“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”! ( Jo 1,14) Esta é a compreensão mais completa do sentido autêntico do Natal do Senhor. São João, no prólogo do seu Evangelho, constrói o ápice da afirmação da verdade central da fé cristã. Um mistério inesgotável de amor. O infinito do amor de Deus é manifestado no coração do mundo. “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1,18).
Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, só Ele viu o Pai e o pode revelar porque “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,1-5). Natal, por tudo isso, é nobreza de Deus¬ – na encarnação do Verbo, o Filho de Deus, a razão única e insubstituível desta celebração. Natal é a celebração que reaviva no coração humano e para o mundo a magnificência da nobreza de Deus que vem ao nosso encontro. Vem ao nosso encontro porque só com Ele, por Ele e n’Ele daremos conta de viver e conduzir a vida na direção certa.
Natal, nobreza de Deus, é festa acima de tudo para experimentar e reavivar no coração o sentido e a incidência mais profunda do amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Natal é o despertar da consciência do dom do encontro com Jesus Cristo que vem até nós. O sentido de confraternização que configura as vivências do tempo do Natal tem sua raiz duradoura e inesgotável na experiência do dom do encontro com Ele, o Salvador do mundo. O ser cristão começa e se mantém por esta experiência de encontro com a pessoa de Cristo que vem para dar novo horizonte à vida e garantir uma orientação decisiva.
Este encontro, Natal, o Senhor que vem, supera qualquer grande ideia. O olhar do coração, fecundando a fé, há de ser fixado n’Ele, Cristo. O presépio, inspiração amorosa e inteligente de Francisco de Assis, retrata a singeleza, a nobreza e a proximidade de Deus. O mistério do amor de Deus derramado no coração da humanidade pela encarnação do verbo. É a nobreza de Deus afetando e sensibilizando o caminho da humanidade, indicando que cada coração se torne a manjedoura verdadeira. O lugar de Deus, para se tornar coração da paz, garantia de um tempo novo. O Natal só pode ser feliz e abençoado na medida em que o coração e a inteligência conseguem compreender e degustar este seu único e insubstituível sentido.
A significação de Feliz Natal, expressa no estereótipo dos votos, se concretiza como alegria. Esta alegria do Natal é experimentada, afirmam os bispos no documento de Aparecida, n. 29, “não como sentimento de bem-estar egoísta, mas como uma certeza que brota da fé que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.
Lembrança oportuna é a afirmação do Papa Bento XVI, tônica de suas catequeses, quando diz que “se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, não havendo caminho, não há vida nem verdade”. O Natal é tempo de deixar-se banhar e ser ungido pela nobreza de Deus experimentando a alegria renovada deste encontro. Deus, em Cristo Jesus, vem ao encontro de todos e de cada um. Este gesto nobre seja correspondido com a nobreza da ida ao encontro dele. O antigo costume do tempo do Natal, a visitação dos presépios, de casa em casa, lembrança saudosa das cidades pequenas, proporciona uma fecundidade singular e pedagógica na compreensão da grandeza deste gesto nobre.
É tempo de corrigir os estrabismos do olhar do coração e fixar sempre de novo em Cristo o olhar da fé para conquistar a experiência de um Natal feliz. Nada e ninguém outro pode substituir aquele que é a razão da festa. Particularmente as crianças não podem deixar de aprender a nobreza de Deus que dá sentido e alegrias ao Natal. Na riqueza dos ensinamentos seculares da Igreja, lembranças de Santo Agostinho dizendo: “Desperta, ‘o homem: por tua causa Deus se fez homem. Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te”.
Faz-nos um grande convite: “Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve”. Feliz Natal, encharcado por esta nobreza de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte