Índios, quando a esperança não é ilusão…

Dom Redovino Rizzardo

No dia 19 de fevereiro, na visita que fez a Três Lagoas, Lula reafirmou a intenção de acabar com o conflito de terras entre agricultores e índios do Mato Grosso do Sul antes do final de seu governo. Dirigindo-se a dois deputados federais do Estado, afirmou: «Dinheiro não é problema. Achem uma área, estou disposto a comprar. Não quero sair do Governo sem encontrar uma solução».

Sendo, porém, que, no Brasil, tudo anda devagar – exceto a corrupção e a violência! – no dia 24 de agosto, por ocasião da visita de Lula à Universidade Federal da Grande Dourados, nos instantes que estive ao seu lado, lhe disse: «Presidente, sei que a questão indígena lhe está no coração. Sei também que o sr. se declara presidente de todos os brasileiros, sejam eles agricultores ou índios. Por isso, a sociedade sul-mato-grossense aguarda ansiosamente por uma solução que, a meu ver, só pode ser fruto do diálogo entre as partes e da interferência direta da autoridade civil e judiciária».

Com amargura, o Presidente me deu a entender que as coisas eram mais difíceis do que imaginava, não por falta de dinheiro, mas pela dificuldade em detectar propriedades rurais que pudessem ser adquiridas pelo Estado e aceitas pela comunidade indígena. Como se percebe, para ir ao encontro de um dos problemas mais graves que afligem a população do Mato Grosso do Sul, também o Presidente, mais do que às demarcações, se posiciona a favor da compra de terra, assim como se faz com os acampados ao longo das rodovias.

Alguns meses depois, no dia 31 de outubro, os índios renovaram suas esperanças. Pelo menos foi o que entendeu um líder do Conselho Missionário Indigenista (CIMI), ao receber, altas horas da noite, um telefonema: «Aqui, na aldeia de Paraguassu, estamos comemorando a vitória da Dilma. Espero que ela, como mulher, mãe e presidente, seja sensível à causa indígena, se preocupe com a difícil situação dos povos Guarani e cumpra a Constituição, demarcando nossas terras e conferindo-nos os direitos que aí temos garantidos».

De minha parte, depois de dez anos numa Diocese onde vivem 45.000 índios, continuo em dúvidas sobre o futuro que os espera. Primeiramente, porque ainda não estou convencido que as autoridades competentes estejam realmente interessadas em buscar uma solução justa e definitiva para índios e produtores rurais. Em segundo lugar, porque me pergunto se os diretamente envolvidos na questão estejam dispostos a se sentar à mesma mesa de negociações, prontos a ouvir as razões dos demais e a respeitar os direitos herdados ou adquiridos de ambas as partes…

As soluções até agora apresentadas dão margem a equívocos e contendas sem fim: a demarcação, porque gera pendências judiciárias que podem se prolongar durante décadas, mantendo índios e produtores rurais numa constante incerteza e ameaça – a não ser que seja sanada por uma indenização integral; a compra de terras, porque, se não for sabiamente conduzida, confinará os índios em territórios que pouco ou nada significam e produzem.

Os problemas que afetam os índios não se resumem à posse da terra. Quem visita suas aldeias, logo percebe que a solução é bem mais simples e abrangente quando o cultivo do solo já existente é uma prioridade. É o que provam e fazem os estudantes de várias escolas nelas existentes. A partir do momento em que são orientados para práticas agrícolas, descobrem nelas não apenas um remédio contra os males que se avolumam a cada dia que passa – a droga, o alcoolismo, os assassinatos, os estupros, o roubo, a prostituição infantil e o suicídio –, mas, sobretudo, a alegria e o orgulho de se sentirem protagonistas do próprio futuro. A mesma experiência está sendo feita por vários religiosos e leigos da Diocese de Dourados. Mais do que confiar nas cestas-básicas e nas bolsas-família, eles preferem caminhar lado a lado com os índios, sustentando atividades no campo da saúde, da educação e da agricultura. É assim que a esperança não é ilusão, como percebeu uma adolescente da Reserva Indígena de Dourados: «É bom morar aqui porque os índios estão muito unidos: há partilha, sinceridade, igualdade e alegria».

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