A liberdade de exercer livremente a crença e a religião está garantida na Constituição do Haiti. De acordo com o previsto em seu artigo 30º: “Todos têm direito a professar a sua religião e a praticar a sua fé, desde que o exercício desse direito não interfira com a ordem pública e a paz”.
No entanto, essa liberdade tem sido ameaçada e religiosos católicos estão com medo de se tornarem vítimas desde que ocorreu o sequestro de um grupo de padres e religiosos, no início de abril. Sete religiosos foram sequestrados por um grupo criminoso no Haiti. Quatro deles já libertados, segundo uma agencia internacional de notícias.
Diante dessa realidade de violência que o país caribenho está passando, provocada por uma grave crise econômica, política e social, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial e a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que sofre (ACN), promovem neste sábado, 1º de maio – festa de São José Operário, uma Jornada de Oração e Missão dedicada à paz no Haiti.
“Nunca vivenciamos momentos de tanta insegurança”
O portal da CNBB conversou com duas freiras missionárias brasileiras que vivem no país. Elas fazem parte da missão ad-gentes e vivem no bairro no bairro Corail, periferia da capital Porto Príncipe, na comunidade Inter-congregacional Nazaré e relatam como a violência e a insegurança têm afetado a missão no país, considerado, o mais pobre das Américas.
Piauiense, a Carmelita da Divina Providência, irmã Ideneide do Rego, está há sete anos como missionária no Haiti. Ela relata que o país é conhecido pela sua pobreza extrema e altos índices de violência manifestadas de variadas formas.
“Desses sete anos que vivo no Haiti, penso que nunca vivenciamos momentos de tanta insegurança pois o país está totalmente dominado por grupos de pessoas que fortemente armadas intimidam e desafiam até mesmo a própria polícia, provocam pavor e ameaças em toda a população”, ressaltou.
Irmã Ideneide destaca que a Jornada de Oração e Missão proposta pela CNBB é importante, pois recorda a caminhada do Povo de Deus que na marcha para a terra prometida, são conduzidos pela presença amorosa de Deus. A religiosa afirma que esse momento de oração dá forças e faz com que os missionários recordem a filiação com Deus, na certeza de que ele cuida com muito carinho de cada um deles que estão doando a vida para outro.
“A Igreja também não está livre dessas perseguições. Recentemente um grupo de cinco padres, duas religiosas e três leigos foram sequestrados. Quatro já foram liberados, porém ainda tem seis que continuam no cativeiro, não sabemos por quanto tempo. Toda esta realidade na causa insegurança e desestabilização e vivemos na mira do medo e incerteza de quem será a próxima vítima”, pontuou.
Desafios da Missão
A irmã Maria Lusitania de Sousa, carmelita da Caridade de Vedruna, está há dois anos e dois meses na missão ad-gentes no Haiti e vive na comunidade Inter-congregacional Nazaré. A religiosa fala dos desafios de ser missionária em uma realidade de vulnerabilidade social. Segundo ela, o poder público nada oferece para somar ao que as pessoas encontram no projeto desenvolvido pelas religiosas.
A religiosa destaca que, apesar da onda de violência e insegurança, o coração arde e a chama missionária se fortalece quando contempla os rostos daquelas mulheres, idosos, crianças da comunidade que manifestam no olhar a alegria com a nossa presença, diária, das religiosas entre eles.
“Essa onda de violência, pelo que ouvi de algumas pessoas, não é novidade. Já ocorre há alguns anos e gera muita insegurança, para todos nós. Não somente para os religiosos, mas, para toda a população. E todos nós estamos expostos a isso. Eu sinto que nos exige ter muita prudência ao sair de casa, principalmente se saímos com nosso carro. Atenção às rotas que fazemos, evitar trechos desérticos ou lugares que os nossos ‘anjos protetores’ do Corail nos pedem para evitarmos”, reflete.
Para Irmã Maria Lusitania, a oração é como uma dimensão que ajuda muito a seguir corajosamente, na certeza de que a vida só tem sentido quando é gasta em prol daquilo que se acredita pelo e para o Reino de Deus.
“A oração é uma coluna central em nossas vidas, temos essa ânsia, a necessidade de Deus e acredito que o maior presente, dom ou graça que uma pessoa pode oferecer para a outra, é a oração. Essa é a maneira mais eficaz de se aproximar e se fazer presente em uma realidade, ou seja, na vida de outras pessoas. Mas, além das orações aqueles que quiserem e poderem ajudar financeiramente, mesmo que seja pouco, será bem-vindo via CRB. Esse dia de comum união em prol do Haiti, é um momento em que muita energia positiva chegará até nós, ao povo haitiano que já tão sofrido e espoliado, mas alegre, com uma grande confiança em Deus e cheio de esperança”, enfatiza.
A Jornada de Oração e Missão
A Jornada de Oração e Missão faz parte de uma série, na qual se sublinha o valor da oração como “agir missionário”. De acordo com o assessor da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB, padre Daniel Rocchetti, a ação é um convite para que, cada um, faça a sua oração pelo país e ou por uma determinada intenção particular.
“A iniciativa foi escolhida para ser realizada no dia primeiro de cada mês, em memória a Santa Teresinha, padroeira das missões”, destaca o padre.
A proposta do projeto é que no dia primeiro de cada mês a Jornada de Oração e Missão seja dedicada a um país que também esteja vivendo conflitos e aos cristãos que estão vivendo na localidade. A primeira edição do projeto aconteceu no dia 1º de abril dedicada à paz em Mianmar.
“Rezar pelas missões também é ser missionário”, aponta o padre Daniel. Para esta ocasião, ele orienta que a criatividade de quem reza é que vale: “um terço, uma ladainha, uma oferta espiritual ou até mesmo um pensamento pela intenção e situação já estão valendo”.
A iniciativa também pode ser estendida às redes sociais. Utilize a hashtag #rezepelohaiti e esteja em sintonia.
Confira o vídeo de divulgação: