Jubileu do 1° Ano Vocacional do Brasil

Em 2008 celebramos os 25 anos de um grande mutirão que mobilizou a Igreja em todo o Brasil. O 1° Ano Vocacional foi um marco e as sementes lançadas em 1983 produziram, produzem e produzirão frutos por muito tempo. Na reportagem especial, de autoria do diretor da revista Rogate, Pe. Juarez Albino Destro, é possível conhecer um pouco mais sobre esta história

O Dia Mundial de Oração pelas Vocações

Em 1971, na assembléia do clero de Santo Ângelo (RS), aprovou-se a realização de um mês vocacional naquela diocese. O bispo da época, D. Aloísio Lorscheider, que esteve à frente da diocese de 1962 até 1973, levou a sugestão ao clero local, motivado pelas celebrações do Dia Mundial de Oração pelas Vocações. O “Dia do Bom Pastor”, como passou a ser conhecido o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, foi instituído em 1964 pelo papa Paulo VI. Três anos depois, em 1967, D. Aloísio passou a ser o secretário da CNBB, cargo que exerceu até 1971, quando foi eleito presidente (até 1979). Vale ressaltar que ele também foi presidente do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM) de 1976 a 1979. Pessoa bastante influente e atualizada, consciente dos novos rumos trazidos pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), o então bispo de Santo Ângelo percebeu que as celebrações do Dia do Bom Pastor ainda não eram bem animadas e sentiu a necessidade de fazer algo mais para a conscientização da necessidade de se rezar e trabalhar pelas vocações.

No 7º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, realizado em 1970, certamente D. Aloísio leu a insistência de Paulo VI em sua mensagem para a ocasião: “O dever de fomentar as vocações sacerdotais pertence a toda a comunidade cristã, que, em primeiro lugar, deverá cumpri-lo por meio de uma vida plenamente cristã (Optatam Totius, 2). Com efeito, a própria vocação cristã […] encontra a sua expressão e o seu ponto culminante na vocação sacerdotal e religiosa. Esta vocação é inconcebível se precedentemente não for despertada e educada a vocação cristã. É neste ponto que se manifesta o índice claro e inequívoco da vitalidade de cada uma das comunidades paroquiais e diocesanas” (Paulo VI, Mensagem para o 7º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 15/03/1970, n. 100).

“O que minha diocese poderia fazer para despertar e educar a vocação cristã, segundo o apelo do papa?”, pode ter pensado D. Aloísio na época…

O Concílio Vaticano II

Nos anos pós-Concílio Vaticano II respirava-se “novos ares” também no âmbito das vocações. Aliás, pode-se dizer que, pela primeira vez na história, um Concílio Ecumênico ocupou-se do tema “vocacional”. A matéria, ao final, resultou distribuída em vários documentos do Concílio.

A Pontifícia Obra das Vocações, instituída pelo papa Pio XII em 1941 (organismo pertencente à Congregação para a Educação Católica – dos Seminários e dos Institutos de Estudo), nos primeiros anos logo após a conclusão do Concílio, desenvolveu um amplo programa de eventos, organizando e realizando diversos congressos com o objetivo de sensibilizar os responsáveis pelas vocações dos diversos países, a fim de trocar experiências e iniciar uma caminhada em comum.

Foram realizados quatro congressos internacionais, nos anos de 1966, 1967, 1969 e 1971. No primeiro, apenas os coordenadores vocacionais da Europa foram convidados, por motivos práticos. No terceiro, em 1969, representando a América Latina, participou o secretário do então DEVOC (Departamento de Vocações) – hoje DEVYM (Departamento de Vocações e Ministérios) – do CELAM. Por fim, o congresso de 1971 ofereceu uma valiosa contribuição às Igrejas nacionais, na elaboração de seus “Planos de Ação” para as vocações. O trabalho de aplicação do Vaticano II entrava cada vez mais nas bases.

Vale lembrar que o Concílio acabou renovando os objetivos da Pontifícia Obra das Vocações, tornando-a mais abrangente, responsável por animar toda a atividade pastoral para as vocações, trabalhando em vários níveis de circunscrição eclesiástica – diocese, região, país –, sob a coordenação dos pastores locais, com a colaboração de todos os responsáveis, a serviço de todas as vocações, para o bem de toda a Igreja.

