Diante de tantos desejos para realizar, principalmente ao iniciar um novo ano, a tentação maior é comparar-se com os outros. Essa tendência é comum em muita gente que não acredita em si e em suas capacidades. Por isso, é bom lembrar uma frase de um antigo monge do deserto, Abade Poimen que dizia: “Em qualquer lugar em que você estiver não se compare com os outros, e encontrarás a paz”. Enquanto não tomar posse de mim mesmo e das minhas capacidades levarei sempre comigo a sensação de que os outros são melhores em tudo. Acreditar e fazer, mesmo errando, é melhor do que acertar sem tomar iniciativa.
Assim escreve o grande Monge alemão Aselm Grun em seu livro “Arte de viver” : “Comparo-me com os outros: A aparência deles é melhor? São mais inteligentes do que eu? Ganham mais dinheiro do que eu? Recebem mais atenção do que eu? São mais espirituais do que eu? Enquanto eu me comparo com os outros, não terei paz. Ou eu me desvalorizo e valorizo os outros, ou faço o contrário. De qualquer forma, nunca estou na minha, sempre na dos outros”. Penso que esse é um segredo que faz qualquer um feliz e com uma auto- estima alta capaz de viver em paz e transmitir a paz aos outros, no lugar de querer ser como os outros. Somos chamados pela Palavra de Deus a amar o próximo como a nós mesmos, transmitindo vida e satisfação em viver. Cada um é irrepetível.
Quando conseguimos não mais nos compararmos com os outros, o Monge alemão afirma: Ä renuncia a comparar–se vai conduzir-me ao agradecimento por tudo o que Deus me deu e me oferece a cada instante. Em vez de olhar para os outros, olho para mim mesmo, como eu sou. Estou na minha. Estou simplesmente aqui. Esta é a condição para encontrar a paz. Paz significa simplesmente: estar aí, repousar, estar em harmonia consigo, aproveitar o tempo presente em paz”. Essa paz penso eu que não tem nada a ver com apatia, morbosidade, comodismo, falta de iniciativa. Penso que essa paz é a tranqüilidade de espírito em dar de si mesmo para o bem dos outros, acreditando em si mesmo, pois a felicidade em última análise depende de nós mesmos. Somos felizes na medida que transmitimos felicidade aos outros.
O caminho para viver em paz consigo e com os outros, ser feliz, pessoa realizada, é estar bem, é ser bom consigo mesmo. Sou o que sou pela graça de Deus e quero “dar de graça o que recebi de graça”. Na dinâmica da vida é preciso prestar atenção ao que é realmente importante. Deixar de lado a corrida frenética das atividades que a cada momento pedem para correr mais. Deixar de lado a preocupação com as coisas que nunca satisfarão os nossos desejos. Deixar que as coisas vão amadurecendo no seu próprio ritmo. Fazer tudo o que pode trazer beneficio para a alma e para o corpo. Deixar de lado o julgamento pessoal e do outro. Ser agente de transformação colaborando ativamente para que o caos se transforme em ordem, a escuridão em luz, os descartados e oprimidos em imagem iluminada de Deus.
Não comparar, não julgar e não condenar é o caminho da paz e da harmonia do coração e da convivência social. Estar bem consigo mesmo, com os outros e com Deus é o que mais desejamos neste caminho que nos leva para a verdadeira vida.