Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo de Niterói (RJ)
Não faz muito tempo, a fé e a devoção eram associadas a pessoas carolas, gente que por não ter o que fazer se encolhia nos bancos das igrejas, em busca de consolo, atenção e prestígio. As pessoas devotas eram aquelas que gostavam de ir à missa e liam livros de acentuada piedade convencional, sem, no entanto, se comprometerem com uma vivência mais efetiva e responsável naquilo que diziam acreditar.
Isso representou uma perda em vários aspectos, sobretudo, em credibilidade representacional: essas pessoas não me representam, pensavam muitos. Por causa dessa falta de identificação, muitos abandonaram a fé, deixaram suas práticas devocionais, ou criaram um jeito particular para renovar suas intenções de crer, que nem sempre refletia o que a Igreja acreditava. Surgiu um pietismo particular, adquirido mais à custa das sensações que dos sentimentos, mais à custa dos prazeres da fé, que mesmo da indagação de até onde ela levaria aquele que crê.
Mas nem sempre foi assim.
Durante a História da Igreja, especialmente, no monarquismo antigo, a devoção não era sinal de fraqueza, mas de força. Os antigos monges falavam do serviço para Cristo como um engajamento de toda vida: a pessoa precisava crescer e amadurecer, interiormente, para poder combater os combates consigo própria.
Era uma espiritualidade forte, que despertou o interesse de homens e mulheres jovens, muitos dos quais foram buscar Deus no deserto. Naquela época, os monges eram chamados de atletas, combatentes por Deus, por quem atravessariam todos os perigos, sem medo.
Era por isso que eles iam para o deserto, o lugar mais desabitado da Terra: se o lugar mais escuro da Terra se iluminasse, seria possível ao mundo adoecido um pouco mais de saúde e de luz.
A fé remove montanhas, sim, e as maiores se encontram dentro de nós.