Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

Estamos chegando ao final do Ano Litúrgico e neste período está muito presente o tema da vigilância (Sabedoria 6,12-16, Salmo 62, 1 Tessalonicenses 4,13-18 e Mateus 25,1-3). O Evangelho deste domingo está inserido, segundo os estudiosos bíblicos, nos “discursos escatológicos” de Mateus. São uma série de ensinamentos de Jesus referentes às realidades últimas. As palavras de Jesus, articuladas em parábolas, exortações, ameaças, despertam diversos sentimentos nas pessoas para alcançarem o objetivo de viverem uma maior sintonia com a vontade divina.   

“O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo”, é a parábola através da qual Jesus alerta para a sentença final: “ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”. A comparação o “Reino de Deus é semelhante” é usado em muitas parábolas para fazer penetrar no mistério do Reino de Deus. Jesus utiliza as muitas ocasiões que a vida cotidiana lhe oferece, mas não permanece nelas. Como mestre sábio leva os interlocutores para horizontes mais amplos e comunica as verdades que os ouvintes não conhecem e nem perceberiam sozinhos. A palavra de Jesus serve para abrir horizontes novos, a aprofundar a realidade jamais suficientemente explorada.  

As celebrações de núpcias, como eram celebradas naquele tempo, servem de moldura para falar do Reino de Deus. Os personagens principais nas núpcias são os nubentes. As núpcias acontecem envolvendo outros personagens e rituais. Assim, o centro da parábola é o próprio Cristo e as dez jovens, que fazem o papel de damas de honra, são todos os seus discípulos, pois a eles Jesus dirigiu a parábola. Todos os personagens da parábola são protagonistas e se movimentam para se encontrarem. A hora do encontro não é exata, mas o encontro é certo. A incerteza desafia à vigilância. Vigiar é olhar para além, superar a angústia do hoje e navegar no espaço do futuro. Vigiar é a tensão para encontrar alguém de modo decisivo e definitivo. Vigiar sempre é encontrar alguém e não coisas. Toda parábola gira em torno do encontro definitivo das jovens com Cristo para participarem da festa nupcial. 

As jovens que esperam o noivo são iguais e tinham a mesma tarefa a cumprir. “O noivo estava demorando, e todas elas acabaram cochilando e dormindo”. Mas quando chega o noivo aparece a diferença entre elas, umas eram “previdentes” e outras “imprevidentes”. Parte delas havia trazido óleo para abastecerem as lâmpadas e outras não. Não havia condições para repartir o óleo, pois não seria suficiente para todas, e nem tempo para comprar. Ser previdente e vigilante faz pensar no amanhã, fugindo da armadilha de se acomodar no hoje que impede de olhar o amanhã. Sábio é quem não se deixa prender no contrapé dos eventos, porque sempre está iluminado pela meta que o guia e o apoia. Para alcançar esta meta pensa nas eventualidades que podem bloquear o seu caminho e reage adotando medidas adequadas. Não se trata de pensar apenas algumas estratégias. As jovens estão fornecidas de pequenos vasos. Bastam pequenas reservas, porém é preciso providenciá-las.  

O mês de novembro inicia com a solenidade de Todos os Santos e de Finados. Falar, rezar, aprofundar a compreensão e a fé de tudo que envolve o tema da morte e da vida eterna deve estar presente na rotina da vida humana e cristã. A primeira carta aos Tessalonicenses oportunamente coloca o tema em pauta. “Irmãos: não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou – e esta é a nossa fé – de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte”. O ensinamento vai ao encontro da parábola do Evangelho para vivermos vigilantes e sermos reconhecidos por Cristo e participarmos da festa da vida eterna. 

 

 

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