Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
“Em ti está a fonte da vida e na tua luz vemos a luz” (Sl 36,10). Ao entardecer de mais um ano, queremos ver os acontecimentos e a nossa vida à luz da luz que vem de Deus. E desejamos aproveitar o comparecimento de personagens importantes de nossa história sagrada para rever o que aconteceu, tomar pé de nossa vida e projetar os passos a serem dados, para que a novidade que esperamos não venha do calendário ou de eventuais previsões, mas daquele que não se repete, pois Deus é sempre novo!
Abramos o grande painel dos acontecimentos que a Escritura apresenta na preparação imediata e no seguimento do nascimento de Jesus. Comecemos com João Batista, que acompanhou a Igreja durante o tempo do Advento. Nele encontramos o apelo à conversão, a preencher os vales de nossa carência de amor e de fé, assim como abaixar os montes de nosso orgulho. Dele aprendemos a acertar os caminhos, aplainando-os para que Jesus pudesse vir até nós. Em nossa revisão de vida, a proposta é verificar se os contínuos apelos à mudança de vida, feitos pela Palavra de Deus e pela Igreja encontraram eco em nossos corações. Podemos até dar um salto ao nosso tempo. Durante este ano, com a facilidade que os meios de comunicação oferecem, tantos foram os apelos a uma vida nova feitos pelo Papa Francisco. Estes repercutiram em nossa vida pessoal e na Igreja? Nesta luz, nasçam novos propósitos de ouvir com mais atenção o chamado a uma vida nova no ano que vai começar.
Em torno de João Batista, Isabel e Zacarias, seus pais, podem ajudar-nos a iluminar os nossos passos. Eles faziam parte daquele resto de Israel cuja esperança se mantinha acesa. Isabel trouxe nos lábios a proclamação da bem-aventurança da fé, para que não nos sintamos esmagados e complexados diante da diversidade de opiniões e pressões de nosso tempo. Ninguém se sinta menos importante por ter fé! Antes, tenhamos o santo orgulho de acreditar e testemunhar com palavras e atos a fé professada. Zacarias, por sua vez, enxergou o futuro de seu filho, vendo-o como aquele que veio para preparar os caminhos do Senhor. De tal magnífico casal podemos recolher lições preciosas, não pensando apenas naquilo que parece mais lógico do ponto de vista humano, mas abrindo-nos aos planos de Deus, para nos surpreendermos com tudo o que que vai oferecer-nos no ano que começará. A luz vem de dentro e não apenas dos acontecimentos que correm, especialmente quando nos oferecem uma compreensão pessimista dos acontecimentos.
Visitas ilustres trouxeram a luz, a partir do presépio! Os pastores dos arredores de Belém nos ensinam a correr até o lugar em que estava o Menino. Ao invés de ir atrás das novidades ou dos desastres do cotidiano, correram a Belém para conferir os acontecimentos. Com eles, buscaremos conhecer mais e melhor o acontecimento por excelência, o amor infinito de Deus, o Céu que desce à terra. E os anjos que para eles cantaram nos ensinem a dar glória a Deus, para que a paz floresça na terra! Planejemos o próximo ano com mais busca da Palavra e da Casa de Deus, pois ficar parados, apenas no cuidado de nossos afazeres cotidianos, nunca será suficiente para a realização de nossa vida. Há que mudar os nossos planos! Luz por luz, os magos correram atrás da estrela, para verem aquele que é a verdadeira luz do mundo! O plano agora é ser fiéis à própria consciência, que foi criada para buscarmos a verdade! E com eles podemos efetivamente percorrer caminhos novos, mais coerentes com a graça de Deus que nos criou.
Após o nascimento do Menino Jesus, José e Maria o levaram ao templo, cumprindo as profecias que anunciaram esta visita. Simeão, homem justo e santo, identificou no meio de tantos casais que levavam seus filhos ao lugar sagrado, a luz que chegara para todos os povos. Com ele,
podemos dizer sobre o ano que termina que nossos olhos viram a salvação. Luz que Deus preparou para todos os povos. E podemos até assumir um compromisso de dizer, todos os dias do ano que vai começar: “Meus olhos viram vossa salvação!” Quanto desânimo e tristeza podem ser superados se assim terminarmos todos os dias!
