Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Jesus reza louvando o “Pai, Senhor do céu e da terra”, porque aos pequeninos foram revelados os mistérios divinos. A seguir faz um convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. A liturgia dominical (Mateus 11, 25-30, Zacarias 9,9-10, Salmo 144 e Romanos 8,9.11-13) revela um rosto divino que é humilde de coração, justo, salvador e manso.
Vivemos num tempo em que tudo deve ser excepcional, extraordinário, grandioso, super, hiper, mega, nota mil, entrar no guinness. Da parte de Deus também se espera ações milagrosas, intervenções impactantes. Parece que se tem medo das coisas normais, simples e humildes. Os textos bíblicos nos convidam a valorizar, redescobrir e propagar que a simplicidade, a humildade é algo belo e bom. Simplicidade não é ser simplista, mas ser capaz de reconduzir as múltiplas coisas ao que é essencial, pois isto fundamenta a vida.
A oração de Jesus se volta ao “Pai, Senhor do céu e da terra”. Uma oração de louvor porque os “pequeninos” e não os “sábios e entendidos” foram os destinatários das “coisas” de Deus. O primeiro ensinamento de Jesus é tornar-nos capazes de louvar. O que é louvar a Deus? “O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que ele mesmo é, lhe dá glória, por aquilo que Ele é mais do que por aquilo que ele faz. Participa da bem-aventurança dos corações puros que o amam na fé antes de o verem na glória. Por ela, o Espírito se associa a nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus, dando testemunho ao Filho único, em quem somos adotados e por quem glorificamos o Pai. O louvor integra as outras formas de oração e as leva àquele que é a sua fonte e seu término: “existe um só Deus, o Pai, do qual vem todos os seres e para ao qual nós existimos “(1 Cor 8,6) (Catecismo da Igreja Católica, n.2639). Portanto, a oração de louvor é totalmente desinteressada, dirige-se a Deus, o canta por ele mesmo, lhe dá glória por aquilo que Ele é, mais do que pelo que Ele faz.
O convite de Jesus se dirige aos “cansados e fatigados sob o peso dos fardos”. As causas da fadiga e do cansaço são as mais variadas. Uma multidão não tem as condições para satisfazer as necessidades básicas: alimento, saúde, casa. Há muitos refugiados e migrantes a procura de um lugar mais digno. Outros têm as condições materiais ou até demais, mas vivem insatisfeitos e uma vida sem sentido. A todos se dirige o convite de Jesus: “Vinde a mim, todos vós ….”.
Jesus promete dar a todos “alívio’, mas sob uma condição. “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. O que é o “jugo”, que em vez de pesar alivia, e em vez de esmagar conforta? O “jugo” de Cristo é a Lei do AMOR, é o seu mandamento deixado para os discípulos e para todos os seguidores. É o seu modo de agir, de se relacionar, de se posicionar diante das múltiplas situações vitais. Quando se coloca um jugo ou uma canga num animal é para permitir que possa potencializar a sua força e realizar a tarefa com menos dor e sofrimento. É um auxílio necessário.
Amar é um “jugo” porque é o verdadeiro remédio para as feridas da humanidade, quer materiais, como a fome e as injustiças, quer para dar um sentido para a vida, quer para os problemas éticos por dar um parâmetro. Para o cristão a fonte do amor é Deus. Jesus pede para aceitar o jugo do amor que faz a pessoa humilde, simples e “ter um coração semelhante ao do Senhor”, como se reza na Ladainha do Sagrado Coração de Jesus.