Divulgada a primeira mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz: rumo a uma paz desarmada e desarmante

Foi divulgada nesta quinta-feira, 18 de dezembro, a primeira mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro de 2026. Ele escolheu como tema “A paz esteja com todos vós. Rumo a uma paz desarmada e desarmante”, recordando a saudação de Jesus ressuscitado aos seus discípulos também utilizada no início do pontificado.

“Esta é a paz do Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Ela provém de Deus, o Deus que nos ama a todos incondicionalmente.”

Leão XIV fala da presença de Cristo, nossa paz, que reverbera “na perseverança de muitas testemunhas, tonando-se ainda mais perceptível e luminosa na escuridão dos tempos”. A figura luminosa da paz é escolhida por ele para contrapor à escuridão.

“A paz existe, deseja habitar-nos, tem o poder suave de iluminar e alargar a inteligência, resiste à violência e a vence. A paz tem o sopro da eternidade: enquanto ao mal se ordena ‘basta!’, à paz se suplica ‘para sempre’. O Ressuscitado introduziu-nos neste horizonte. É neste sentir que vivem os promotores da paz que, no drama daquilo que o Papa Francisco definiu como ‘terceira guerra mundial em pedaços’, ainda resistem à contaminação das trevas, como sentinelas na noite”.

Paz desarmada

“A paz de Jesus ressuscitado é desarmada, porque desarmada foi a sua luta, dentro de precisas circunstâncias históricas, políticas e sociais”, escreveu o Papa. E os cristãos devem tornar-se, juntos, testemunhas proféticas desta novidade, conscientes das tragédias das quais muitas vezes foram cúmplices, segundo o pontífice.

O Papa refletiu sobre o sentimento de impotência naqueles que tem um coração pronto para a paz. Mas motiva a desejá-la, nutri-la e possuí-la. “Se a paz não for uma realidade experimentada, guardada e cultivada, a agressividade espalha-se, tanto na vida doméstica, quanto na vida pública”.

Na relação entre cidadãos e governantes, e no plano político, o Papa cita a relação baseada no medo e no domínio da força, pontua o aumento nas despesas militares mundialmente ao longo de 2024 e o estabelecimento de políticas educativas “que difundem a percepção de que se vive continuamente sob ameaça e transmitem uma noção de defesa e segurança meramente armada”. Outra realidade citada pelo pontífice diz respeito aos recentes avanços tecnológicos e a aplicação das inteligências artificiais no âmbito militar radicalizaram a tragédia dos conflitos armados.

 

Paz desarmante

A segunda parte do tema escolhido pelo Papa toma como base o mistério da encarnação.

«Paz na terra», cantam os anjos, anunciando a presença de um Deus indefeso, pelo qual a humanidade só pode descobrir-se amada cuidando d’Ele (cf. Lc 2, 13-14).

Aqui, a reflexão aponta para o poder da fragilidade em traspassar o coração e fazer questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e comunidade. Assim, Leão recorda o convite ao desarmamento integral proposto por São João XXIII na carta encíclica Pacem in terris, a partir da confiança mútua.

Segundo o Papa Leão, esse é “um serviço fundamental que as religiões devem prestar à humanidade sofredora”. As grandes tradições espirituais, assim como o reto uso da razão, fazem-nos ir além dos laços de sangue e étnicos, ou daquelas fraternidades que reconhecem apenas quem é semelhante e rejeitam quem é diferente, segundo o Papa.

“Hoje vemos como isso não é óbvio. Infelizmente, faz parte do panorama contemporâneo, cada vez mais, arrastar as palavras da fé para o embate político, abençoar o nacionalismo e justificar religiosamente a violência e a luta armada. Os fiéis devem refutar ativamente, antes de tudo com a sua vida, estas formas de blasfémia que obscurecem o Santo Nome de Deus”.

Num tempo em que a justiça e a dignidade humana estão, mais do que nunca, expostas aos desequilíbrios de poder entre os mais fortes, o Papa aponta que é necessário “motivar e apoiar todas as iniciativas espirituais, culturais e políticas que mantenham viva a esperança, combatendo a difusão de ‘atitudes fatalistas a respeito da globalização, como se as dinâmicas em ato fossem produzidas por forças impessoais anônimas e por estruturas independentes da vontade humana'”.

O Papa convida a contrapor à estratégia de semear o desânimo e de despertar uma desconfiança por meio do desenvolvimento de sociedades civis conscientes, de formas de associativismo responsável, de experiências de participação não violenta, de práticas de justiça restaurativa em pequena e grande escala.

“Que isso seja um fruto do Jubileu da Esperança, que levou milhões de seres humanos a redescobrirem-se peregrinos e a iniciarem em si mesmos aquele desarmamento do coração, da mente e da vida, ao qual Deus não tardará em responder, cumprindo as suas promessas”, escreveu o Papa.

 

Leia a mensagem na íntegra. 

 

 

 

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