Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE)
Desde o início da criação, o cuidado com a vida faz parte da vocação do ser humano, atitude inerente à sua condição, porque Deus assim o quis. “E Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança. Que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos e toda a terra’. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e a submetam. Dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres que se remexem sobre a terra’. E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom. Veio o entardecer e veio o amanhecer: foi o sexto dia.” (Gn 1,26-28.31) “Javé Deus colocou o homem no jardim de Éden, para que o cultivasse e o guardasse.” (Gn 2,15) Todavia, já no início da história humana, evidenciaram-se desvios de conduta do primeiro casal e de seus descendentes, nas suas relações com Deus, com a natureza e com seus semelhantes. Cuidar da natureza é um gesto de responsabilidade individual e coletiva, cuidar do mundo, da “casa comum”, do “ambiente natural” é um ato de corresponsabilidade social e política, como ensina o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’: “Desde meados do século passado e superando muitas dificuldades, foi-se consolidando a tendência de conceber o planeta como pátria e a humanidade como povo que habita uma casa comum.” Como não poderia ser diferente, esse cuidado e essa guarda têm como o objeto preponderante o ser humano, como faz o Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, ao propor à reflexão de todos “uma parábola narrada por Jesus Cristo há dois mil anos.” O Papa contextualiza a parábola do bom samaritano: “Essa parábola recolhe uma perspectiva de séculos. Pouco depois da narração da criação do mundo e do ser humano, a Bíblia propõe o desafio das relações entre nós. Caim elimina o seu irmão Abel, e ressoa a pergunta de Deus: ‘Onde está Abel, teu irmão’?.” A resposta é a mesma que fazemos nós muitas vezes: ‘Acaso sou guarda do meu irmão?’ (Gn 4,9)”
Embora não seja um comportamento global, a consciência de pertença à humanidade tem falado à razão e ao coração de milhões de pessoas e mobilizado instituições no planeta terra, na busca de um “rumo verdadeiramente humano”. Nesse sentido, é muito eloquente essa palavra do Papa na Fratelli Tutti: “Como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor.” Por motivações diversas, impulsionadas pela vivência religiosa ou por sensibilização humana, há muitos sinais visíveis de proximidade espiritual, psicológica, social, material entre pessoas, famílias, grupos e nações, em face das “necessidades do irmão e da irmã”, em situações excepcionais e no dia a dia da vida.
O bem proporcionado às pessoas, em casos de tragédia, de calamidade, com sua linguagem solidária, curativa, é algo que o coração de quem foi assistido jamais esquece. Há, no entanto, uma outra forma, de maior alcance, de se fazer o bem às pessoas – a prevenção de males físicos e sociais. Nessa ordem de consideração, em âmbito nacional e internacional, fazem-se campanhas de alcance social com a finalidade de suscitar a participação da população na adoção de medidas que sempre fazem o bem, sempre trazem um benefício coletivo, dado o seu caráter eminentemente preventivo. Assim, no Brasil, o tema das campanhas e os meses coloridos contribuem para uma mentalização da população, de maneira didática, educativa. As estatísticas demonstram o maior ou menor grau de incidência de casos dessas doenças na população e visam, sobretudo, prevenir. Janeiro: cor branca – tema: Saúde mental/emocional. Fevereiro: cor roxa – tema: Alzheimer. Março: cor lilás – tema: Câncer do colo do útero. Abril: cor azul – tema: Autismo. Maio: cor amarela – tema: Acidentes de trânsito. Junho: cor vermelha – tema: incentivo à doação de sangue. Julho: cor amarela – tema: Hepatites virais. Agosto: cor dourada – tema: Aleitamento materno. Setembro: cor amarela – tema: Prevenção do suicídio. Outubro: cor rosa – tema: Câncer de mama. Novembro: cor azul – tema: Câncer de próstata. Dezembro: cor laranja – tema: Câncer de pele.
Ao aderir a essas campanhas, cada pessoa está cuidando de si e dos outros, está praticando uma ação abençoada por Deus. Há muito tempo, a máxima popular ensina: “Prevenir é melhor do que remediar”.