Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora
Estou retornando do Haiti, onde estive por uma semana, de 17 a 23 de julho, juntamente com Dom José Eudes, Bispo de Leopoldina, e cinco jovens da associação JMC (Jovens Missionários Continentais) de nossa Arquidiocese.
Visitamos, primeiramente, a Cúria Metropolitana, onde o Chanceler do Arcebispado, Monsenhor Chady, nos recebeu em nome do Arcebispo Guire Poulard, que se encontra fora do País, em tratamento de saúde. Propusemos nosso projeto missionário juiz-forano que foi muito bem acolhido pelo referido Chanceler Metropolitano, comprometendo-se a levá-lo ao Arcebispo e agradecendo nosso interesse de ajudar à Igreja daquele País.
A Cúria está localizada ao lado da Catedral atingida pelo terremoto de 2010. Tivemos a graça de visitá-la, percorrendo todo o espaço entre as ruínas. Causa dor no coração entrar naquele lugar e observar que a edificação religiosa mais bonita de todo o Caribe, segundo o que informaram, hoje está nesta situação desoladora. Porém, ao lado, algo muito emocionante nos consola e edifica: um grande crucifixo de mármore, erguido no jardim, ficou inexplicavelmente intacto no meio de centenas de prédios destruídos pela força do sismo. O fato chama tanta atenção que, desde aquele dia 12 de janeiro de 2010, data do terrível abalo sísmico, há continuamente pessoas ou grupos de pessoas que ali vão rezar, numa demonstração evidente da fé inabalável do povo que, apesar de todo sofrimento, continua cada vez mais forte e esperançoso. Pude trazer para Juiz de Fora dois pequenos pedaços dos escombros daquela Catedral, como relíquia que servirá de sinal da união de nossa Igreja Particular com a Igreja de Porto Príncipe, onde vive o povo mais sofrido das Américas.
Visitamos, em seguida, o local onde Dra. Zilda Arns faleceu, vítima desse desastre natural, quando lá se encontrava para implantar a Pastoral da Criança. Diante do espaço, está a Igreja do Sagrado Coração de Jesus em reconstrução e a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, cuja imagem também não foi destruída. Contudo, com o tremor da terra, tal imagem mudou de posição, estando, desde aquele dia, voltada justamente para o local do falecimento de Dra. Zilda. Coincidência? Certamente. Porém, uma coincidência que adquire imenso sentido para quem tem fé e que se sensibiliza com a obra extraordinária daquela médica brasileira em favor das crianças pobres. Recorde-se que a Virgem de Lourdes apareceu para uma jovem menina, Bernadete, de origem muito humilde e lhe fez importantes revelações. Lá está também a imagem da vidente, completando a cena mística daquele local que ficou, para nós brasileiros, inolvidável.
Passamos diante do Palácio do Governo, edifício este também destroçado pelo terremoto, dentro do qual se encontra grande parte do Arquivo Nacional, com muitos documentos, inclusive títulos e escrituras de propriedades. Tudo foi destruído pelo sinistro. Porto Príncipe é hoje uma cidade em reconstrução, mas a duras penas, pois se trata de um povo marcado pela pobreza e pelo sofrimento. Até mesmo o Governo encontra-se em contínua dificuldade, pois grande parte da população não tem a mínima condição de pagar impostos.
Contudo, vimos que o povo é muito bom, muito confiante, muito trabalhador e muito esperanço. As crianças são tão carinhosas que nenhuma inibição lhes impede de vir abraçar de imediato a quem lhes chega com atenção. São de uma pureza encantadora e uma espontaneidade sem par. Isto pudemos verificar em todos os lugares que visitamos, sobretudo nas inúmeras obras que a Igreja ali mantém em favor da infância.
É necessário que o mundo encontre a missão, pois esse se organiza melhor quando prevalece a fraternidade, a justiça e a paz.