Final de Ano, Cristo Rei do Universo

Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru (SP)

Na Liturgia chegamos ao fim de ano. Portanto, para a Igreja termina hoje 2017. Entrando em 2018, já no próximo domingo começa o tempo do Advento que prepara para o Natal.

Encerrando o ano, hoje, a Igreja nos convida a celebrar a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Jesus Cristo, Rei e Juiz escatológico, é o “pastor messiânico”, anunciado pelos profetas, o Ungido de Deus, que virá cuidar das ovelhas e resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersas. De acordo com o profeta Ezequiel, no trecho lido na primeira leitura da santa Missa – Ez 34, 11-17 – Deus mesmo vai apascentar as suas ovelhas, conforme o direito, procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha gorda e forte. Assim diz o Senhor Deus: “Quanto a vós, minhas ovelhas, Eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”. Na segunda leitura – 1Cor 15,20-28 – São Paulo descreve a vitória universal de Jesus sobre a morte, a restauração de tudo e a entrega de seu Reino ao Pai. Assim se manifesta o senhorio de Cristo e a sua realeza universal. Então, Deus será tudo em todos e em todas as coisas. No Evangelho, segundo o relato de São Mateus 25, 31-43, Jesus, Pastor messiânico e Filho do Homem, é o Juiz que vem não só proteger os fracos, mas julgar a todos quanto ao seu comportamento em relação aos fracos. O critério prevalente neste juízo final é especialmente a caridade, o amor, a misericórdia para com os necessitados, os pobres, que são assim como que o sacramento de Deus que dá a graça que salva. Benditos do Pai são os que deram aos famintos de comer, aos sedentos de beber, aos nus de vestir, aos estrangeiros a acolhida, aos doentes o cuidado, aos prisioneiros a visita. Malditos são os que nessas mesmas situações e circunstâncias se omitiram, deixando de fazer o bem a esses pequeninos. Jesus conclui, dizendo: “Em verdade Eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes! Portanto, os maus irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.

Retomo a minha fala sobre o momento atual em que vivemos. Venho falando sobre a preocupação da Igreja quanto à propaganda da imoralidade que ataca a família, santuário da vida, rompendo os limites da ética não só religiosa, mas inclusive da ética da razão pura, do dever, da virtude. Relembro a divulgação da imoralidade, fantasiada de arte, como p.ex. a exposição sobre a “História da sexualidade” realizada pelo MASP, a doutrinação da ideologia de gênero, a propaganda maciça do homossexualismo, tudo isso defendido em nome do respeito à diversidade, à livre orientação sexual e às liberdades em geral.

Sobre o homossexualismo, a Igreja, mãe e mestra, chama a atenção para a distinção que se deve fazer entre as pessoas e os atos, entre a tendência e a prática. Vem de Santo Agostinho a expressão de que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Recentemente, o Papa Francisco tem acentuado a necessidade de se aplicar sempre a misericórdia para com as pessoas que apresentam a inclinação homossexual. Sem negar que essa inclinação, objetivamente falando, é desordenada e que a sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar, o Papa diz que essas pessoas devem ser acolhidas com respeito, delicadeza, compaixão. Na maioria dos casos essa situação se constitui para estas pessoas em verdadeira provação, que inclusive lhes causa não poucos sofrimentos. Deve-se, portanto, evitar todo tipo de preconceito e qualquer sinal de discriminação. Insiste o Papa que estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em suas vidas e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades por que passam por causa de sua condição. O Catecismo fala explicitamente sobre o dever da castidade, a vida casta, que alcança a todos: “Não pecar contra a castidade”. Também as pessoas homossexuais são chamadas à castidade. A castidade faz parte da temperança, conduz ao domínio de si, que exige um esforço constante em todas as idades da vida, especialmente quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência, objetivando a integração correta da sexualidade na pessoa (cf. Catecismo, 2331-2356). As virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, são propostas como meios de busca da perfeição cristã, também a oração, os sacramentos, o apoio de alguma amizade desinteressada e a ajuda de algum conselheiro espiritual levam à santidade. A Igreja condena e repudia, veementemente, as ofensas e, sobretudo, os espancamentos e assassinatos de LGBTIs motivados pelo preconceito.

A Igreja não pode deixar de dizer a verdade, isto é, que a prática do homossexualismo é condenável. Vários textos bíblicos o confirmam, p.ex: Gn 19,1-29; Rm 1,24-27; 1Cor 6,9-10, 1Tm 1,10. No Antigo Testamento, lê-se: “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável” (Lv 20,13). Por isso, o Magistério da Igreja afirma que “os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados” (Declaração Persona Humana, 8). O nosso Catecismo também o diz e, pontuando que são contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida e não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira, em caso algum podem ser aprovados (cf. n 2357). Fazer propaganda a favor do homossexualismo, afirmando inclusive que é algo natural, é mau e condenável.

A Igreja não pode deixar de dizer esta outra verdade: “Deus é misericórdia”, como afirma o Papa Francisco, e “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus” (O nome de Deus é misericórdia).

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