Foi divulgada nesta quarta-feira, 10, a declaração final do 2º Encontro Latino-americano “Igrejas e mineração: uma opção em defesa de comunidades e territórios”, ocorrido entre os dias 2 e 5 de dezembro, em Brasília (DF). O texto foi preparado pelos religiosos, religiosas, leigos e leigas de 13 países da América Latina presentes no evento. A primeira edição da reunião aconteceu em 2013, em Lima, no Peru.
Segundo o texto, os encontros promovidos em Lima e em Brasília são momentos de reflexão, partilha, celebração e de geração de caminhos para um acompanhamento dos impactos da atividade mineradora de forma fiel ao Evangelho e articulada com “os povos de nossa América Latina que se sentem ameaçados e condenados à destruição de seus meios de vida e à negação de um futuro possível, em aberta contradição e tensão deste projeto de vida proclamado pela visão cristã deste mundo”.
Os participantes reafirmaram seu posicionamento contrário ao modelo extrativista promovido pelas grandes corporações. “As economias globais com complacência de quem governa nossos estados nacionais, longe de contribuir ao bem estar de todos e todas, incrementa as desigualdades, as violações aos Direitos Humanos individuais e coletivos, a divisão da família latino-americana e de nossas comunidades, a destruição de zonas privilegiadas por sua riqueza de bens naturais e a diversidade biológica de nosso continente”, dizem na mensagem.
Ainda são elencadas as violações aos direitos fundamentais, o crescimento da crise ecológica e a mercantilização dos territórios e outros bens naturais. “Tudo isto, nosso Deus Criador nos entregou para o sustento da vida, assim como para o seu desfrute e bem estar coletivo, e não para o enriquecimento desmedido que desconhece os direitos coletivos que compartilhamos entre todos os seres humanos que habitam este planeta”, salientam.
No texto ainda há a reafirmação de compromissos com as comunidades em trocas de conhecimento e aprendizagem, estratégias de proteção, defesa e de solidariedade, apoio à produção e apresentação de ações de comunicação local, nacional e internacional, entre outros.
Confira abaixo a declaração:
Declaração Final do 2° Encontro Latino-americano sobre Igrejas e Mineração
Com gozo e esperança, homens e mulheres de fé, provenientes de diversas congregações e confissões religiosas de 13 países da América Latina inspirados na Dimensão Social e Profética do Evangelho, acolhidos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), compartimos as reflexões, valores e compromissos que temos assumido ao longo do 2° Encontro Latino-americano sobre Igrejas e Mineração, celebrado em Brasília de 2 a 5 de dezembro de 2014.
Recorrendo as preocupações e iniciativas de diversas comunidades e Igrejas locais ao longo do continente, sobre as agressões a vida dos Bens Comuns derivada do modelo extrativista, e em continuidade com o 1° Encontro sobre Igrejas e Mineração realizado em 2013, na cidade de Lima, Peru, temos nos reunido para refletir, compartilhar, celebrar e gerar caminhos que nos permitam, em fidelidade ao evangelho de Jesus Cristo, acompanhar de maneira articulada os povos de nossa América Latina que se sentem ameaçados e condenados a destruição de seus meios de vida e a negação de um futuro possível, em aberta contradição e tensão deste projeto de vida proclamado pela visão cristã deste mundo.
Durante estes dias, temos reafirmado imposição ao modelo extrativista, promovido pelas grandes corporações. As economias globais com complacência de quem governa nossos estados nacionais, longe de contribuir ao bem estar de todos e todas, incrementa as desigualdades, as violações aos Direitos Humanos individuais e coletivos, a divisão da família latino-americana e de nossas comunidades, a destruição de zonas privilegiadas por sua riqueza de bens naturais e a diversidade biológica de nosso continente.
