Não faça da graça uma desgraça

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas

No domingo passado, participando de um encontro online com um grupo de jovens de Brasília, capital do país, num dado momento, no contexto da momentânea reflexão, uma jovem afirmou: “Não faça da graça uma desgraça”. Logo me veio a questão: “Quais são as principais graças que podem tornar-se desgraças?” Essa pergunta pertinente ficou martelando a minha consciência. Ensaio aqui uma primeira resposta.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da , uma virtude teologal (vem de Deus). Basta ver tantas pessoas sem rumo certo: ora vão para cá e ora vão para lá! Só a graça da fé que leva ao caminho certo, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da esperança, outra virtude teologal. É só ver tantas pessoas sem uma verdade segura: ora se agarrando numa mentira e ora noutra. Só a graça da esperança que leva a verdade segura, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça do amor, a maior virtude teologal. É doloroso ver tantas pessoas sem vida plena: ora inclinando seu coração para paixões desregradas, ora trocando-as para outras. Só a graça do amor que leva à vida plena, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da verdade, uma virtude evangélica (vem do Evangelho). Basta ver tantas pessoas agarradas em constantes mentiras ilusórias e enganadoras. Só a graça da verdade que leva a uma identidade correta, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da justiça, outra virtude evangélica. É só ver tantas pessoas praticando injustiça tanto pessoal, familiar e social. Só a graça da justiça que leva à uma integridade segura, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da paz, mais uma virtude evangélica. É doloroso ver tantas pessoas enterradas em conflitos consigo mesmo, com os outros e com toda a criação. Só a graça da paz que leva a uma plenitude feliz, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da gratuidade, uma virtude pessoal (é da pessoa). Basta ver tantas pessoas vivendo por interesses egoístas e mesquinhos. Só a graça da gratuidade que leva a pessoa ser “imagem (ser igual) de Deus”, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da alteridade, outra virtude pessoal. É só ver tantas pessoas girando em torno do seu ego e não enxergando os outros. Só a graça da alteridade que leva a ser “semelhança (agir igual) de Deus”, nunca será uma desgraça.

É uma desgraça não acolher e viver a graça da vida, a maior graça pessoal. É doloroso ver tantas pessoas perdendo a sua vida em coisas tão fúteis, passageiras e mortais. Só a graça da vida que leva a ser “transparência (espelhar igual) de Deus”, nunca será uma desgraça.

Obrigado, querida jovem, que me fez ver que é necessário “não fazer da graça uma desgraça”.

 

 

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