Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru
No capítulo 13 do seu Evangelho, São Mateus concentrou o Sermão em Parábolas de Jesus. Anotou que num certo dia Jesus saiu de casa em direção ao mar. Chegando lá, aconteceu que sem demora uma grande multidão se reuniu ao seu redor, sedenta de ouvi-Lo. Então, ele dirigiu a palavra em forma de parábolas. Essas parábolas nós as estamos ouvindo na santa Missa destes últimos domingos. Na de hoje, a Liturgia nos traz as três últimas. Conforme Mateus explicou, Jesus ensinou ao povo muitas coisas sobre o Reino de Deus e a sua justiça, usando parábolas, para cumprir as Sagradas Escrituras que anunciavam que o Messias abrirá a boca em parábolas, a fim de expor os segredos do Reino de Deus. As três parábolas lidas hoje são: do tesouro no campo, do negociador de pérolas e da rede de pesca – Mt 13, 44-52.
Na primeira parábola, Jesus contou que o reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e, cheio de alegria, vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. Na segunda, contou que o reino dos céus é ainda como um negociador de pérolas preciosas. Quando encontra uma de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola. Nestas duas parábolas fica evidente em primeiro lugar a gratuidade do achado, isto é, o tesouro e a pérola surgem como por acaso diante do comprador do campo e do negociante de pérolas. Tanto um quanto outro dos protagonistas, respectivamente, não se esforçou para encontrar seja o tesouro seja a pérola, que lhes foram dados por gratuitamente. Assim é a graça de Deus que é sempre um dom gratuito de Deus que a dá quando Ele quer e como quer. O esforço do comprador e do negociante veio depois. Em primeiro lugar, acolhendo com alegria os dons encontrados, e imediatamente, investindo tudo o que tinham de sua propriedade para comprar aqueles bens. É uma comparação com a graça de Deus, em relação à qual nós não temos nenhum merecimento, pois ela é puro dom gratuito de Deus. A lição, então, é esta: a graça que Deus nos dá, sem mérito, exige sim um esforço da nossa parte, o esforço de acolhê-la e de corresponder ao que ela nos propõe, isto é, de abandonar o menos precioso a fim de comprar o mais precioso para a nossa vida. Em outras palavras, exige investir tudo o que temos a fim de conquistar o Reino de Deus.
A parábola da rede, que é muito parecida com a do joio, fala que o reino dos céus é ainda comparável a uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando a rede está cheia, os pescadores a puxam para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. Então, Jesus concluiu, dizendo que assim acontecerá no fim dos tempos, quando os anjos virão separar os homens maus dos que são justos e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes. Ele perguntou aos discípulos: “Compreendestes tudo isso?” Responderam-Lhe: “Sim”. Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da lei que se torna discípulo do reino dos céus é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. A mensagem desta parábola pode ser de sabedoria e de paciência. A rede pode ser comparada com a Igreja neste mundo que deve avançar mar adentro e lançar as redes. Importa trazê-las abarrotadas de variadas espécies de peixes. A sabedoria consiste em deixar a Deus que julgue sobre o valor e qualidade de cada um e que seus anjos façam a seleção na hora certa, seja no fim dos tempos, como sugere a parábola, mas, talvez, também em qualquer outro momento. À Igreja cabe sempre pescar e cada vez mais. Diante da presença do bem e do mal na sociedade, importante mesmo é a paciência na evangelização. A paciência pede que sejamos pescadores incansáveis e perseverantes, não importa o tempo, pois este é determinado por Deus, que sabe o dia e a hora para o juízo e a seleção, separando os maus dos justos.
Fechando o capítulo 13 que traz o Sermão em Parábolas de Jesus, São Mateus considera a Igreja como o novo e verdadeiro Israel e os seus mestres e catequistas como os novos escribas. O mestre cristão, como disse Jesus, é em verdade “o escriba instruído no Reino de Deus”, que sabe tirar do seu tesouro “coisas novas” (o novo ensinamento de Jesus) e “coisas velhas” (as antigas escrituras como fonte de ensinamento, iluminadas pela releitura cristã).
Diante do tesouro do Reino dos Céus ofertado pelo Deus de Jesus Cristo como um dom gratuito, uma graça, o cristão, que é mestre sábio, humilde, paciente e instruído nas coisas dos céus, discípulo e missionário de Jesus, consegue discernir o significado da oferta, o sentido da oportunidade e, enchendo-se de coragem, toma a firme decisão de investir toda a sua vida a fim de realizar o projeto de Deus para um novo céu e uma nova terra e uma nova humanidade. Conhecer a Jesus é conhecer o seu projeto para um mundo novo. Seguir a Jesus é investir tudo para buscar o Reino de Deus e sua justiça. Quem ainda não encontrou o tesouro do Reino precisa empenhar-se ainda mais para conhecer quem é Jesus Cristo.