôndito do coração humano. Essa essencialidade se configura como o maior e mais exigente desafio da existência. Requer sabedoria própria para não resvalar o caminho em direções equivocadas, produzindo um tecido sociocultural descartável e ancorado em experiências efêmeras, que aprofundam o vazio existencial. Empurram o ser humano rumo a desejos desarvorados, a práticas de despersonalização, ao gosto pelo exótico e ao distanciamento da vida vivida com simplicidade.
Ninguém consegue viver sem experimentar a alegria. Mas a felicidade autêntica só pode ser alcançada quando a vida se desabrocha como dom de Deus. Isso significa que cada pessoa precisa encontrar o sentido de viver, fazendo da própria existência oportunidade para servir, ajudar, contribuir. Nessa perspectiva, há uma tarefa inadiável, que é de todos: compor – social e culturalmente – tudo que fortaleça as diferentes formas de solidariedade. São urgentes os programas e projetos capazes de dar novas feições aos degradantes cenários sociais e políticos, que desfiguram o rosto da humanidade neste terceiro milênio, mas a efetivação da solidariedade como fundamento social depende da articulação de elementos variados.
Basta pensar que a busca da alegria, vetor que determina condutas individuais, envolve interesses diversos, múltiplos sentimentos, visões de mundo, práticas e posturas. Por isso, é muito necessária uma sabedoria experiencial que se fundamente na espiritualidade e no gosto por uma vida simples. Sem essas referências, mesmo que a pessoa alcance conquistas profissionais e acadêmicas, ou lugares de destaque na sociedade, não consegue experimentar felicidade duradoura, pois a verdadeira alegria é substituída por fugacidades, interesses mesquinhos, idolatria do dinheiro, satisfações passageiras. As instituições empobrecem e tornam-se mais fracas. E a mediocridade, que anda de braços dados com a busca de uma alegria superficial, toma conta de tudo.
Todos precisam reconhecer, e com clareza: para conquistar a felicidade duradoura não é suficiente a cada pessoa voltar-se apenas para si, desconsiderando o outro e a realidade. Viver a vida como dom, buscando sempre servir, é o único modo de contribuir para que a humanidade não se aprisione, cada vez mais, nas escolhas suicidas. Nesse sentido, há de ser ouvida a inspiradora palavra do Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica intitulada “Alegrai-vos e Exultai”, referência bíblica ao Sermão da Montanha, no Evangelho de Mateus. O Papa destaca o que deve ser meta de cada pessoa: viver a santidade no mundo atual – caminho para encontrar a verdadeira alegria.
Sabe-se que a alegria duradoura não está nas coisas materiais. O Papa Francisco, no capítulo 4 da Exortação Apostólica, aponta características da santidade no mundo atual, que são verdadeiros itinerários para se conquistar a alegria. Afinal, felicidade autêntica e santidade – o que se relaciona a uma vida honesta, fraterna, solidária – têm tudo a ver. A Exortação Apostólica, então, detalha grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo, fonte de alegria, remédios para curar enfermidades próprias da cultura contemporânea – negativismos, tristezas, acomodação, ansiedade agressiva, egoísmo, consumismo, individualismo, formas falsas de espiritualidade e tantas outras moléstias.
Nesse itinerário para se conquistar a felicidade, delineado pelo Papa Francisco, está o desenvolvimento da capacidade de suportar situações, de ter paciência e de praticar a mansidão, remédios contra as exacerbações e os radicalismos. Além disso, essas atitudes produzem sabedoria e, consequentemente, a alegria que dá sentido à vida. A partir do caminho indicado pelo Papa, fomentam-se o ardor e a ousadia que curam o ser humano das mediocridades. A alma revigora-se para lutar pelo bem e pela justiça. E cada oferta pessoal que se faz, na busca por um mundo melhor, passa a ser reconhecida como um grande ganho de cada dia.
Que todos possam compreender: a busca por felicidade exige fazer da vida um verdadeiro dom, que pressupõe a dedicação aos outros, irmãos em Cristo. Trata-se de um exercício existencial e humano de relevância inquestionável, particularmente na atualidade, quando há urgente necessidade de se construir um tempo diferente, com relações mais equilibradas, livres da mesquinhez, sem os abismos entre os ricos e os que sobrevivem na miséria. Viver a santidade é o único itinerário para quem está em busca da alegria.