Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru (SP)
Agosto foi mês das vocações, setembro é mês da Bíblia, outubro será mês das missões. Assim segue o Ano Litúrgico, destacando aspectos da vida e missão da Igreja e de cada um de nós como fiéis cristãos batizados. Cada um de nós tem uma vocação, por exemplo, para a vida em família ou a sacerdotal ou a religiosa ou a laical. Para todos nós a Palavra de Deus é luz que ilumina os nossos passos. Todos nós devemos ser discípulos e missionários de Jesus Cristo a serviço da vida. Eis aqui o resumo de agosto, setembro e outubro.
Pois bem, As Sagradas Escrituras têm como centro a pessoa de Jesus Cristo. Ir até elas é ir até um dos lugares especiais para se fazer o encontro pessoal com Jesus Cristo. Neste sentido costuma-se repetir o pensamento de São Jerônimo, o que fez a primeira tradução da Bíblia para o latim, que disse: “Conhecer a Bíblia é conhecer a Cristo, ignorar a Bíblia é ignorar a Cristo”. Além disso, a Igreja ensina que o conhecimento e a vivência dos ensinamentos das Sagradas Escrituras levam todo o cristão e toda a comunidade a subir na escalada das virtudes e da santidade de vida. Mais ainda a Igreja ensina que a formação bíblico-doutrinal que prioriza a escuta, o conhecimento, a meditação, a oração, a vivência e o anúncio, ou seja, a “Leitura Orante da Bíblia”, os conduz sempre mais à conversão pessoal e comunitária, à renovação bíblica pastoral, ao comprometimento missionário e à dedicação aos pobres e sofredores.
Com efeito, é tradição perene da Igreja que o melhor leitor da Bíblia é o “leitor orante”, que aprendeu a se aproximar do texto sagrado com “espírito orante”. E a melhor leitura da Bíblia é a “leitura espiritual”, a que se faz com a oração, na linguagem própria do Espírito que com gemidos inefáveis intercede e ao mesmo tempo produz em favor do leitor orante o fruto do encontro vital com Deus. O Papa emérito Bento XVI, na Exortação Apostólica “Verbum Domini” (A Palavra do Senhor), de 2010, desejando incentivar a retomada da prática antiga da “Lectio Divina” (Leitura Divina), relembra dos santos padres das origens da Igreja o que eles disseram sobre esta leitura da Bíblia. Por exemplo, de Santo Agostinho o que ele disse: “A tua oração é a tua palavra dirigida a Deus. Quando lês, é Deus que te fala; quando rezas, és tu que falas a Deus”. De Orígenes, o que ele escreveu em sua Carta a Gregório, dizendo-lhe: “Dedica-te à ‘lectio’ das divinas Escrituras; aplica-te a isso com perseverança. Empenha-te na ‘lectio’ com a intenção de crer e agradar a Deus. Se durante a ‘lectio’ te encontras diante de uma porta fechada, bate e ser-te-á aberta por aquele guardião de que falou Jesus: ‘O guardião abrir-lha-á’. Aplicando-te assim à ‘lectio divina’, procura com lealdade e inabalável confiança em Deus o sentido das Escrituras divinas, que nelas amplamente se encerra. Mas não deves contentar-te com bater e procurar; para compreender as coisas de Deus, tens necessidade absoluta da oração. Precisamente para nos exortar a ela é que o Salvador não se limitou a dizer: ‘procurai e encontrareis’ e ‘batei e ser-vos-á aberto’, mas acrescentou: ‘pedi e recebereis’”. O Papa destaca que o momento da oração (oratio) surge como necessidade de se responder à Palavra de Deus nas formas variadas de pedido, intercessão, ação de graças e louvor. Mas conclui-se com a contemplação (contemplatio) que leva a uma renovação da mente, do coração e da vida rumo a uma identificação com a vontade de Deus, a um sentir e ver o que é bom, agradável e perfeito segundo Deus e o pensamento de Cristo (cf. Rm 12,2; 1Cor 2,16) (Verbum Domini, 86-87).
O Evangelho da santa Missa de hoje – Mt 16,21-27 – é sequência do domingo passado. Lá, para recordar, Simão fez uma declaração bonita que recebeu elogio de Jesus. Ele disse a Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. E Jesus não só o elogiou como lhe trocou o nome para Pedro sobre o qual prometeu construir a sua Igreja e lhe deu o “poder das chaves”, de ligar e desligar na terra e no céu. No trecho de hoje, porém, Jesus anunciou aos discípulos que o seu fim será trágico, terá que sofrer muito, deverá ser morto, mas ressuscitará. Então, o mesmo Simão, agora Pedro, reagiu como porta-voz do grupo, mas, desta vez, para manifestar a incompreensão diante do mistério da paixão do Senhor. Como se fizesse coisa boa ele repreendeu Jesus por causa dessas suas palavras. Jesus, contudo, voltou-se para ele e o chamou de ‘satanás’ porque estava se colocando como obstáculo ao cumprimento de sua missão. Jesus, então, apresentou as suas exigências e condições para quem quiser segui-Lo. É preciso compreender a cruz de Cristo e assumir a própria cruz. “Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la”, concluiu Jesus.
A mensagem para nós é simples. Se quisermos seguir a Jesus precisamos assumir a nossa cruz do dia a dia da vida e da missão que temos que cumprir neste mundo. A leitura orante das Sagradas Escrituras nos ajudará sempre mais a compreender o mistério da vida, paixão, morte e ressurreição do Senhor e nos colocará no caminho do Reino de Deus e de sua justiça.