Com tristeza reconhecemos que junto as graves violações aos direitos fundamentais de nossa América se tem acentuado a crise ecológica causada por um modo de vida consumista e mercantilista de bens e um modelo extrativista que não reconhece nem respeita os limites de nosso planeta onde se acelera a sua degradação e vulnerabilidade e converte em mercadorias, os territórios de nossos povos originários, os minerais, a biodiversidade, os combustíveis fósseis e o gás natural, a energia do evento, a água do sol e os demais bens naturais.
Tudo isto, nosso Deus Criador nos entregou para o sustento da vida, assim como para o seu desfrute e bem estar coletivo, e não para o enriquecimento desmedido que desconhece os direitos coletivos que compartilhamos entre todos os seres humanos que habitam este planeta. Neste momento histórico temos como a responsabilidade solidária de entregar a nossas futuras gerações um mundo melhor, como o recebemos.
A valiosa diversidade cultural dos povos da América, com cosmovisões respeitosas e harmônicas da Mãe Natureza, se encontra gravemente ameaçada pela imposição deste modelo que monopoliza os territórios a qualquer custo e se converte em um processo ativo de presa, que atropela quem resiste a ele, com mecanismos que vão desde ameaças, a perseguição, cooptação, criminalização, judicialização e até assassinatos de líderes comunitários, defensores e pastores que acompanham estas lutas.
Os meios de comunicação comerciais contribuem para a promoção da falsidade deste modelo, seduzindo a população com promessas que não cumpridas, já que, como expressão extrema deste modelo neoliberal, seu objetivo é a acumulação de capitais e não a distribuição equitativa de bens.
Compartimos alegria com diversos setores e líderes das Igrejas Cristãs e temos assumido a missão profética de acompanhar as comunidades e pessoas que defendem a Criação, a Vida e o Direito frente ao modelo extrativista, como uma forma concreta de fidelidade a nossa missão eclesial nestes momentos da história. Confiamos e esperamos que cada vez mais nossas igrejas, desde as bases, até as hierarquias, assumam posições consequentes frente a problemática gerada por este modelo extrativista e depredador de recursos, tal como se reconhece no documento de Aparecida “…há uma exploração irracional que vai deixando um rastro de dilapidação, e até mesmo a morte, por toda a nossa região”(DA 43).
Diante dessa realidade, nós definimos como uma articulação de indivíduos e organizações religiosas, com espírito ecumênico e inter-religioso, fiéis à nossa opção preferencial pelos empobrecidos e empobrecidas, lutando pela vida real e da Criação.
Em conexão com as comunidades, reafirmamos nosso compromisso de trabalhar com as bases, expressos em trocas de conhecimento e aprendizagem, estratégias de proteção, defesa e de solidariedade, apoio à produção e apresentação de ações de comunicação local, nacional e internacional, entre outros.
Queremos aprofundar uma mística que incentive nossas ações, vamos construir propostas de ação para nos ajudar a avançar nas nossas reflexões teológicas e leituras.
Nós nos comprometemos a continuar a promover a articulação internacional para o diálogo, defesa e informação, em coordenação com outros atores religiosos, como Franciscans International, Vivat International, Mercy International, a Red Cidse, a Rede Eclesial Panamazônica, o Conselho Pontifício de Justiça e Paz, assim como outro atores sociais como o Observatório de Conflitos de Mineração da América Latina e diversas expressões sociais com que compartimos propósitos e visões ao longo do continente.
Que a mística e o espírito de fraternidade que tem caracterizado este encontro, nos anime a assumir com maiores energias a missão profética e a responsabilidade coletiva no cuidado da vida e bens comuns.
Brasília, 5 de dezembro de 2014.
Para nos contactar e conhecer nossas propostas concretas: iglesiaymineria@gmail.com
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES –
Agenda Latinoamericana Mundial
Amerindia Colombia y Continental
Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo – ASETT –
Associação Madre Cabrini, Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus – Brasil
Caritas de El Salvador, El Salvador
Caritas, Jaén, Perú
Centro de Ecología y Pueblos Andinos -CEPA- Oruro Bolivia
Centro de Justicia y Equidad -CEJUE- Puno, Perú
Centro Franciscano de Defesa dos Direitos, Brasil
Claretianos San José del Sur, Uruguay, Paraguay y Chile
Consejo Latinoamericano de Iglesias – CLAI-
Consejo Mundial de Iglesias, Justicia Climática -CMI-
Conselho Indigenista Missionário -Brasil-
Coordinación Continental de Comunidades Eclesiales de Base
CPT Diocese de Óbidos, Pará, Brasil.
