Frutos do Centenário de Dom Helder

Muitos acontecimentos se perderam no tempo, pelo vazio de sua linguagem. Outros, embora festivamente comemorados, não deixaram marcas consistentes. Alguns têm a capacidade de se prolongar na história pelos frutos produzidos. Acontecimentos que passam para a história são aqueles falam, sobretudo, pelos seus protagonistas e pela natureza de sua contribuição para o bem da sociedade local, regional, nacional e internacional.

O Concílio Vaticano II, na comemoração, este ano, dos 45 anos de seu encerramento, é um desses acontecimentos registrados na vida da Igreja e da sociedade, cujos frutos continuam sendo colhidos, abundantemente. Sabe-se que, no Concílio, a ação primeira foi do Espírito Santo e a presença maior foi a do próprio Jesus – “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” (Mt 18,20) No entanto, em se tratando de um acontecimento eclesial, ali também estiveram protagonistas humanos; uns continuam reescrevendo o Concílio, no exercício de seu magistério episcopal, enquanto outros, entre os quais Dom Helder Câmara, contemplam, da Casa do Pai, o benefício que esse acontecimento deixou para a Igreja e a humanidade. A programação do Centenário do seu nascimento, coordenada pelo Regional Nordeste 2, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, pelo Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC) e pela Universidade Católica de Pernambuco, situou Dom Helder como protagonista de muitas iniciativas que são referências importantes, eclesial e socialmente, como a CNBB e o Celam, como ativo participante do Concílio Vaticano II e como corajoso paladino da causa da Justiça Social e dos Direitos Humanos.

Os frutos deste Centenário têm um alcance duradouro. Dom Helder falará sempre pela dimensão humana e pela face orante de sua personalidade. As vivências do seu Centenário ficarão guardadas no coração de muitas pessoas que conviveram com ele ou passaram a melhor se identificar com seu ministério de bispo porque o ouviram, na reapresentação do seu “Olhar sobre a cidade”, na Rádio Olinda, durante dois anos. Uma das expressões materiais da comemoração do seu Centenário, a sua estátua à frente da Igreja das Fronteiras, contém a exigência de que não se enxergue o seu ser e o seu agir somente com “os olhos da carne”, em razão reais limites que têm as aparências. A personalidade, o ministério sacerdotal, a contribuição social e a ação política de Dom Helder, objeto de constante interesse de pesquisadores e historiadores, serão reavivados pela memória do Centenário, através dos seus Anais e da leitura das “Circulares Conciliares” e “Circulares Interconciliares”, providencialmente editadas, sob a supervisão do IDHeC, pela Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, com o apoio do Governo do Estado de Pernambuco. O Centenário de Dom Helder permanecerá presente na ação de agentes pastorais, de animadores de comunidades, em particular, do “Encontro de irmãos”, herança pedagógica do fomento da sua evangelização com os e junto aos “pobres, evangelizando pobres.” Portanto, dada a sua importância, a linguagem da comemoração do Centenário do nascimento de Dom Helder Câmara ultrapassa a programação “Rumo ao Centenário” e do “Ano centenário” que foi cumprida, substancialmente, de 7 de fevereiro de 2008 a 7 de fevereiro de 2010.

Ao encerrar-se a programação do Centenário de nascimento do “Pastor da Paz”, cada membro da Comissão representativa das instituições que animaram as atividades comemorativas – Regional Nordeste 2 da CNBB, Arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto Dom Helder Câmara e Universidade Católica de Pernambuco, – consciente do dever cumprido, pode dizer, como alguém do passado: “Feci quae potui, meliora faciant potentes.” (Fiz o que pude, os que podem façam coisas melhores.)

Dom Genival Saraiva

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