Dias atrás, em artigo deste nosso jornal, comentava-se a respeito de escritos e discursos em alto estilo gongórico e ultrapassado. É uma advertência necessária para quem escreve ou por profissão ou por diletantismo. Isso me faz voltar ao passado nos tempos de ginásio, quando tínhamos todos de aprender a escrever corretamente nosso idioma.
O rigor do estudo de português é algo que agradeço interiormente até hoje. Professores belgas, que, quando nos ouviam falar errado, logo nos corrigiam, perguntando-nos se não amávamos nossa língua. Entre outras exigências que tinham era a de não nos permitir usar galicismos. Daí me veio a antipatia por “detalhe” e – pior ainda – pelo verbo “detalhar”. Se temos em português o “pormenor” e o verbo “pormenorizar”, poderíamos dispensar o galicismo.
Outro ponto gramatical que não nos era perdoado, caso errássemos, era a colocação dos pronomes oblíquos, com as regras de próclise, ênclise e mesóclise. Espanta-me ainda hoje, quando leio artigos ou notícias em que, até jornalistas que deveriam escrever corretamente, ousam ferir a língua pospondo o pronome oblíquo ao futuro do verbo, tipo: “deverão se fazer” – “não poderá nos obrigar”. Dói nos ouvidos e na alma…
Com isto não estou defendendo certos pernosticismos de linguagem, hoje totalmente fora de moda, como o fez notar, com graça e humor, nosso colega Padre Prata, no seu interessante artigo sobre os discursos do passado. Teve até a humildade de confessar seus “pecados” literários, quando certa vez discursou, ainda adolescente, em nome do Tiro de Guerra, falando de “reminiscências metafóricas” e “no cálido sol das praias verdejantes ”.
Nesta altura, não me parece inoportuno lembrar aos que escrevemos ou pregamos que a palavra, além de correta, tem de ser clara e agradável, breve e portadora de mensagem. Muitos exemplos bons poderíamos citar. Entre tantos exemplos de escritores e pregadores, lembro o grande Santo Ambrósio, bispo de Milão, sob cujo verbo a graça de Deus tocou o coração de Agostinho.
Muitos de nós tivemos ocasião de ouvir pregadores e expositores brilhantes que nos encantavam com o seu verbo, sem abusar da paciência dos ouvintes nem usar de linguagem inaccessível. Em São Paulo, estudante ainda, pude ouvir Mons. Manfredo Leite e, mais tarde, Mons. Castro Neri. Aqui em Uberaba, era comum ouvir elogios às vigorosas pregações de Dom Alexandre, sobretudo as das sextas-feiras santas na liturgia anterior à reforma e ao nosso estimado Juvenal Arduini.
Em resumo, nossa linguagem deve ser correta, clara, objetiva e sucinta, se quisermos comunicar a idéia de que nos sentimos portadores, sobretudo no campo religioso. Falar e escrever – dois caminhos para acender luzes e clarear escuridões.