Coalición Ecuménica por el Cuidado de la Creación, Chile.
Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração, Brasil.
Comunidades Construyendo Paz en los Territorios – Fe y Política -Conpaz- Colombia.
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil -CNBB-
Comissão Verbita, JUPIC- Amazonía.
Comissão Pastoral da Terra -CPT- Brasil.
Comunidades Eclesiales de Base, Colectivo Sumaj Kausay, Cajamarca, Argentina.
Coordinación Continental de Comunidades Eclesiales de Base.
Coordinadora Nacional de Derechos Humanos, Perú.
Derechos Humanos Sin Fronteras, Perú.
Derechos Humanos y Medio Ambiente de Puno -DEHUMA-, Perú
Diálogo Intereclesial por la Paz en Colombia, DIPAZ, Colombia.
Diocese de Itabira- Fabriciano Minas Gerais, Brasil
Dirección Diocesana Cáritas de Choluteca, Honduras
Servicio Internacional Cristiano de Solidaridad Oscar Arnulfo Romero- Sicsal-.
Comisión Intereclesial Justicia y Paz -Colombia-
Comunidades de Vida Cristiana -CVX-
Departamento de Justicia y Solidaridad de la Conferencia Episcopal Latinoamericana – DEJUSOL, CELAM.
Equipo Investigación Ecoteología, Universidad Javeriana, Bogotá.
Equipo Nacional de Pastoral Aborigen, ENDEPA, Argentina.
Equipe de Articulação e Assessoria as Comunidades Negras do Vale do Ribeira, EAACONE, Brasil.
Franciscans International.
Hermanas de la Misericordia de las Américas, Argentina.
Iglesia Evangélica Presbiteriana de Chigüinto, Chile.
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e econômicas –IBASE-
Irmãos da Misericórdia das Américas Juventude Franciscana do Brasil – JUFRA-
JUPIC SVD – Província BRN
Mercy International
Misioneros Claretianos Centro América y San José del Sur, Argentina
Misioneros Combonianos, Brasil e Ecuador
Movimento dos Atingidos por Barragens no Vale do Ribeira -MOAB- Brasil.
Observatorio de Conflictos Mineros de América Latina -OCMAL-
Oficina de JPIC Sociedad Misionera San Columbano, Chile
Orden Franciscana Seglar, Uruguay
Organización de Familias de Pasta de Conchos, México
Pastoral de Cuidado de la Infancia, Bolivia
Pastoral Indígena, Ecuador
Pastoral Indigenista de Roraima -Brasil-
Pastoral Social Diócesis de Duitama Sogamoso, Boyacá, Colombia
Pastoral Social Cáritas Oruro, Bolivia
Pastoral Social. Diocesis de Pasto. Nariño. Colombia.
Red de Educación Popular de América Latina y el Caribe de las Religiosas del Sagrado Corazón
Radio el Progreso Yoro-ERIC- Honduras
Red Muqui, Perú
Red Regional Agua Desarrollo y Democracia, Piura, Perú
Rede de Solidariedade Missionárias Servas do Espírito Santo, Brasil
Secretariado Diocesano de Pastoral Social, Garzón Huila, Colombia.
Servicio Interfranciscano de Justicia, Paz y Ecología -SINFRAJUPE-, Brasil.
Servicio Internacional Cristiano de Solidaridad con América Latina, Oscar Romero, -SICSAL-
Servicios Koinonia
Vicaría de la Solidaridad, Oficina de Derechos Humanos, Jaén, Perú.
Vicariato Apostólico San Francisco Javier, Jaén, Perú.
Vivat International.