Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru (SP)
Estas são palavras de Jesus tiradas do Evangelho da santa Missa deste quarto Domingo da Páscoa. Em todo o trecho, segundo São João – Jo 10, 11-18 – Jesus continua a discussão com o judaísmo. Na parte anterior, depois que Jesus curou um cego de nascença, Jesus criticava os pastores de Israel, farizeus, etc, chamando-os inclusive de cegos de nascença, porque não queriam vê-Lo como o Messias prometido nem acreditar nEle não obstante os tantos sinais que Ele realizava à vista deles, como a cura daquele cego. Agora, na parte lida hoje, Jesus declara categoricamente “Eu sou o bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas”. E explica que os mercenários não têm amor pelas ovelhas, as abandonam e fogem quando vem o lobo. Ele, ao contrário, como diz: “Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a minha vida por minhas ovelhas”. Ele fala que tem outras ovelhas de apriscos que não são deste que O conhecem, mas que é também seu dever pastorear e conduzir, e que elas escutarão a sua voz e formarão um só rebanho e um só pastor. Diz que o Pai o ama, porque Ele dá a sua vida para depois recebê-la novamente. Com tal convicção Ele se expressa, dizendo assim: “Ninguém tira a minha vida, Eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; essa é a ordem que recebi do meu Pai”. Termina aqui a leitura do trecho evangélico deste quarto domingo da Páscoa.
A firme declaração de Jesus está assentada na união entre o Pai e o Filho e no amor que o Pai tem para com o Filho e o Filho para com o Pai. Tendo em vista esse amor e união entre Ele e o Pai, Jesus, livremente, com soberania divina dá a sua vida como também a poderá retomar como e quando quiser.
O pressuposto cristológico da soberania divina de Jesus, ora apresentado por Ele, segundo João, a Liturgia no-lo traz como mensagem neste domingo. A ressurreição de Jesus, que celebramos neste Tempo Pascal, deve ser vista como um “retomar a vida”, uma prova de que Ele não foi uma vítima de uma trama puramente humana. Mas como pessoa divina Ele, livremente, ofereceu a sua vida para cumprir a vontade do Pai e operar a salvação da humanidade, morrendo na cruz. E também com autonomia e poder divinos a retomou, ressuscitando ao terceiro dia. Esta é a grande revelação da ressurreição: a obra divina por excelência, morrer para perdoar os pecados e dar vida, vida divina, plena e eterna. Jesus é para sempre o Bom Pastor enviado pelo Pai para dar às suas ovelhas vida em abundância.
Este quarto domingo é o Domingo do Bom Pastor. É dia da Jornada mundial de oração pelas vocações presbiterais e religiosas. O Papa Francisco enviou uma mensagem especial para este que é o 55º Dia mundial de oração pelas vocações. O Papa lembra que em outubro próximo vai realizar-se a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que estudará o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Esta é uma boa notícia que deve ressoar no 55º dia mundial de orações pelas vocações, porque “a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina… Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de ‘escutar, discernir e viver’ esta Palavra que nos chama do Alto…”, diz o Papa. Então, nesta mensagem para este 55º dia mundial de oração pelas vocações, o Papa Francisco toma a passagem de Lc 4,16-21 que conta a visita de Jesus à sua sinagoga de Nazaré com o objetivo de chamar a nossa atenção ao conteúdo da missão que Jesus recebeu do Pai e que Ele anuncia naquele momento que veio realizá-la hoje. À luz desta mensagem evangélica, o Papa propõe uma reflexão sobre estes três aspectos: “escuta, discernimento e vida”.
Escuta: A voz de Deus é silenciosa e discreta. É preciso prestar atenção aos detalhes do dia a dia e manter-se aberto às surpresas do Espírito. Jesus muitas vezes se recolhia ao silêncio dos desertos para estar com o Pai. É preciso cultivar a vida interior, buscar espaços de contemplação, reagindo ao mundo barulhento e frenético de hoje. O Reino de Deus vem sem fazer rumor nem chamar a atenção. Deus passa na brisa suave como passou ao profeta Elias.
Discernimento: Cada um de nós só pode descobrir a sua vocação através do discernimento espiritual. Isso se dá no diálogo com o Senhor e na escuta da voz do Espírito, sobretudo quando se trata de escolher o estado de vida que se pretende tomar. A vocação dos profetas faz muita falta nestes dias de situações de grande precariedade material e de crise espiritual e moral. O mundo carece de profetas que comuniquem aos outros em nome de Deus palavras de conversão, esperança e consolação.
Viver: A vocação é hoje, como Jesus havia dito na sinagoga: cumpriu-se hoje esta Escritura: O Espírito do Senhor está sobre mim e me enviou a evangelizar, a libertar, a proclamar um ano de graça do Senhor aos pobres, oprimidos, sofredores. Por isso, Deus continua a descer para salvar esta nossa humanidade e convida-nos hoje a sermos participantes dessa missão. Viver com este espírito é belo, e é uma graça grande responder ao chamado de Deus para o serviço do Reino e dos irmãos. Deus espera o nosso generoso “eis-me aqui” em resposta à sua voz. Arrremata o Papa: “Escutá-la, discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, vivê-la no que Deus nos concede”, é o que devemos fazer. Ele invoca Maria Santíssima, a jovem menina de periferia que escutou, acolheu e viveu a Palavra de Deus, para que nos guarde e sempre nos acompanhe no nosso caminho.