Membro da coordenação nacional da Pastoral do Surdo fala dos desafios da inclusão na Igreja no Brasil

Três datas são especiais nos próximos dias para as pessoas com deficiência no Brasil e no mundo. No dia 21 de setembro, foi o Dia Internacional de luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, dia 26, é o Dia Nacional dos Surdos, e dia 30, o Dia Nacional dos Tradutores e Intérpretes.

O portal da CNBB conversou com o Samuel Ferreira de Souza, coordenador nacional da Pastoral do Surdo desde janeiro deste ano. Em Campo Grande, ele participa das paróquias São João Bosco e Nossa senhora Aparecida. Desde 1990, atua na Igreja Católica e na Pastoral dos Surdos, tendo sido membro de coordenação paroquial e da coordenação regional.

Em função de uma grave meningite, Samuel perdeu 100% da audição quando ainda tinha 7 anos de idade. Nascido no interior de São Paulo, em Presidente Venceslau, ele mudou-se para Campo Grande (MS) aos 15 anos de idade. Na capital do Mato Grosso do Sul aperfeiçoou-se na Língua Brasileira de sinais (Libras), formou-se em Serviço Social, fez uma pós-graduação em Educação Especial Inclusiva e um curso técnico em Administração e Recurso Humanos. Hoje ele atua como capelão hospitalar no atendimento às demandas dos surdos junto aos hospitais.

Uma Igreja para todos

Na visão do Samuel, para a Igreja no Brasil se tornar  mais inclusiva é necessário que ouça a voz de Deus por meio do seu Santo Espírito e faça cumprir a palavra dita e lida por Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (cf. Lc. 4, 18).

Ele defende que as pessoas com deficiência precisam ser vistas por suas potencialidades e não por suas limitações clínicas. “Acreditamos que foi esta sensibilidade que o Cristo Jesus teve ao se dirigir ao menor, ao que necessitava dele, e é assim que gostaríamos que a Igreja e seus representantes nos vissem”, disse.

Segundo o coordenador da Pastoral dos Surdos, para que seja mais acessível a Igreja precisa pensar uma proposta de Igreja para todos.  “Uma Igreja que não limita e sim, capacita. Uma Igreja que congrega e não segrega. Uma Igreja que potencializa e não discrimina”, afirmou.

Ele aponta como uma grande dificuldade ainda encontrada pelos surdos na Igreja é o fato das comunidades querer “normalizá-los”. “As comunidades nos querem ouvintes. Elas não nos permitem ser surdos. Não nos permitem expressar como surdos”, avaliou.

Cultura e identidade dos surdos

Ele conta que a Pastoral do Surdo tem buscado capacitar e ofertar cursos na tentativa de mostrar aos religiosos  que a cultura e a identidade surdas caminham em consonância com a Igreja. “Para além disso, nossa Pastoral ainda procura sempre o caminho do diálogo, da oração e da vivencia do amor apontando possíveis soluções aos questionamentos ou até mesmo dificuldades para lidar com nosso povo surdo”, avaliou.

Isto, em sua avaliação, faz com que não seja investido em agentes para atuarem em na Pastoral do Sudro como tradutores e intérpretes que entendam a Libras. Um outro desafio, segundo o Samuel, é ter mais sacerdotes abertos às demandas sacramentais e conhecedores da Língua Brasileira de Sinais.

Ele aponta que a Pastoral do Surdo no Brasil percebe que a Igreja está se abrindo ao acolhimento dos surdos. Isto, em sua avaliação, passar por um processo de entendimento dos ouvintes (pessoas não surdas). Contudo, ele destaca que a cultura surda ainda causa certo incômodo na celebração dos sacramentos, como a Eucaristia.

“Frutos estão sendo criados quando as diversas comunidades percebem as necessidades dos irmãos menos favorecidos e muitas vezes excluídos de nosso meio e de nossa Igreja. Frutos estes que podemos dizer que além do espaço ofertado, vemos já sorrisos para nossos trabalhos, valorização de nossas atividades pastorais e, ainda, reconhecimento pelo trabalho prestado e atenção dada às nossas demandas”, afirmou.

 

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