No templo, os dois encontraram também a profetiza Ana. Depois de ficar viúva, aos oitenta e quatro anos, não saía dali e pôs-se a louvar a Deus e falar do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. A lição é a do louvor, com o qual deve começar nossa oração, elogiando o Senhor por aquilo que ele é, antes mesmo de dar ação de graças pelo que faz por nós! Com aquela mulher, podemos olhar para o ano que termina e louvar ao Senhor, enxergando o bem que foi feito e o bem que as pessoas nos fizeram. Olhando ao nosso redor, certamente aconteceram mais coisas boas do que ruins! Basta abrir os olhos, para ver a luz com a luz de Deus! E o próximo ano seja mais cheio de agradecimentos do que de lamentações!
O grande painel do nascimento de Jesus nos faz olhar para José e Maria. O Papa nos fez viver um ano dedicado a São José, homem do qual não se sabe uma palavra! No entanto, fez sempre o que Deus lhe mostrava. Perguntar e suplicar as luzes do alto será um caminho mais seguro do que apenas o fruto de nosso egoísmo, que nos leva a quebrar a cabeça! Menos conversa, menos fofocas, mais ações determinadas pela vontade de Deus, identificada com a luz de sua Palavra!
E chegamos à Mãe de Deus e nossa Mãe, Maria do Magnificat, cuja maternidade celebramos no primeiro dia do ano, aquela que conservava no coração todos os acontecimentos e meditava sobre eles. Olhar para o ano que termina identificando tudo o que Deus realizou. Tomar um tempo nestes dias para meditar e até fazer uma lista das maravilhas de Deus, no meio de tantos desafios que nos foram apresentados pela vida! E a fecundidade de nossos dias no próximo ano seja fruto da fidelidade absoluta à Palavra de Deus, manifeste-se na presteza com a qual desejamos servir o próximo e nos faça ter olhos e corações abertos para todas as inspirações que são e serão oferecidas.
E o nosso olhar se volta para o centro de todos os acontecimentos, Jesus Cristo, verdadeira luz que veio a este mundo. Vejamos o ano que termina à sua luz. Com ele, nossa história não é apenas uma sucessão de acontecimentos, menos ainda obra do acaso, mas se torna história de salvação. Contemplemos Jesus e seu amor. Sendo igual a Deus, não se apegou a esta igualdade, mas se humilhou, tornando-se servo até à morte, e morte de Cruz. Sendo Deus, viveu todas as realidades humanas, menos o pecado, indo ao encontro de todas as pessoas, de modo que ninguém passou em vão ao seu lado. Deixou-nos seu mandamento do amor, com o qual o mundo vem a ser transformado. Seu sacrifício, único e perfeito, renova-se a cada dia, na celebração da Santa Missa, para que bebamos na fonte pura a salvação e todas as graças. Ele está no meio de nós, e cada tabernáculo existente pelo mundo afora resplandece como luz que atrai, para consumir-nos na chama de amor que vem dele, que veio para espalhar fogo sobre a terra.
A medida para avaliarmos o ano que termina seja Jesus Cristo, o primeiro e o último, o Senhor da história humana. Cada ano, na Vigília Pascal, ao acender o Círio Pascal, lembramos que ele é o centro de tudo. Olhar para ele, nele encontrar as respostas aos grandes questionamentos do mundo, reavivar a esperança. Ao terminar o ano em curso, readquirir um olhar positivo e redentor diante de tudo o que nos aconteceu e planejar o próximo ano como um ano para dizer sim a Deus, um ano de Maria, um ano para caminharmos juntos. Em Jesus, encontrar o amor misericordioso que nos toca pessoalmente e se estende, também com o nosso testemunho, a muitas outras pessoas. A ele a glória e o poder, pelos séculos dos séculos. Amém!