Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
A Diocese de Santa Cruz do Sul se formou, em grande parte, com a vinda dos migrantes vindos da Europa e dos escravos trazidos à força da África.
Os migrantes eram pessoas que vieram para a região em busca de melhores condições de vida, uma vez que em seus países de origem não visualizavam futuro para si e suas famílias. Foi o que se deu, principalmente, com os alemães, italianos, portugueses, poloneses e açorianos que aqui se estabeleceram. Passaram por muitas dificuldades no “novo mundo” até se adaptarem e construírem as bases para uma vida mais estável. Em alguns lugares ocorreram confrontos com as populações nativas da região, sendo que muitos indígenas foram mortos e os outros forçados a migrarem para outras áreas.
Agora, chegou a hora de abrirmos as portas para outros migrantes que estão chegando. A maioria deles tem a mesma cor de pele dos antigos escravos. Diferentemente daqueles, estes de agora chegam com as mesmas expectativas dos imigrantes vindos da Europa nos séculos 17 e 18. Muitos, a exemplo dos escravos do Brasil Império, também vêm da África, onde seus países são assolados por intermináveis guerras civis. Outros muitos estão chegando da América Central, mais especificamente do Haiti, que se viu devastado por terrível terremoto em 2010. Outros ainda, por motivações variadas, vêm dos países vizinhos da América do Sul e do Oriente Médio. A motivação para se estabelecerem entre nós é parecida com a dos imigrantes europeus de séculos anteriores: garantir um futuro melhor para si e suas famílias.
Tudo isto é importante termos presente na comemoração da Semana Nacional do Migrante, que se encerra no próximo domingo. O lema da semana – “Não ao preconceito, por direitos e participação” – é uma convocação a acolher os migrantes ajudando-os a bem se integrarem na nossa sociedade. Eles vem de outras culturas e, muitos deles, chegam sem família. Poucos conhecem a nossa língua e a maioria tem pouco estudo. Mas todos chegam dispostos a trabalhar para o seu sustento e o da sua família que, em muitos casos, permanece no país de origem. O que se espera de nós é que os acolhamos de coração aberto e desprovidos de qualquer forma de preconceito.
Saúdo, pois, com muito afeto os migrantes que estão chegando em nossas cidades. Faço votos que se sintam bem acolhidos pelo povo e pelas comunidades. Registro, com alegria, alguns belos trabalhos de acolhimento que estão sendo feitos em algumas regiões, onde paróquias e pessoas voluntárias proporcionam aulas de ensino da língua portuguesa e oferecem ajuda para o encaminhamento da documentação. É esta a atitude que se espera das comunidades cristãs e do povo brasileiro.
Que Deus abençoe os migrantes e abra o nosso coração para acolhê-los, cientes de que, conforme o evangelho de Mateus (25,31-46) “Deus nos julgará em base ao modo de como tivermos tratado os mais necessitados”.