De Santo Ângelo para o Brasil

A experiência da celebração do mês vocacional na diocese de Santo Ângelo logo ganhava adeptos. A escolha do mês de agosto, segundo o bispo emérito daquela diocese, D. Estanislau Amadeu Kreutz (que ficou à frente da diocese de 1973 a 2004) foi para fugir de alguns tempos litúrgicos importantes, como o Advento, a Quaresma e o Tempo Pascal, e devido à memória litúrgica de São João Maria Vianney, o padroeiro dos párocos, celebrado no dia 04 de agosto. “Inicialmente incentivávamos mais explicitamente as vocações presbiterais”, afirmou D. Estanislau em entrevista ao Instituto de Pastoral Vocacional. “Quando a proposta da celebração do mês vocacional foi abraçada também pelo Regional Sul 3 da CNBB, correspondente ao Rio Grande do Sul, abrimos os horizontes para destacar uma semana para o serviço da animação vocacional de cada vocação específica: a primeira semana veio a concentrar-se sobre a vocação presbiteral; a segunda semana sobre a vocação matrimonial ou familiar; a terceira semana sobre a vocação à vida consagrada, e a quarta sobre a vocação do ministério dos leigos. Havendo um quinto domingo, ele era dedicado à missão dos catequistas” (entrevista completa na agenda vocacional Caminhos 2008, p. 84 e 120).

No Encontro Nacional de Pastoral Vocacional de 1974, realizado no Rio de Janeiro, já é possível verificar algumas indicações referentes à fixação de datas vocacionais, como dias, semanas ou meses. Sugeriu-se, por exemplo, que os Regionais da CNBB promovessem “mês e semana vocacionais” (Estudos da CNBB 5, p. 148). E os participantes do encontro sugeriram à coordenação nacional que procurasse “fixar datas: semana, mês ou ano vocacional” (idem, p. 150). Não é difícil perceber a influência da experiência do Regional Sul 3 da CNBB – Rio Grande do Sul – no âmbito nacional.

As indicações foram ganhando força, motivadas por experiências bem sucedidas de outras dioceses e até Regionais da CNBB, como por exemplo a realização do Ano Vocacional no Regional Sul 2 – Paraná –, em 1973 (cf. revista Rogate 11, abr/1983, p. 9-10). Desta forma, no Encontro Nacional de Pastoral Vocacional de 1980 houve a proposta concreta de se instituir agosto como o mês vocacional no país e também a realização, em 1983, de um Ano Vocacional. As duas propostas foram levadas à Assembléia da CNBB de 1981 e foram aprovadas: “O ano de 1983 seja o Ano Vocacional para todo o Brasil, e que todas as campanhas de nível nacional, diocesano e paroquial sirvam de conscientização e formação de vocações. O mês de agosto seja assumido, em todo o território nacional, como o mês vocacional, e a Linha 1 dos Organismos Nacionais de Pastoral de CNBB, através do setor de vocações e seminários, coloque em comum as diversas iniciativas dos Regionais e dioceses” (Documentos da CNBB 20, n. 258 e 259). Vale recordar que atualmente é a “Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada” a grande articuladora das iniciativas em âmbito nacional.

Uma última constatação. O início do pontificado de João Paulo II, com grande enfoque à questão vocacional e ministerial, e sua visita ao Brasil, em 1980, também favoreceram a escolha do tema da assembléia da CNBB de 1981 – “Vida e Ministério do Presbítero; Pastoral Vocacional” –, que direta ou indiretamente ocasionou a instituição do mês vocacional e do primeiro Ano Vocacional no país, há 25 anos!

A abertura oficial do Ano Vocacional ocorreu no 20º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, em 24 de abril de 1983. O tema: “Vem e segue-me”. A oração vocacional é rezada ainda hoje (ver abaixo).

Em 2003 foi realizado o segundo Ano Vocacional no país, 20 anos após a primeira experiência, com o tema: “Batismo, fonte de todas as vocações”, e o lema: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5,4).

Pe. Juarez Albino Destro, RCJ

Oração do Ano Vocacional de 1983

Senhor da Messe e Pastor do Rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite:
“Vem e segue-me”.
Derrama sobre nós o teu Espírito,
que ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir tua voz.

Senhor, que a Messe não se perca por falta de Operários.
Desperta nossas comunidades para a Missão.
Ensina nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino
na vida consagrada e religiosa.

Senhor, que o Rebanho não pereça por falta de Pastores.
Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres e ministros.
Dá perseverança a nossos seminaristas.
Desperta o coração de nossos jovens
para o ministério pastoral em tua Igreja.

Senhor da Messe e Pastor do Rebanho,
chama-nos para o serviço de teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder SIM.

Amém.

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